— Caminhe comigo. — Disse ele se transformando em uma mulher idosa e me guiando por uma casa comum de madeira. Entramos lá dentro e ele... Ela... Hã... Resolveu fazer um café com as coisas de lá de dentro mesmo. — Você me perguntou o porque de eu tê-la entregado tamanho fardo. — Me sentei na cadeira simples de madeira escutando cautelosamente a voz suave da velha senhora. — Bom... Foi porque eu amo você. — Sorriu ao me encarar e eu franzi rapidamente o cenho da testa tentando entender o sentido daquilo. — Quis mostrar você o mundo de acordo com como ele é. Tinha de escolher alguém para salvar essa terra que estava e ainda está de certa forma condenada, e você foi o meu milagre. Jamais permiti a união entre anjos, pois os criei para serem puros. Porém... Não percebi que pedia demais deles. E bom... Onde há livre arbítrio há um pecador... Resolvi deixar esse romance fluir. Pois quando o amor é verdadeiro e recíproco um milagre sempre vem dele. E você é esse milagre.
Ouvir aquelas palavras de fato me reconfortava de uma maneira inimaginável.
— Porque não escolheu um de seus anjos?
— Boa pergunta. — Sorriu vindo com a garrafa de café na minha direção e me servindo como se eu fosse sua convidada. — Meus anjos já resolvem muitas coisas por mim. Assim como fez o Messias. Meu filho deu sua vida por vocês. A missão dele na terra já foi completada. Agora... É a sua vez. Escolhi você por que sei do que é capaz, e sei do tamanho do seu coração Rebecca.
Encarei a xícara de café. Dando por fim um gole. O gosto era irresistível, tão... Bom e... Perfeito. Queria tomar um café puro assim na escola. Sorri ao lembrar e logo depois fiquei séria de novo.
A escola...
— Preciso fechar os portões do inferno... — Respondi encarando a senhora que agora era apenas um homem albino de olhos castanhos-mel.
— Sim. Precisa. Mas... Você está morta Rebecca. — Disse ele me encarando e eu franzi o cenho da testa.
— O feitiço de Aurora não deu certo?
— Ele deu. O feitiço era justamente para enviar sua alma para mim. E ela o fez. Como consequência, o seu corpo está inerte, falecido.
— Mas... Eu já voltei antes a vida...
— Sim. Duas vezes morreu. E duas vezes foi revivida.
— Não posso voltar de novo? — Perguntei e ele respirou fundo.
— Pode. Mas existe um porém.
Agora sim eu estava com mais medo ainda... Que porém?
***
— Então se eu voltar a vida, os portões serão fechados e todos os demônios irão retornar? Isso... Significa que... Meu pai...
— Sim... — Respondeu a voz adorável me deixando em um ponto decisivo da minha vida.
— E se eu ficar aqui com minha mãe... Os portões continuarão abertos...
— Isso seria um problema, mas a escolha é inteiramente sua. — Respondeu se sentando na cadeira e encarando-me intensamente.
Sinceramente... Não entendia porque tinha de carregar aquele fardo, mas se alguma coisa ele havia me ensinado desde o momento que o vi, foi que ele age por um motivo e não reage por outro. Nenhuma de suas causas foram ruins, e as vezes... Só precisamos pensar como ele. Parece difícil, mas... Não é.
Agora parando para pensar em suas palavras, sobre a rebelião, sobre tudo... Até mesmo sobre a fome. Comecei a ter uma mente mais aberta sobre seus planos, ele sofria com o rumo que o mundo estava tomando, mas estava certo. Ele não podia curar um país inteiro, e deixar os outros sozinhos, assim como não podia curar todo o mundo, estaria violando o livre arbítrio que o homem destruiu.
Algumas coisas ainda eram vagas, mas... Não era hora disso. Não era hora de medir esforços ou de medir palavras, era hora de tomar uma decisão.
E eu havia tomado a minha.
***
Respirei fundo ao sair daqueles portões e quando as fechei e olhei para trás, notei uma fila de crianças me olhando com os olhos arregalados como se eu fosse a nova estrela ou uma pop star.
— Hã... Oi? — Sorri um pouco espantada com tanta criança me encarando.
— Como ele é? — Perguntou um menino de mais ou menos 9 anos.
— Você viu ele?
— Conversou com ele?
— Como é a voz dele?
— O que ele falou com você moça?
— É! conta pra gente! — Dizia uma criança atrás da outra.
— Vocês nunca falaram com ele? — Perguntei e elas fizeram que não com a cabeça.
— Ninguém entra por esta porta há muitos anos. — Disse minha mãe surgindo entre as crianças com um largo sorriso no rosto.
Sorri de volta. Então estava explicado aqueles olhares preciosos em minha direção.
— Ele é... — Como descreveria o criador? Ele possuía tantas faces... Como... Como se ele... — Ele se parece com todo mundo. — Agora a frase "Deus fez o homem a sua imagem", parece um pouco mais complexa na minha cabeça. — Literalmente todo mundo. — Respondi franzindo a testa e recebendo os risos da minha mãe seguido pelas carinhas confusas das crianças.
— Fez a sua escolha? — perguntou minha mãe me puxando para fora daquela multidão de crianças.
— Sim. — Respondi um tanto inexpressiva. — A verdade é que quero ficar aqui com você. Esse lugar me trás tanta paz, é tão calmo e... Eu estaria rodeada de pessoas amadas, estaria com você! Finalmente estaria com você! Não teria um fardo a carregar e minha vida seria tão leve... Então eu quero muito ficar e conhecer esse lugar. — Sorri em retorno. — Mas se tem uma coisa que aprendi com o criador, é que todo ser vivo vai a terra por um motivo. Uma missão. Eu não cumpri a minha missão ainda mãe... — Não sabia o motivo, mas... Lágrimas começaram a se expor de meus olhos, eu realmente queria ter mais tempo com ela.
Acho que minha mãe sentiu toda aquela dor, pois me abraçou com tanta força naquele momento.
— Minha filha, eu tenho tanto orgulho de você... — Ela se afastou limpando minhas lágrimas. — Esperarei pela eternidade se necessário, meu bem. Eu sempre estarei aqui por você Rebecca. E sempre estarei do seu lado.
— E se eu não vir pra cá depois da morte?
Ela sorriu para mim.
— Se fosse ir para o inferno, acha mesmo que o criador teria te escolhido? — E foi com aquela pergunta que minha mãe se despediu de mim com o mais puro beijo na testa que uma mãe poderia me dar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Renegados do Inferno - Destinada - vol 3 (Concluído)
Fantasy*Continuação do vol 2 de Renegados do Inferno* Diversos demônios escaparam do inferno a mando de Lúcifer. Com os portões abertos os mais poderosos seres do submundo conseguiram não só atravessar, como também aterrorizar a escola de BloodVille. Reb...