prólogo: cantinho de luz

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TRILHA SONORA: PARTICULAR TASTE - SHAWN MENDES

O último dia de férias havia chegado, e embora eu não fosse voltar a estudar em uma escola, os meus amigos do condomínio me contagiavam com a ansiedade que sentiam pelo primeiro dia de aula. Não que eu não gostasse de estudar, mas eu não suportava ter que frequentar um lugar cheio de pessoas ridículas que não conseguiam acompanhar meu modo de estudar ou aprender. Ou até mesmo os professores estranhos que não me acrescentavam nada além do que eu já sabia. Isso para mim era estressante; era muito melhor estudar em casa.

Mesmo sem entender a tamanha importância que eles davam ao simples fato de que as aulas iriam começar, eu sempre tentava acompanha-los em seus momentos retardados. Ester, Dani, Tina, Anne, Mark, Pedro, Dudu, Beatrice e Tiago. Os nove seres humanos mais estranhos desse mundo, e eu, que estava sempre no meio, é claro. O pôr do sol se aproximava, e nós todos andávamos em direção ao parque principal do condomínio (exceto Mark, que estava de bicicleta, como sempre).

- E então, o que vocês vão pedir? - Dudu perguntou andando mais a frente de todo mundo ao lado de Mark e sua bicicleta.

- Eu ainda não sei - Dani falou andando ao meu lado direito.

- Eu sei! - Ester me assustou, como sempre fazia quando gritava de repente sem qualquer explicação. - Mas não posso dizer em voz alta, se não, o desejo não se realiza! - ela deu pulinhos de alegria enquanto andava à minha esquerda.

- Isso é lenda. Eu nem sei porque fazemos isso, o ano sempre acaba sendo uma porcaria! - Mark falou concentrado no guidão da bicicleta.

- Não seja negativo, Mark - Anne falou. - As coisas podem melhorar.

- É verdade, não é possível que anos tenham se passado e você não tenha melhorado em nada na sua aparência - Dudu, como sempre, ótimo com as palavras. - Tudo bem que suas roupas são um pouco estranhas e você não é bonito como eu, mas as pessoas da sua escola já deviam ter se acostumado.

- Ele sofre bullying, Dudu - Pedro entrou na conversa. - É muito diferente do que apenas "aceitar" ou "se acostumar" com ele. E ele não deve aceitar isso, deve pedir ajuda.

- Não é tão fácil pedir ajuda - Tiago falou, calmo. - Nós somos amigos dele, devemos fazê-lo se sentir melhor.

- Gente, eu estou aqui, estou ouvindo tudo - Mark não precisava se virar para que eu percebesse que o mesmo revirou os olhos.

- Bia, você não vai para a escola, então... O que vai pedir? - Pedro perguntou.

- Não pretendo pedir algo - afirmei. - Não acredito nesse tipo de coisa.

Eu não acreditava que fazer desejos olhando o pôr do sol fosse algo realmente produtivo. Os sonhos não podem ser "jogados no ar", e se eles desejavam ter um ano melhor, teriam que lutar por isso. Mas como eu já disse, eu sempre tentava acompanha-los em seus momentos retardados.

Chegamos no parque e o céu já estava rosado e alaranjado. Começamos a escalar o morro de pedra (quase uma montanha) que denominávamos como "cantinho de luz". Aquele era o lugar mais iluminado do condomínio, o sol e a lua davam uma prioridade misteriosa para o pico daquela montanha. Ali, nos reuníamos em datas importantes, conversávamos, comíamos, resolvíamos nossas brigas e cantávamos (quando algum de nós se dispunha a levar o violão, o que era raro).

Aquele era o melhor lugar para ver o sol nascer ou se esconder; era lindo!

- Finalmente! - Dudu falou, e, ofegante, se sentou em uma das pedras que usávamos para isso mesmo. - Mais um pouco e eu saia rolando.

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