Amelia
-Amelia!!
Apenas ouço uma voz aguda, feliz e contente a exclamar o meu nome. Assim que abro os olhos do meu sono triste e enfadonho, observo uma figura feminina, pequenina e muito cor-de-rosa. Sim, havia muito cor-de-rosa naquela névoa que ia ficando cada vez mais percetível ao meu olhar. Era Sidney e, de repente, esqueço tudo o que me deixa mais em baixo e apenas fico feliz por ela estar ali ao pé de mim.
-Sidney! Princesa! Como estás? – perguntei, pegando-a ao colo, com alguma dificuldade, fazendo com que se sentasse na borda da cama.
-Estou bem! Estou ótima! O meu papá fez-me ficar melhor.
-A sério? Que bom, querida – fiquei aliviada quando ela me dissera que estava melhor – estás tão crescida! – e estava mesmo! O seu cabelo loiro já crescera um pouco, a cor pálida da sua cara desaparecera o que fazia o azul dos seus grandes olhos sobressair. Vestia um bonito vestido cor-de-rosa simples até ao joelho. Parecia mesmo uma princesinha.
-Agora és tu que estás doente – disse ela com um ar tristonho.
-Não te preocupes, já me sinto bem melhor – respondi, com um sorriso.
-Então achas que sempre podemos ver aqueles filmes de princesas que me prometeste?
-Claro que sim!
-Boa! Amanhã volto para vermos – respondeu ela, contente, saindo do quarto.
Recostei-me na cama, sobre a minha almofada. Estava farta de ali estar, só queria saber quando poderia ir para casa e dados estes meus pensamentos, tomo uma decisão. Levanto-me, pela primeira vez, em dois anos, daquela cama e coloco os pés no chão, mas não foi lá muito boa ideia, pois a força dos meus membros inferiores falha-me e vou cambaleando até à porta. De repente, a mesma abre-se e caio contra alguém. Esse alguém era Charlie, ele segurou-me, impedindo-me de cair. Nem eu própria tinha noção de estar assim tão fraca.
-Onde pensas que vais? – ele perguntou, ajudando-me a regressar à cama.
-Viver? Recuperar o tempo perdido – disse, com dúvidas no meu discuro.
-Tens tempo, mas primeiro tens que recuperar.
-Ficando aqui presa? Deitada todo o dia? Tens razão, é uma grande terapia – disse, sendo irónica – eu mal me aguento em pé!
-Tens toda a razão, por isso é que achei que um passeio lá fora te fosse fazer bem. E para além disso, temos muita conversa que pôr em dia – afirmou sentando-se na beira da cama.
-Sobre o que me aconteceu?
-Exatamente – respondeu, com uma expressão séria.
Charlie ajudou-me a levantar da cama e, sempre apoiada nele, dirigimo-nos à zona exterior dos laboratórios, mas antes de lá chegarmos Charlie arranjou-me uma bengala que me pudesse ajudar no andar e um casaco para me proteger das aragens mais frias.
-Então, já me vais dizer o que aconteceu?
-Mereces saber. Então, naquela noite encontrei-te desmaiada e levei-te para os laboratórios o mais rápido que pude. Pedi ajuda ao Jackson, quando cheguei lá contigo, mas nenhum de nós fazia a mínima ideia do que tinhas, então realizámos uma cirurgia para descobrir.
Flashback On
Charlie
Corri o máximo que pude até ao meu laboratório e comecei a analisar as células da Amelia. Fiz uma preparação e não pude acreditar no que vi. As células dela apresentavam uma espécie de metal, haviam pedaços minúsculos em todo o lado! Afinal, a origem do problema não é natural.
Voltei para a sala cirúrgica, onde estava Jackson, a cuidar de Amelia.
-Foste rápido! – diz ele, com felicidade – descobriste?
-Sim, e não é nada do que esperava. O impulso tem origem material, tecnológica, não pertence ao organismo dela.
-O quê? Como é que é possível?
-Provavelmente ela saberá.
-Bem, quando ela acordar penso que iremos descobrir, mas agora tenho que eliminar essa coisa, que nem sei bem o que é – disse, apreensivo.
Jackson prosseguiu com os procedimentos cirúrgicos, enquanto eu me retirei e esperei, sentado no corredor ao pé da sala onde estávamos.
Flashback off
Amelia
-A questão é que… encontrámos uma espécie de chip dentro de ti. Um mini dispositivo tecnológico capaz de…
-Eu sei o que é – disse, continuando a andar para a zona exterior dos labotatorios.
-Sabes? Que alívio, nós tinhamos medo que pudesses não saber, que alguém te tinha feito mal… - mais uma vez fui interrompido.
-O que quero dizer é que sei a definição de chip, um mini dispositivo tecnológico. Agora se me estás a perguntar se eu sei o que fazia dentro da minha pessoa, a resposta é não, não faço a mínima ideia, não sei quem me fez isso, o que me estás a dizer é uma novidade para mim. Mas após dois anos! Ainda não descobriram, não estudaram?
-Então não sabes – afirmou, confuso – estudámos e aí é que as coisas ficam estranhas! Apesar de partido, eu e o Jackson conseguimos investigar juntamente com a tua colega que acabou o curso e acabou por vir trabalhar connosco. Quando soube o que te tinha acontecido não te largou, passou os dias inteiros nos laboratórios a ajudar-nos.
-A Felícia?! Tenho tantas saudades dela, onde está ela? Não a vi lá dentro.
-Ela teve que se ausentar durante a última semana, foi visitar uma tia dela, que não está la muito bem de saúde.
-A tia Emília? Oh, adoro essa tia – exclamei, triste.
-É provável ser essa sim – respondeu, encolhendo os ombros – mas a questão é que nós encontrámos informação no teu chip. Claro que grande parte ficou destruída, o chip estava muito danificado, mas conseguimos recuperar informação importante. Muito importante!
-Como assim? – questionei.
-Pedimos ao nosso informático que nos descodificasse os dados e ele achou um ficheiro com a cura para o cancro. Estava mesmo ali, tudo explicado, cada procedimento, tudo!
-É por isso que a Sidney está melhor – exclamei.
-Sim, já começamos a implementar tratamentos em todos os hospitais.
-Isso é ótimo! Mas com que objetivo eu tinha essa coisa dentro de mim? E quem pôs lá?
-É isso que temos tentado descobrir, mas ainda não conseguimos. Quando melhorares, contamos com a tua ajuda aqui nos laboratórios.
-Mal acabei a faculdade, perdi dois anos da minha vida, tenho que me organizar antes de decidir algo sobre o que quero fazer.
-Podes continuar os estudos e fazer turnos aqui nos laboratórios, se quiseres é claro – sugeriu Charlie.
-É uma boa sugestão, obrigada Charlie -agradeci com um sorriso.
Regressei ao meu quarto e comecei a pensar naquilo tudo. Poderia ter ficado magoada a sério e para toda a vida! Quem poderá ter feito isto?
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Com Amor, Amelia
Science Fiction"Era como uma prisão quando estava sozinha, presa no meu próprio corpo. Mas quando a sua voz se fazia ouvir, eu consegui, finalmente, dormir. E ao descansar, aproximava-me cada vez mais do grande momento, o momento em que acordei."