Não acredito! Não acredito – foram as palavras que ecoaram na minha cabeça quando Charlie me acabara de contar aquilo. Agora, encontramo-nos sempre à mesma hora, todos os dias, no nosso sítio, até porque é mais fácil visto que Charlie fora transferido já há algum tempo para o meu setor. Como? É o braço direito do nosso superior Jackson e são muito amigos. Até no fim do mundo este funciona através de cunhas, mas esta eu não reprimo visto que é por uma boa causa.
Mas, continuando… o Charlie esteve em reunião com Jackson e com a chefe do departamento de ciências, por outras palavras é quem manda nisto tudo e quem toma todas as decisões. Aqui, ela tem mais poder que Jackson e que qualquer cientista, então ideia que ela tinha era de que os Ifigénios que não passaram no teste deveriam ser eliminados por colocarem o sucesso do projeto em risco. Jackson e Charlie, juntamente com um grupo de cientistas, tentaram demover a ideia de Clarisse, mas esta mostrou-se implacável e não foi possível salvar a vida daqueles inocentes. Mais uma vez, a raça humana no seu melhor. Eu sei que estamos no fim do mundo, temos pouco tempo e não podem haver erros, mas acabaram de tirar a vida a crianças… inocentes.
-Mas porque é que não adotaram algum sistema? Realizar mais aulas com os Ifigénios, tentar redisciplinar aquele grupo que não passou! Mas isto? Isto é crime, Charlie!
-Eu sei, eu sei – ele agarrou-me, gentilmente, pelos braços – não pudemos fazer nada, eu tentei, o Jackson tentou. Ela não quer correr riscos. Agora, para evitar que tudo se repita, Jackson e a equipa vão, em conjunto, trabalhar num chip para implantarmos nos Ifigénios, um chip que vai fazer com que se comportem da maneira correta.
-Há tempo para isso e não há tempo para tentar reeducar um grupo de crianças.
-Eu entendo a tua revolta , mas foi assim que decidiram, meu amor. Não podemos fazer nada – Charlie falava enquanto nos abraçávamos e uma lágrima caía do meu rosto.
-Amanhã também vens? – perguntei.
-Claro que sim, todos temos que ir.
Estamos a referir-nos ao facto de irmos visitar o planeta para o qual irão os Ifigénios. A construção de um mundo habitável já está quase no final e amanhã irá ser concluída. Eu faço parte da equipa responsável por esta missão e Charlie foi incorporado nela há pouco tempo. Não é a primeira visita que lá faço e posso dizer que fui eu a responsável por encontrar um planeta habitável a formas de vida humanas, o que me fez subir à posição de chefe dessa equipa (por isso pode ter sido fácil incluir Charlie nesta missão). Conseguimos viajar até ao planeta através de uma nave construída na mesma altura que a cúpula. Muitas mais foram construídas nessa altura e serão as que vamos utilizar para o transporte dos Ifigénios.
Regressando ao meu quarto, apenas observo a minha Ifigénio, enquanto escrevo, a dormir e eu vou também, já estou cansada deste dia.
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Com Amor, Amelia
Science Fiction"Era como uma prisão quando estava sozinha, presa no meu próprio corpo. Mas quando a sua voz se fazia ouvir, eu consegui, finalmente, dormir. E ao descansar, aproximava-me cada vez mais do grande momento, o momento em que acordei."