Não Diga Adeus

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     Quando reclamei da minha chegada em Bloodville, jamais imaginei na surpresa de acabar desse jeito. Cresci em uma família consideravelmente anormal. Minha mãe uma louca bipolar. Uma hora era a mãe mais dócil e amável do mundo, mas outras horas virava o cão em pessoa, e faltava me matar. Me dava medo, não mais do que meu pai, um idiota e tarado, que se aproveitava de mim ainda quando não tive muitas escolhas.

  Fui taxada de louca, de assassina, de psicopata e de vagabunda pelos meus vizinhos. Fui responsabilizada pela morte deles e não tiro o fardo dessa culpa, porque eu de fato o fiz.

  E então fui algemada e trazida para essa escola. Onde descobri que sou na verdade um milagre do criador. Metade anjo e metade demônio. Minha colega de quarto, uma vampira com dificuldades para se entender com o guarda roupa. E meus amigos, todos seres "sobrenormais" que são como nós nos chamamos.

  Não demorou muito para que me apaixonasse, e descobrisse que meu namorado era filho do diabo. Detalhe: Meu pai é o Belzebu. O demônio da gula! 

  Não esqueçamos de que eu matei os pais do Blake. E bom... Ele não pareceu chateado comigo pelo que havia feito. Na realidade... Parecia ter ficado aliviado, mas eu sabia que no fundo no fundo ele estava bastante deprimido, só não falava ou me culpava por isso. Ao contrário de mim, que me arrependia toda santa hora por aquilo.

  Rachel...

  Acho que dessa vez não teria retorno não é? 

— Bom... Acho que temos uma longa varredura por esta escola. — Disse Peggy Stewart, mãe de Alison se aproximando. — A escola passará por sérias reformas, e.... Bom... Como vocês já foram formados e sofreram bastante, acredito que mereçam uma bela de umas férias. — Respondeu seriamente e mantendo sua postura arrogante. — Obrigada Rebecca. — Disse me encarando e se virando.

— Isso foi uma surpresa... — Respondi.

— Lá se vai a bruxa toda trabalhada na vassoura de palha. — Disse Adam. — Gente vou sentir tanta falta do anjinho. O bofe saiu vazado nem me passou o WhatsApp! — Gritou escandalizando o ciúmes de Taylor que parecia se transformar a qualquer momento só com a raiva.

— Então, finalmente tudo acabou certo? — Perguntou Dany e senti Blake me reconfortar com um abraço pelas costas.

— Na verdade não tão cedo, Srta. Havillard. — Respondeu uma voz preguiçosa e masculina.

  Virei o rosto pra ver quem era e notei que era um homem de aparência andrógena e olhar assustador. Seu sorriso me dava calafrios.

— Quem é você?

— Ah, eu não tenho um nome infelizmente, Mas pode me chamar de Demônio da Morte. Irmão mais novo de Azrael. Ah e por falar nisso, muitíssimo obrigado por ter matado minha irmã. Agora todo o trabalho de milhares de almas sobrecarregando o inferno diariamente foi passada imediatamente à mim. — Ironizou o agradecimento ao me encarar. 

— O que quer da gente? — Perguntou Laura se aproximando ao lado de Carmilla.

— De você? Nada. Aliás, você é a mortal que adora brincar com a imortalidade não é mesmo? Adorei sua convicção. — Ele sorriu para ela e como numa forma de proteção Carmilla se colocou na frente de Laura. — Bom... Como vocês provavelmente perceberam. Os portões do inferno foram fechados, e todos os demônios retornaram aos seus devidos lugares correto? Correto!  — Ele riu como se contasse uma piada. — Na verdade não. Um ainda não voltou para o inferno. Na realidade dois. Digamos... A rainha e o Rei do tabuleiro. — Agora seu olhar melancólico se voltou para mim. — Srta. Havillard fez o favor de destruir a alma do diabo, deixando o inferno sem nenhum líder para comandá-lo. 

— Meu pai está lá. E até onde eu saiba ele era o braço direito de Lúcifer.

— Traidor e líder da primeira rebelião contra o inferno. Não posso confiar, sinto muito.

— Existem vários demônios naquele inferno. O que quer de mim? Que eu assuma o posto dele? — Perguntei e ele começou a gargalhar com uma risada exageradamente assustadora. 

— Meu bem eu preciso de alguém que saiba como comandar um inferno. — Ele acabou encarando o Blake de cima a baixo. — Se não tivesse sido tão tolo você seria perfeito, é o filho de Heilel afinal.

— Nem pensar. — Me prontifiquei a interromper aquele showzinho.

— Escute Rebecca. O inferno precisa de um líder digno. E eu não saio desse lugar sem encontrar um.

— Eu vou. — Respondeu uma voz  preguiçosa e sensual despertando toda atenção para a figura vestindo apenas um conjunto de lingerie e uma enorme jaqueta do capitão do time de futebol.

— Rachel? — Perguntamos todos juntos. Ela estava viva? Viva? Ou meio viva?

  Meu deus, nem quando finalmente ela pode morrer a garota morre? Não que isso seja ruim, eu estava mega feliz por saber que não tinha matado ela, mas... Porra!

 — C-Como? — Tentei perguntar, mas o choque era maior.

— Você matou Lilith, tirou a alma dela do meu corpo, eu fiquei, simples. Como disse não sou fácil de matar não é mesmo Havillard? — Respondeu piscando pra mim.

— Você não serve lindinha. Não é exatamente um demônio real.

— Meu bem, primeiramente lindinha é uma personagem de desenho animado, eu sou Rachel Alucard, Condessa de Bran, vampira foda pra caralho, terceira do meu nome e herdeira de um reinado épico do século XV. Tenho 6 séculos de idade e convivi um bom tempo com a rainha do inferno. Sei lidar com um trono, "lindinho". — Piscou pra ele que pareceu sem fala no exato momento. 

— Está aí. Gostei. — Disse ele.

— Rachel. — Chamou Carmilla. — Enlouqueceu de vez? Passou sua vida tentando se livrar desse mundo e agora vai governar o inferno?

— Escuta Carm, eu amo você de verdade, mas eu já me conformei que mesmo que finalmente eu consiga morrer, não irei ter paz. E se for pra ir para o inferno que eu vá com classe de uma rainha. Papai sempre disse que um dia eu iria governar e ele estava certo. — Ela sorriu. — Sem contar que uma coroa cai bem em mim. — Respondeu virando-se para o demônio da morte. — E então quando partimos? — Perguntou.

— Agora mesmo! — Respondeu aos risos.

— Tem certeza? — Perguntei olhando nos olhos dela. — Você não precisa fazer isso Rachel...

— Não me peça para ficar Havillard. 

— Não vou pedir... Eu só... — A verdade é que não queria que ela fosse, mas... Nem sempre a gente consegue o que quer... — Se cuida sua vampira idiota.

— Pode deixar mestiça. — Respondeu por fim.

  Rachel abraçou Laura e Carmilla com tanta força que achei que havia quebrado algumas costelas, já a mim ela apenas sorriu e se virou para seguir o demônio da morte até desaparecer de meus olhos.

  E de condessa, Rachel passou a ser uma rainha. Literalmente uma fucking  rainha do inferno.

Renegados do Inferno - Destinada - vol 3 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora