18 Setembro 2050

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"Apenas ouço o choro fininho e agudo daquele ser que acabo de receber nos meus braços. Olho para ela e, instantâneamente, apaixono-me pela sua pele clara, os seus olhinhos enormes ainda fechados. Levei-a comigo, enrolada num pequeno cobertor azul claro, até ao meu dormitório. Cada cientista, agora, tem o dever de cuidar dos seus Ifigénios. O meu dormitório já tinha sido preparado para a chegada de um bebé.

Nas próximas semanas todos seremos pais a tempo inteiro. Sim, semanas. Nem tudo é bom. Não vou poder estar tanto tempo quanto eu queria com a minha Ifigénio, visto que dentro de dois dias lhes vamos dar um elixir que irá acelerar o seu crescimento. Este elixir tem vindo a ser desenvolvido, desde o início das experiências com Ifigénios. Achou-se necessária a sua produção, visto que a cúpula não irá durar muitos mais anos, tendo assim um prazo, tal como a minha vida e as dos outros cientistas. O elixir irá fazer com que os Ifigénios cresçam até a uma faixa etária de 8 a 10 anos de vida, durante duas semanas. Nunca presenciei algo assim, e o elixir nunca fora testado, o que me deixa nervosa… não quero que nada de mal aconteça à minha Ifigénio.

Durante o dia de hoje li e reli o guia de “como tratar de um Ifigénio", todos os dormitórios têm um. Mas, na minha opinião, o título deveria ser “como ser mãe/pai”. Só neste dia, tive que ter milhares de cuidados com ela, pelo menos fiz tudo como dizia no guia. Tive cuidado durante o banho, depois do banho, ter tudo limpo e desinfetado, dar-lhe leite de hora a hora, entre muitos outros cuidados que mães sabem que se devem ter com os bebés.

Por volta das dez da noite, temos uma ronda de um grupo de enfermeiros que irá passar pelos dormitórios e verificar se tudo está a correr bem com os Ifigénios, ver se estamos a ter dificuldade em ser pais. Sinto-me insultada! Acho que posso dizer que sou uma ótima mãe, vendo-a a dormir descansada, no seu berço. Também me sinto cansada, acho que é isto que significa ser mãe. Apesar de tudo, a enfermeira da ronda ficará com a Ifigénio por uma hora, hora essa que irei aproveitar para descansar.

Quando a enfermeira chegara tivemos uma breve conversa, perguntou-me o nome da Ifigénio. Nome? Nem sequer tinha pensado nisso… mas agora que penso, acho melhor nem lhe atribuir um, já que mais tarde ou mais cedo irei ter que me separar dela e dar-lhe um nome so significaria uma maior atração, um amor maior, agora que é nomeado. Não! Não irei dar-lhe um nome.

Fui dar uma volta pelos campos, num dos limites da cúpula, como costumo fazer. Sentei-me e olhei para a lua, que se encontrava cheia, mas com um tom resultante da fúria do planeta Terra. Inspirei, suspirei, e deixei uma lágrima cair, calmamente, pelo meu rosto. Até que ouço uma voz, uma voz que me faz limpar, rapidamente, a lágrima e levantar-me num ápice.

-Está tudo bem? – o homem desconhecido questiona.

-Sim, sim, estava apenas a pensar, refletir sobre a vida – respondi – nunca o vi por aqui.

-Eu também nunca a vi por aqui, eu sou do setor Norte, no outro limite da cúpula.

-Ah, pois eu sou aqui do setor Sul. Se calhar, por isso os nossos caminhos nunca se cruzaram – respondi, com um leve sorriso – mas então o que traz por aqui? – perguntei ao homem alto com o cabelo ruivo e certos cabelos brancos já visíveis que dando-lhe um toque charmoso que me encantou no instante em que o vi pela primeira vez.

-Pele mesmo motivo que a senhora está aqui também, pensar na vida… hoje é o primeiro dia com eles.

-É… está a safar-se?

-Eu dou um ótimo pai, sem dúvidas – soltou uma leve gargalhada.

-Eu também acho que dou uma ótima mãe – entrei na brincadeira.

-É difícil para caraças!

-Pode crer que é – abaixei a cabeça, rindo-me.

-Ainda não me disse o seu nome – o homem quebrara o silêncio que se havia imposto entre nós, durante uns segundos.

-Amelia, é um prazer - estendi-lhe a mão – e o senhor?

-Charlie, o prazer é todo meu – retribuiu o meu cumprimento, com um sorriso.

E foi assim o meu dia… escrevo agora, a pensar em ti."

Com Amor, AmeliaOnde histórias criam vida. Descubra agora