Play With Fire

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— Rezar? — Perguntou Handriel e o diretor gemeu de dor ao se levantar para buscar mais whisky em cima do seu criado-mudo.

— Sim. Você é um semi-anjo não deve ser difícil. — Disse o diretor sorrindo enquanto enchia o copo novamente.

— Não estou gostando disso.

— Ele só ouvirá se for vindo de você.

— Ele? — perguntou Handriel e logo ele entendeu tudo. — Meu pai.

— Garoto esperto.

— O que quer com ele? Não falo ou tenho visto ele há anos, desde que me prendeu nessa escola.

— O que eu quero com ele, é outra história. Só preciso que o invoque, diga que é uma emergência, e que quem está ordenando sou eu. Belzebu. — Falou com todas as letras já sabendo de que Handriel sabia de sua identidade. Ele respirou fundo. — Quer privacidade? — Perguntou virando aquele copo.

— E depois que eu o chamar?

— Depois? Oras, depois é só esperar o retorno dele.

— Acha mesmo que meu pai viria? Ele me abandonou!

— Caro Handriel, entenda, a situação é diferente agora. Você não irá pedir por você. Irá pedir em nome de um demônio. E eu e seu pai temos um assunto não resolvido, então por gentileza. Faça logo o que eu pedi, pois eu tenho uma reunião daqui a pouco e nem sequer bebi o suficiente para aguentar toda aquela gente me sufocando. — Respondeu o diretor colocando o copo em cima do criado-mudo e encarando arduamente os olhos de Handriel que sorriu em retorno.

— Como desejar, alteza. — Ironizou obedecendo as ordens.

***

  Heilel andava pelos destroços que os religiosos de Fallen limpavam com cuidado. Sua cara não era irritada e sim como se tivesse jogado dinheiro fora com uma folha de apostas.

  Ele subiu até seu quarto dando de cara com uma vampira emburrada debruçada ao travesseiro da cama.

— Devo admitir, nunca compre briga com o Bel. O cara é foda em todos os aspectos. — Sorriu Lúcifer caminhando pelo quarto. — Ainda está brava comigo por eu ter prendido seus amigos Rachel? — Perguntou porém não houve respostas dela.

  Ele sorriu e se sentou na beirada de sua cama.

— Desculpa. — Respondeu e ela soltou um riso debochado claramente representando a não aceitação de suas desculpas. — De verdade, estou pedindo desculpas por todas as vezes em que fui rude. Quero ter paz com a mulher que divide o corpo com minha esposa. Que tal?

— Paz? — Rachel se sentou na cama desacreditada com o que estava escutando. — Isso é brincadeira certo? Poderia começar tirando a sua querida esposa do meu corpo. Não, melhor ainda, que tal tentar parar de criar um apocalipse? Aí sim pensamos em paz, Lúcifer. — Respondeu e ele pressionou o maxilar e se levantando da cama para se aproximar dela.

— Achei que você melhor do que ninguém entenderia meus motivos. — Respondeu ele e ela se levantou.

— Entender? Você é nojento e desprezível. Mas não tem problema não é? Depois que Lilith assumir o meu corpo vocês irão abusar a noite inteira dele, como sempre fazem não é mesmo?

  Heilel respirou fundo.

— Eu era conhecido como a estrela da manhã. Sabe por que? — Perguntou encarando ela, que ficou quieta apenas encarando ele de volta. — Por que eu era o mais sábio, o mais respeitado, e o filho favorito de Deus.

— Tão favorito que se rebelou contra o próprio pai. — Disse Rachel e Heilel sorriu.

— Me rebelei por que eu também fui filho. E todo filho briga com o pai Rachel. Conheci as trevas, e o poder que ela tinha em controlar as pessoas. Não concordava com meu pai em querer criar um mundo repleto de criaturas humanas e dizer que elas eram mais preciosas do que eu. Não suportava. Tive ciúmes. Pois até então eu era o favorito, e fui trocado por seres completamente inferiores. Então sim, eu me rebelei e levei o máximo de anjos comigo, por que por um momento achei que meu pai não era digno de ter todo o poder que ele tinha. E olhe só o que aconteceu. Como todo filho rebelde... Eu fui castigado. — Ele sorriu. — Hoje em dia, pais estão sendo manipulados pelos filhos e os filhos estão nem se importando com a credibilidade do outro. A criação que Deus tanto amou, faz tudo por dinheiro e tudo para ter um gosto do pecado. Seres humanos são a escória da vida. Destrói tudo o que Deus cria, e colocam a culpa de seus fetiches no próprio diabo. — Ele se afastou. — Matei meu cachorro, foi culpa do diabo. Aquela garota usa drogas, a culpa é do diabo! Aquele rapaz se perdeu na vida do crime, CULPEM O DIABO! — Gritou sua última frase com rancor.

  Rachel olhou pra baixo começando a entender a forma de Heilel em pensar nas coisas.

— As pessoas tem medo de mim Rachel. E com razão. Assim como elas tinham e ainda tem de você. — Aquilo despertou o olhar dela. — Tudo bem que ele queria me castigar pelo que eu fiz, mas ele me trancou em um lugar horrendo, transformou meus poderes de anjo nos poderes de toda a minha escuridão, me baniu do céus e me obrigou a reinar em um mundo onde manter a sua sanidade é muito mais raro do que pensa. Eu sou o lorde das trevas Rachel. Querendo ou não, aquele lugar muda as pessoas. Assim como você mudou!

— Você não tem direito de falar da minha vida... Não somos parecidos Heilel.

— Não? Veja o que teu pai fez com você. Te castigou dando poder a Elizabeth de transformá-la em um monstro. Como eu! Viveu todo esse tempo sendo apedrejada pelo nome Drácula que percorre nas suas veias Rachel! As pessoas repudiam demônios por que para elas o que importa é a escuridão e elas nem sequer notam que não existe escuridão maior nesse mundo que não seja o próprio homem.

— Você está certo... E assim como existem anjos ruins e demônios bons, existem também seres humanos ruins e bons. A maldade é empregada na cabeça de cada um deles e convenhamos que você ajudou muito bem em espalhar o pecado.

— EU ESTAVA COM RAIVA!

— Todos temos raiva Lúcifer... Todos temos uma escuridão dentro de nós. E todos lutamos diariamente para derrotá-la. Você devia fazer o mesmo. — Respondeu se deitando novamente e deixando pairar um silêncio no quarto.

  Lúcifer se sentou novamente na beirada daquela cama refletindo suas palavras.

— Nós nunca fizemos aquilo, se é o que está se passando por sua cabeça. — Disse ele e Rachel pareceu não entender nada.

— Que?

— Sexo. — Eles encararam um ao outro. — Nunca transamos de verdade.

— Mas aquele dia que eu...

— Eu parei. Lilith ficou com raiva de mim naquele dia, não queria fazer isso sabendo que você ainda estava ali. Viva. Morta... — Ele respirou fundo. — Ela saiu rua à fora com raiva de mim. — Aquilo explicava o motivo dela ter ido parar em uma orgia naquele dia.

— Então nós dois nunca...

— Não. Eu posso ser o diabo. E ter pensamentos fora de mim, mas... Já fui um anjo Rachel. Assim como você já foi humana. — Ele se levantou saindo do quarto e deixando ela ali, sozinha encarando a porta. 






Renegados do Inferno - Destinada - vol 3 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora