“Querido diário…
Hoje, finalmente vou sair daqui, dos laboratórios. Vou para casa, tenho tantas saudades, apesar de haver este lugar super clean super white, que por acaso nem detesto porque já passei bons momentos aqui, como por exemplo, ontem! Ontem, a Sidney veio ver filmes comigo! Todo o dia! Filmes de princesas, obviamente. Foi muito bom, escurecemos o quarto de modo a parecer uma sala de cinema e quando o fizemos… bem, foi a melhor surpresa! Um céu estrelado deu-se a descobrir. Pelos vistos, no dia anterior Charlie cobriu as paredes do meu quarto com estrelas que brilham no escuro. Ele tem me apoiado imenso durante estes últimos tempos...
Outra boa notícia é que a Felicia voltou, e Clarisse tem-me vindo visitar sempre que pode. Clarisse é uma colega que divide um apartamento comigo, ela é uma querida e também me tem apoiado muito.
Quanto à proposta do Charlie, tenho pensado muito nestes últimos tempos e quero descobrir quem está por detrás de tudo isto que me aconteceu. Por isso decidi aceitá-la, não perco nada e posso consiliar com os estudos. Para além do mais sinto que vou aprender muito aqui.”
Guardei o meu diário na minha mala e de seguida ouço a porta do quarto a abrir. Era Jackson, eu nunca havia falado com ele, apenas sei que foi o homem que me salvou a vida, juntamente com Charlie.
-Bom dia – Jackson diz ao entrar.
-Bom dia – respondo, nervosa! Quer dizer, ele é o cientista mais prestigiado do mundo e é tipo o meu maior ídolo!
-Ouvi dizer que aceitaste vir trabalhar connosco.
-Bem, eu quero descobrir o que vem a ser esta história toda e visto que há algum mistério à volta dela, decidi aceitar.
-Vai ser uma honra trabalhar contigo – diz, com um sorriso.
-Honra? Honra a minha, é um sonho meu trabalhar consigo desde que me lembro e… já agora, aproveito para agradecer a ajuda que me deu, afinal salvou-me a vida.
-É o nosso trabalho, e eu agradeço-te também, no fundo é graças a ti que pude salvar a minha pequena Sidney.
-É verdade, ainda bem que ela está melhor. É surreal isto!
-Bem, espero que brevemente te veja a trabalhar connosco, quando te sentires o mais confortável podes começar aqui. Posso disponibilizar-te alguns turnos, os que te derem mais jeito claro de acordo com o horário escolar.
-Ainda me vou organizar em casa e preciso de me informar na escola para reabrirem a minha candidatura, mas sim brevemente estarei cá! O mais depressa possível, espero eu.
Jackson saiu do quarto e, subitamente, começo a ouvir uma voz a chamar por mim. Sinto-a longe e está a pedir ajuda. Tento seguir esta voz, saio do quarto e ando por uns corredores até que chego a uma zona de laboratórios. Consigo ver cientistas a trabalhar, entre os mesmos estão Charlie e Felicia, mas eles não reparam em mim, estão muito concentrados naquilo que fazem. Continuo a seguir a voz, cada vez mais forte na minha cabeça, começo a duvidar de mim mesma, mais ninguém parece ouvi-la, deve ser tudo da minha cabeça. Tenho medo de estar a enlouquecer, tanto tempo em coma poderia deixar sequelas. Dirijo-me a um elevador e carrego num botão que fará com que o elevador me leve até ao último andar daqueles estabelecimentos. Chegando lá, apenas me deparo com corredores vazios, algumas luzes piscavam dando àquele ambiente uma certa frieza. Arrepiei-me, não de frio, mas sim de medo. A voz ficava cada vez mais forte à medida que eu avançava no corredor principal daquele sítio escuro. A minha razão dizia-me para eu me ir embora, para não estar ali, mas o meu instinto e o meu subconsciente apenas me faziam avançar mais e mais até chegar ao que se parecia ser com um laboratório. Estava tudo destruído, vidros pelo chão , equipamentos de trabalho partidos e estragados, parecia ter passado um furacão por ali. Numa zona deste laboratório avisto uma porta e mais uma vez, sem eu própria querer, dirijo-me até ela e então já com a mão na maçaneta ouço a voz novamente que me pede que abra a porta. Neste momento só sinto medo, mas ainda assim o meu corpo não obedece aos meus comandos de sair dali, daquele sítio. Abro a porta e deparo-me com uma pequena divisão, idêntica às dispensas que temos em casa, completamente isolada por paredes espessas, não deixando visão para as pessoas de fora. Observo livros caídos e mais algum equipamento científico e então, uma caixa, que penso que estivesse guardada em alguma prateleira acima de mim, caiu quase me atingindo. Abro a caixa, novamente a mando do meu instinto, e deparo-me com um diário, idêntico ao meu. Idêntico não, igual! Já não ouço a voz…

VOCÊ ESTÁ LENDO
Com Amor, Amelia
Science Fiction"Era como uma prisão quando estava sozinha, presa no meu próprio corpo. Mas quando a sua voz se fazia ouvir, eu consegui, finalmente, dormir. E ao descansar, aproximava-me cada vez mais do grande momento, o momento em que acordei."