Capítulo quatro.

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             25 de setembro, 2016.

         Segurei firme o volante, soltando um longo suspiro. Encarei o prédio da universidade através da janela do carro, então só aí percebi que fui realmente aceita. Ainda lembro-me de cada palavra na mensagem dizendo que eu certamente estava pronta para cursar psicologia.

Retirei o cinto de segurança, abrindo a porta do carro logo em seguida. Peguei minha mochila do banco de trás e caminhei até o prédio.

Quando pisei na escada de entrada da universidade, fechei meus olhos e suspirei fundo. Eu realmente estava ali, pronta para entrar na faculdade. Abri meus olhos novamente, voltando a caminhar.

Você está pronta, Clark?

Eu sempre estive, Devil.

Com toda a segurança do mundo, caminhei até a porta principal. Meu sonho sempre foi estudar aqui e, agora, isso está realmente se realizando.

Entrei no local, avistando vários universitários pelo o corredor extenso. Então, logo ao meu lado direito, havia algumas pessoas pegando um papel azul. Tentei me lembrar se aquele era um papel necessário, já que na mensagem tinha as instruções.

Peguei meu celular, pronta para buscar a mensagem que eu havia recebido. Eu certamente não entraria em uma fila caso aquela folha não fosse tão necessária assim.

— Perdida? — levei um susto ao escutar uma voz rouca ao meu lado mas, mesmo assim, isso causou-me arrepios. Eu conhecia muito bem o dono daquela voz. Desviei meu olhar do celular e encarei a parede.

Não podia ser. Eu nunca imaginei que o encontraria de novo. Ainda lembro-me quando ele tinha apenas dez anos e estava chorando sobre o caixão do irmão. Ele nunca demonstrou afeto, mas quando viu aquela criança no caixão, ele simplesmente desabou.

Meu corpo ficou sem reação por um tempo. Eu não queria vê-lo. Mas quando me convenci a virar, vi ele bem ali, diante de mim.

Dylan Lewis.

Irmão de Jimmy Lewis.

Encarei seus olhos castanhos-claros, os quais herdou de sua mãe. Seu cabelo estava um pouco comprido e ele era bem maior que eu. Ele estava usando uma jaqueta preta e em sua mão direita tinha um cigarro.

Dylan — sussurrei — Não esperava encontrá-lo aqui.

Ele sorriu, não descolando os lábios. Seu olhar estava fixo em mim, não desviando uma só vez. Então me aproximei um pouco dele.

Eu também não esperava vê-la aqui, Clark — falou me deixando surpresa por lembrar meu sobrenome, mas mantive meu olhar sério — Aquele papel ali, o azul, é para ver suas aulas.

Desviei meu olhar, voltando a olhar o pequeno suporte transparente do papel.

— Obrigada! — falei voltando a olhá-lo — Cigarros são proibidos aqui.

Ele olhou para sua mão, aonde o cigarro se encontrava e logo voltou a me olhar com um sorriso nos lábios.

— Eu não estou nem aí, Clark — falou se virando para ir embora, mas antes de seguir seu caminho, ele falou — Nos vemos por aí.

Eu espero que não, Dylan.

(...)

Sentei-me em um banco na área aberta da faculdade, enquanto eu deslizava meu dedo sobre as linhas do livro, iniciando a leitura do mesmo.

Era um livro indicado pelo professor James, já que o mesmo falará sobre o conteúdo desse livro. O vento forte insistia em fazer as páginas virarem rapidamente várias vezes.

— Acho melhor estudar lá dentro por quê, sinceramente, esse vento não irá colaborar com você — uma voz feminina ecoou em minha cabeça, me fazendo levantar a cabeça para encarar a dona daquela voz.

Sua maquiagem preta era extremamente carregada, destacando seus olhos verdes. Seu cabelo era um loiro liso pintado, e podia-se ver a raiz preta crescendo. Deslizei meu olhar sobre seu corpo, vendo sua camiseta e calça jeans preta também.

— E quem é você? — perguntei a encarando séria. Ela não se abalou, já que também me encarava da mesma forma.

— Noemy, estudante de engenharia — falou mordendo o lábio inferior, enquanto os pelos de seus braços estavam completamente arrepiados pelo frio — Bom, pelo jeito você quer ficar aqui nesse frio, mas eu não. To indo nessa.

Ela se virou, pronta para seguir seu caminho rumo ao prédio da universidade. Ela era completamente estranha, e isso me deixou menos tensa.

— Alyson! — falei fazendo-a virar com um sorriso de canto de boca — Alyson Clark — completei fazendo com que ela se aproximasse.

Então recolhi minha bolsa do banco e fiquei ao seu lado. Ela ainda mantia seu sorriso de canto de boca, porém, eu, a encarava séria ainda.

— Vamos entrar! — falei fazendo com que ela andasse ao meu lado.

Oras Clark, ela me cheira a problema.

E eu, sinceramente, gosto disso.

(...)

Estacionei o carro na garagem de casa, pronta para mais um dia em que eu encontraria Lauren no sofá sobre as lágrimas salgadas. Ela não se cansava de se sentir derrotada.

Toda vez que eu dizia algo a ela, a mesma só deixava os lábios entreabertos e, mesmo assim, nenhum som saía de sua boca. Isso me deixava irritada, pois ela estava aceitando a própria destruição.

Caminhei até a porta, ouvindo uma voz feminina dentro de casa. Aquela voz com certeza não era de Lauren. Não mesmo. Abri a porta encontrando uma mulher de idade sobre o sofá.

Quando seus olhos encontraram os meus, sua expressão mudou imediatamente. Era como se ela pudesse me ler, como se pudesse saber de todos meus segredos.

Ela está sentindo sua alma horrível, Alyson.

Isso será divertido.

Não era a primeira vez que eu a via, já que ela insistia em visitar nossa casa quando eu era apenas uma criança. Ela se recusava a chegar perto de mim, mas não deixava isso claro para meus pais. Ela sempre soube que algo estava errado comigo, mas nunca disse isso para ninguém.

Percorri meu olhar pela sala, vendo Lauren deitada sobre o sofá, deixando as lágrimas inundarem o mesmo.

— Alyson! — a voz da velha me chamou atenção — Vá para seu quarto, sua mãe não está bem.

Assenti mostrando um sorriso para ela. Então ela me encarou mais séria ainda, como se tentasse me intimidar.

E talvez ela consiga, Clark.

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