Nunca Diga Sempre

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  Handriel parecia desconfortável com a presença de Blake encarando ele como fosse engoli-lo vivo. 

— Eu vim na paz, Blake. — Respondeu notando a ameaça que o rapaz emanava na presença de Handriel.

— O que faz aqui? — Perguntei encarando ele desconfiada.

— Pedir desculpas... Soube do que aconteceu, e de toda forma, que bom que não se machucou.

— É, muito bom! Você já pode ir bonitão. — Disse Blake sorrindo ironicamente.

  Handriel ignorou a fala de Blake e voltou a olhar para mim que ainda estava sem entender o que ele queria de mim exatamente.

— Eu fui criado por religiosos Rebecca. Sou filho de um anjo. — Sabia disso, Miguel era o nome do pai dele, o tal arcanjo que ajudou a abrir os portões da primeira vez certo? — E como filho de um anjo, óbvio que ter um demônio perto da sua namorada é meio alternativo, não acha? Tentei te proteger.

— Me chama de demônio mais uma vez e arranco essa carinha de bebê falsa que você tem. — Disse Blake e fechei os olhos tentando conter minha paciência.

— A questão é que, agi por impulso, tive medo de perder você e tive medo de que Blake fosse.... Ah eu não sei Becca, querendo ou não ele é o filho de Heilel!

— E eu sou a filha de Belzebu, Handriel. — Respondi curta e grossa. Já que sua desculpa era envolver os pais de ambos, por que não envolver o meu? — Sou metade demônio. Meu pai é conhecido por liderar a rebelião dos renegados do inferno, sem contar que ele era o braço direito do pai de Blake, não esqueçamos do fato de que eu matei os meus pais de criação com a magia que você tanto repudia... As chamas do inferno... então antes que fale dos pais do Blake ou sobre a identidade dele, por que você simplesmente não me julga também? — Perguntei perdendo a cabeça e fazendo até mesmo com que Blake se espantasse.

— É diferente... — Disse Handriel e Blake começou a rir discretamente.

— Não é. O fato de você ser metade anjo, não te faz um ser perfeito. — Handriel abaixou a cabeça enraivado consigo mesmo.

— Isso é um não as minhas desculpas? — Perguntou ele e encarei no fundo de seus olhos.

— Aceito suas desculpas. — Blake me encarou na mesma hora. — Só não se aproxime mais... — Pedi com as lágrimas querendo soltar pra fora e Handriel meio tristonho e decepcionado resolveu aceitar minhas exigências saindo do quarto.

— Você está bem? — Perguntou Blake.

— Sim, só... Preciso dormir. — Respondi me deitando de lado.

  Senti que Blake havia ficado incomodado com o fato de claramente eu ter demonstrado uns resquícios de sentimentos em relação a Handriel, mas acredito que ele entendeu. Poxa relevem, Handriel foi o primeiro namorado que tive naquela escola, e o primeiro que realmente parecia me entender... Só que estava enganada, até mesmo anjos possuem defeitos.  

  Não estava triste apenas por Handriel, estava triste por tudo, por meu pai ter ficado pra trás, por quase ter morrido, por aquela viagem horrível... Ah! Só queria chorar sozinha sem que ninguém me visse naquele estado deplorável.

  Senti que Blake havia entendido meu recado, e ele até estava prestes a ir embora. Não ouvi mais seus passos, e também não olhei pra trás, apenas chorei, chorei de como todo aquele fardo veio parar em minhas costas sem eu ter a mínima ideia de como iria consertar aquilo.

  Foi então que senti os braços firmes de alguém me abraçando e consolando minha dor. E eu achando que Blake havia entendido o recado. Ou talvez ele entendeu, apenas preferiu bancar o teimoso mais uma vez e me fazer companhia na minha crise de existência em uma confortável conchinha naquela terrível cama de hospital.

***

  Três toques foram escutados da porta do escritório do diretor Queen, agora limpo e usando o seu tradicional terno cinza enquanto virava um copo de Whisky sentado em sua poltrona.

— Entre. — Respondeu e aquele olhar que antes era dócil, agora um tanto estressado e sem muito sucesso entrou dentro da sala. 

— O senhor mandou me chamar? — Perguntou Handriel entrando e forçando aquela voz gentil que ele sempre demonstrava a todos.

  O diretor Queen fez um sinal com a mão para que ele se sentasse e Handriel o fez.

— Aposto que está sabendo da lamentável notícia do que supostamente aconteceu.

— Estão comentando que o senhor se envolveu em uma briga e que os amigos de Rebecca também, estão todos na enfermaria, mas ninguém sabe ao certo o que aconteceu.

— E que continuem sem saber. — Respondeu o diretor cruzando as pernas. — Vamos conversar Handriel. Mas primeiramente quero que pare de fingir esse comportamento. É irritante.

— Do que está falando? 

— Você é igualzinho o seu pai. Quer mostrar a todos uma máscara de bonzinho, quer ser o anjinho da guarda de todo mundo, mas chega. Quero conversar com o verdadeiro Handriel. — Os olhos de Belzebu estavam ficando roxos de novo.

— Pois bem. O que eu fiz dessa vez? — Respondeu o semi-anjo se consertando na poltrona da sala e cruzando as pernas.

— Nada. Mas vai fazer um favor pra mim. — Disse o diretor e Handriel franziu o cenho da testa sem entender absolutamente nada. — Handriel... O destino de uma humanidade inteira, está nas mãos da minha filha. Para aliviar esse fardo dela, precisarei da sua ajuda...

  Agora Handriel parecia confuso, tanto que se ajeitou na cadeira sem saber exatamente o que dizer para o diretor.

— Do que está falando? — Foi direto ao ponto, e desta vez seu tom de voz era mais arrogante.

— Preciso que faça uma coisa por mim.

— Não vou fazer nada, sem saber do que isso se trata. — Respondeu com um olhar mais sério.

— Handriel... Se algum dia você já se importou com a Rebecca, por favor... Faça o que estou te pedindo.

  Silêncio. A sala foi rodeada de silêncio e pela face de "poker face" do semi-anjo, era óbvio que ele não entendia absolutamente nada, e óbvio que o diretor não ia explicar o que era. 

  Mas ele conhecia aquele olhar. Handriel sabia exatamente que a coisa não estava nada boa e que ele realmente estava desesperado.

— O que quer de mim?

— Simples. — O diretor sorriu se ajeitando na cadeira. — Quero que reze. — Respondeu deixando tudo ainda mais complexo.






Renegados do Inferno - Destinada - vol 3 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora