o telefonema

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TRILHA SONORA: UMBRELLA - RIHANNA

Acordei com o despertador gritando na cômoda bem ao lado da minha cama. Sem raciocinar direito, tateei o grande pedaço de madeira (e percebi que derrubei algumas coisas que estavam em cima) até encontrar o maldito relógio. Eu já não aguentava mais o barulho horrível, então dei um tapa com toda força no objeto redondo. Ele voou da cômoda e se desmontou completamente no chão, mas pelo menos "calou a boca". Meu desejo era morrer antes que a minha mãe visse o aparelho quebrado. Aquele que ela tinha acabado de comprar! Foi uma luta implacável, mas consegui vestir meu chinelo e sair do meu quarto. Voltei com uma vassoura, uma pá, e uma sacola plástica. Pendurei-a na cabeceira da cama após recolher os pedaços do relógio e levei a vassoura e a pá de volta ao lugar certo.

Desci as escadas em direção à comida em forma de café da manhã que me esperava na cozinha.

- Bom dia, Bia! - minha irmã, Ana Júlia, falou animada. Como ela conseguia?

- Bom dia - falei sem ânimo algum.

Me sentei à mesa e minha mãe serviu panquecas e calda de chocolate. Comi umas três. Estava comendo muito ultimamente. Depois de alguns pães de queijo e um copo de suco, terminei.

- As suas roupas já estão guardadas, David? - minha mãe perguntou.

- Já! - Meu irmão exclamou com a voz rouca enquanto esfregava os olhos.

- Ótimo! Os três para cima, agora - minha mãe ordenou, até meio calma para o que o seu humor aparentava. Subi as escadas e entrei na sala de estudos. Era uma sala, mais parecida com um quarto, onde ficavam nossos livros, materiais, instrumentos, horários, rotinas, etc. Era lá que eu escutava parte das minhas 460 músicas diariamente, desenhava, estudava, tocava, cantava e lia (embora eu preferisse ler na varanda).

Eu me sentei à mesa, que era embutida na parede, e comecei a estudar. Minha mãe era professora de educação física, por isso ela entendia muito sobre horários escolares. Ela criou um horário de estudos tanto para mim quanto para meus irmãos, e eu estudava de acordo com o livro didático da série em que eu estava. O ensino médio seria complicado para mim de qualquer forma.

Abri o livro de Geografia, que era a primeira aula. Quase três horas depois, quando eu já estava finalizando a terceira matéria, minha mãe e minha avó trouxeram três bandejas com um lanche (uma para mim e uma para cada um dos meus irmãos). Um misto quente e um copo de suco de laranja natural acompanhados de uma mini barra de chocolate. Eu estava adorando aquilo! A primeira metade do dia se passou mais rápido do que eu esperava. Após seis matérias, chegou a hora do almoço.

Meu pai não passava muito tempo com a gente. Ele trabalhava no interior da cidade da Capital, por isso, raramente ficava conosco no meio da semana. Ele estava tentando ser transferido para a nossa cidade atual, mas já fazia um ano que morávamos ali e ele não tinha tido sucesso ainda.

Por conta disso, meu pai voltava para casa às sextas a tarde e ia embora às segundas, pela manhã. Às vezes, conseguia aparecer durante a semana, mas de qualquer forma, meus pais sempre mantinham a união e a sincronia; eu era muito grata por isso.

A única parte triste era a hora de comer. Não que fosse chato, tendo comida era o suficiente, mas, quando meu pai estava era mais completo, isso fazia falta. Meus irmãos, meus avós, minha mãe e eu nos servimos e começamos a comer. Eu não tinha "modos" a mesa, e eu não me importava com isso, e é claro que eu não fazia de propósito. Mas minha mãe sempre chamava minha atenção. Ela falava que qualquer pessoa que se preze devia ter modos na hora de comer. Eu, com toda certeza, não era essa pessoa, mas pelo menos quando ela estava presente eu tentava fingir que era. Quer dizer, mais ou menos.

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