XI

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Amelia

Depois de ler a primeira entrada do diário, juntamente com Charlie, comecei a perguntar-me a mim mesma do que se tratava tudo aquilo que lera. Porque é que um diário de alguém desconhecido me apareceu como por magia? E a magia nem sequer existe!

-Teorias? - perguntei, olhando para Charlie.

-Aposto que tudo o que estamos a viver agora é uma mentira total, alguém nos fez uma lavagem cerebral, não temos pais, fomos fecundados numa máquina super gira e viemos para este planeta - respondeu, com um ar divertido.

-Estás a querer dizer que os Ifigénios somos nós? - perguntei incrédula.

-Pediste uma teoria.

-Eu acho que prefiro acreditar na possibilidade de eu não ser um clone - ri-me, enquanto pensava na conversa absolutamente impossível que estávamos a ter - e também está na hora de eu ir para o vale dos lençóis ter uma boa noite de sono - referi, olhando para o relógio dos laboratórios, que marcava meia noite e meia.

-Sim é melhor, não queremos que chegues atrasada ao teu primeiro dia.

-Eu nunca me atraso - disse, pegando no diário.

-Amanhã trá-lo, temos que mostrar isso ao Jackson.

-Queres contar-lhe? - perguntei.

-Claro que sim, precisamos de tudo aquilo que nos ajude a perceber o que tinhas e algo me diz que esse diário e o teu acidente estão relacionados.

-Está bem, então. Amanhã cá estarei para o meu primeiro dia de trabalho.

Despedimo-nos com um "até amanhã" e saí das instalações, dirigindo-me para casa.

-Amelia! - olho para trás e reparo em Charlie - se calhar é melhor eu acompanhar-te a casa.

- Não é necessario, a sério.

- Não, eu faço questão, fica de caminho para a minha casa, não há problema.

-Tu não sabes onde eu moro - constatei o que eu pensava ser um facto - ou então sabes!

-Tive que me informar quando estavas em modo "bela adormecida".

-A minha princesa favorita é a Ariel, mas a Aurora também serve - disse, soltando uma leve risada, enquanto nos afastávamos cada vez mais dos laboratórios.

-Aposto que tiveste tempo de ver todos os filmes de princesas com a Sidney.

-Oh sim, foi o melhor programa que tive em tempos.

-Essa doeu - Charlie reclamou, em tom de brincadeira.

-Desculpa, não que eu não goste de estar contigo, mas adoro crianças e posso dizer com toda a certeza do universo e dos planetas ainda não descobertos, que a Sidney é muito divertida, muito querida, muito fofinha, tudo muito mais que tu - disse, entrando na brincadeira.

- Não acredito que me estás a comparar com uma criança! Obviamente que ela é mais fofinha que eu, só é preciso olhar para aquelas bochechas!

-E aqueles olhos enormes - completei.

-Ela realmente é uma menina doce.

-Muito doce - corrigi, sorrindo, enquanto chegávamos perto da porta da minha casa.

-Parece que chegámos.

-Sim... - respondi, encostando-me à porta de entrada.

-Então até amanhã.

-Até amanhã - respondi, enquanto entrava, rodando a chave na fechadura, mas parei e, mais uma vez deixei-me levar pelo instinto. Fui até Charlie e dei-lhe um abraço que durou longos segundos, mas que soube tão bem. Não olhei para ele, apenas fiquei ali, agarrada a ele, enquanto me retribuía o abraço. Soltei-me e voltei para o pé da porta, olhando-o enquanto entrava. A sua expressão transmitia serenidade, enquanto eu estava com o coração acelerado e super nervosa.

Quando cheguei à sala, reparei que Clarisse estava acordada, sentada no sofá, com uma caneca nas mãos.

-Hey - disse, enquanto entrava devagar.

-Olá Amelia, tudo bem? - ela perguntou.

-Claro! Ainda estás acordada?

-Sim, não conseguia adormecer, decidi beber um chá.

-Fizeste bem! Vou-me deitar, até amanhã!

-Até amanhã! De certeza que te sentes bem? - ela voltou a perguntar.

-Sim, estou bem - respondi com um sorriso.

-Ainda bem!

Entrei no quarto e pensei no quão agradecida estava por Clarisse me ter apoiado e ter estado sempre comigo, enquanto estive em coma. Ela é como uma irmã para mim.


Com Amor, AmeliaOnde histórias criam vida. Descubra agora