Clarisse
Decidi beber um café no bar. Mais uma vez, vim visitar Amelia, todos os dias o faço desde há um mês e todos os dias me encontro com Charlie. Sinto que ela está a ser muito bem tratada aqui, os médicos são excelentes e já se pode ver a ala médica a crescer e a ser desenvolvida, principalmente com todas as pessoas que estão a fazer o tratamento que cura o cancro. Finalmente a encontraram, aqui nos laboratórios, e vê-se a alegria imposta sobre todo o mundo.
Dirigi-me novamente ao quarto de Amelia e encontrei Charlie segurando a sua mão, o que fez crescer um leve desconforto em mim. Bati levemente com a porta do quarto o que o fez voltar-se para mim, largando, suavemente, a mão de Amelia.
-Já voltaste! – ele diz, sorrindo, levemente.
-Sim, fui só beber um café – respondi, andando em direção à cama.
-Pareces cansada, vai para casa ela fica bem.
-Não, eu fico – insisti.
-Clarisse, a sério, passas aqui as tardes todas, tens escola de manhã, vai descansar. Dorme uma sesta. Ela fica bem. Qualquer coisa nós ligamos-te logo!
Ainda hesitei um pouco, mas concluí que se calhar o melhor mesmo era ir para casa, ainda tinha alguns trabalhos para adiantar e aproveitava para descansar. Sim, é o melhor.
-Pronto, eu vou – cedi.
-Ótimo!
Despedi-me de Amelia, dando-lhe um beijo na testa, e de Charlie, com um cumprimento.
Cheguei a casa e arranjei uma sandes para ir comendo à medida que avançava no trabalho. Passada meia hora já não aguentava com um ardor nos olhos de estar à frente do computador, devido ao cansaço, obviamente. Decidi deitar-me um pouco na cama e fechar um pouco os olhos, mas não consegui adormecer, o que fez com que a minha cabeça se enchesse de pensamentos. A Amelia, o Charlie, a escola, tudo… Espera, o Charlie? E se eu o convidasse para irmos jantar? Espera, o quê? Não… Quer dizer, até podia ser bom, ele podia falar-me se já encontraram algo sobre o chip que causou o coma da Amelia.
De repente, o meu corpo age automaticamente, e pego no telemóvel. Mas paro. Não sei se ele vai aceitar. E como é que pergunto? Ele pode achar que estou a arranjar uma desculpa para estar com ele. Na verdade estou, quer dizer, não estou, mas junta-se o útil ao agradável. Vou ligar!
E ligo… procuro pelo número dele nos meus contactos, que ele havia me dado caso acontecesse algo com Amelia. Apenas ouço o bip da chamada, que mais parece o meu coração a saltar diversas batidas. A espera é agoniante, nem sei porque me sinto assim.
Esperei e esperei, mas ele não atendeu. Provavelmente está ocupado, tento mais tarde.
Passados diversos minutos, o meu telemóvel começa a tocar e, num pulo, levanto-me da cama e atendo.
-Estou, Charlie!
-Hey Clarisse, ligaste. Desculpa não ter atendido, estava acabar o meu turno.
- Não faz mal. Eu liguei-te porque pensei que pudéssemos conversar sobre a Amelia. Tu disseste-me o motivo de ela estar em coma, mas a partir daí não sei de nada. Achas que me podias manter a par das coisas? Talvez num jantar ou assim, se quiseres claro. É que quero muito saber se descobriram algo sobre o assunto ou algo que a possa ajudar.
-Clarisse é algo confidencial...
-Eu sei, mas sou praticamente a única família dela… eu preciso de saber – insisti. Agora sinto e sei mesmo que esta é apenas uma desculpa para poder estar com ele.
-Tudo bem. Hoje às oito? Passo aí para te apanhar, dá-te jeito?
-Claro – respondi, contente.
Desliguei a chamada e deitei-me na cama com um sorriso parvo na cara.
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Com Amor, Amelia
Science Fiction"Era como uma prisão quando estava sozinha, presa no meu próprio corpo. Mas quando a sua voz se fazia ouvir, eu consegui, finalmente, dormir. E ao descansar, aproximava-me cada vez mais do grande momento, o momento em que acordei."