-Bom dia a todos - disse com um ar arrogante.
-Bom dia - respondemos em coro. Um coro muito ensonado. Pelo menos da minha parte. São seis da manhã, eu devia estar enrolada nos meus lençóis quentinhos! Mas, ao mesmo tempo, queria muito estar aqui!
-Chamo-me Jackson, esta é a minha mulher Corine - apresentou-a apontando para o seu lado direito, onde se encontrava uma mulher alta, loira e com um aspeto de secretária. Jackson, por sua vez, estava com uma bata vestida e com as mãos nos bolsos. Ambos pareciam ter por volta dos cinquenta anos - aqui, trabalhamos a sério. Todos sabem que a nossa investigação de vida consiste na descoberta da cura para o cancro e acolhemos jovens como vocês, estagiários, e ensinamos, tudo aquilo que já descobrimos. Vocês vão, principalmente, observar o que fazemos aqui. Vão estar distribuídos por cada área em grupos de dois, com um cientista que vos irá orientar - assim que ouvi "grupos de dois" agarrei-me, automatica e maquinalmente a Felicia, que estava ao meu lado. Temos uma aula juntas de biologia celular e molecular, na faculadade - eu costumo dizer que, nós vivemos num planeta muito especial. Muvon 12742 é um lugar que precisa de ser protegido e é o nossso dever tratar dessa proteção. A Natureza pode ser traiçoeira e inventar coisas como o cancro. Mas, acredito que, um dia iremos chegar a uma solução. Nós e as geracões futuras. Bom trabalho! - saiu com uma cara fechada, continuando com as mãos nos bolsos.
Agora, iamos a uma visita guiada pelos laboratórios. Corine, a secretária do seu marido, mostrou-nos, atenciosamente, os recantos dos laboratórios. Passámos pelo escritório de Jackson, que apresentava portas de vidro. Conseguíamos ver Jackson a trabalhar num microscópio.
-Só devem incomodá-lo quando for um caso de vida ou de morte. Tipo... se houver uma invasão alienígena ou aconteça algo em que estejamos prestes a morrer. Aí podem incomodá-lo - consegui ouvir leves risadas por trás de mim, de outros estagiários.
Um papel foi afixado na porta principal de um laboratório, pela mulher de Jackson, Corine, a explicar que áreas de pesquisa existiam. Tínhamos que assinar o nosso nome numa área específica para trabalharmos nos próximos dois meses. Éramos uns seis estagiários e haviam três áreas principais: biologia celular, química e engenharia avançada.
-Biologia Celular? - perguntei, olhando para a Felicia.
-Girl, estamos em medicina, o que é que achas? - perguntou, rindo-se e assinando os nossos nomes nessa área - e... é a única área que tem como responsável um rapaz - ela olhou para mim apontando para o papel onde estava o nome do cientista responsável: Charlie Russmont.
-Lá estás tu a namorar - disse, arregalando os olhos e seguindo em frente, de modo a encontrar o laboratório de biologia.
-Mas eu ainda nem o vi! - exclamou ela, andando atrás de mim.
-Eu conheço-te.
Deparámo-nos, à medida que íamos andando, com uma sala enorme com um computador no centro e um laboratório, também enorme, mais à frente nessa sala. Adorei estar ali! Estava tudo com uma aspeto tão clean e tão brilhante. Sentia-me a respirar ar puro!
Charlie
Estava concentrado a ver umas células em divisão ao microscópio. Mas reparo em duas raparigas que acabaram de entrar. De repente lembrei-me que hoje era o primeiro dia dos estagiários aqui nos laboratórios. O Jackson vai matar-me! Não preparei o laboratório! Mas tu consegues, Charlie, tu consegues!
Desviei o meu olhar das minhas células e pousei o mesmo sobre uma linda rapariga. Morena, de olhos claros e com óculos. Tinha o cabelo apanhado e aquela bata que ela vestia dava-lhe um ar tão... tão...
-Bom dia, meninas! - disse, enquanto me levantava, com um ar animado - chamo-me Charlie, vocês devem ser as estagiárias, certo?
-Sim -responderam em coro.
Amelia
-Podem dizer-me os vossos nomes para eu anotar aqui, por favor? - perguntou o Charlie.
-Nós já fizemos isso lá atrás numa folhinha - disse Felicia.
-Amelia e Felicia. Eu sou a Amelia, ela é a Felicia. Convinha apresentarmo-nos não é Felicia? É o que ditam as regras da boa educação - disse, soltando uma leve risada, juntamente com Charlie. Ela olhou-me de lado, rindo-se também.
Charlie
Então é esse o nome dela... Amelia!
-Então, vamos falar um bocadinho - puxei três cadeiras com rodas para nos sentarmos no centro da sala - o que estão a estudar?
-Medicina - a Amelia respondeu. A voz dela é tão doce! A Felicia apenas continuava a rodopiar-se na cadeira.
-Médicas!
-Yup! - disse Felicia, enquanto se rodopiava uma e outra vez.
-Estão a estagiar em mais algum sítio?
-Sim, eu sim. Na clínica Quinnoa - respondeu Amelia.
-A sério? Interessante...
-Até conheci uma menina muito querida. Chama-se Sidney, prometi-lhe que hoje passava lá com filmes de princesas!
-Sidney? Em Quinnoa? - perguntei, espantado.
A Amelia apenas acenou com a cabeça como sinal de afirmaçao.
Eu conheço esta clínica. A Sidney é a filha do Jackson. Já cheguei a ir lá visitá-la umas vezes com o Jackson. Não sei se lhe devo contar ou não. É por isto que ele decidiu estudar o cancro. Não sei o que fazer.
-Deve ser uma experiência... forte!
-É - ela respondeu, com um ar triste.
-Bem, eu estava, quando vocês chegaram e interromperam o meu momento de paz (estou a brincar), a ver células em reproduçao ao microscópio. Gostavam de ver?
-Yah, claro! - A Felicia respondeu, imediatamente.
Dirigimo-nos até à minha bancada e uma de cada vez observaram as minhas preparações.
-Estão muito boas - exclamou a Amelia. Já ganhei o dia!!
Amelia
-Bem está na nossa hora! - eu disse, olhando para o relógio. Já era quase meio dia e depois de almoço vou estagiar na clínica. Vou ver a Sidney!
-Sim sim desapareçam do meu espaço! - disse o Charlie, com um tom engraçado. Ambas nos rimos. Aquele rapazinho ruivo com o cabelo encaracolado e sardas é deveras encantador.
Quando saímos, eu e a Felicia dirigimo-nos a uma hambúrgueria ali perto. Estava cheia de fome!
-O Charlie ficava super bem contigo! - diz Felicia, assim que nos sentamos numa mesa.
-Felicia, acabei de me sentar! A sério?
-Yup! Acho mesmo.
-Pensava que tu é que estavas com um olhinho nele - respondi rindo-me muito.
-Isso foi antes de o ver e perceber que ele não faz o meu estilo. Muito betinho!
-Primeiro, não acho o rapazito nada betinho. Segundo... estás a chamar-me, indiretamente,de betinha?
-Hum não- respondeu a Felicia com um ar irónico.
Ambas nos rimos. A Felicia é mesmo uma boa amiga e muito divertida!
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Com Amor, Amelia
Science Fiction"Era como uma prisão quando estava sozinha, presa no meu próprio corpo. Mas quando a sua voz se fazia ouvir, eu consegui, finalmente, dormir. E ao descansar, aproximava-me cada vez mais do grande momento, o momento em que acordei."