Capítulo dez

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19 de janeiro, 2005.

       Eu não queria olhar para ele, não queria vê-lo fazendo aquilo comigo. Ele gritava coisas absurdas, como se aquilo fosse extremamente prazeroso. Sua mão percorria por todo meu corpo, e implorar para ele parar já não era uma opção.

Então eu apenas fiquei de olhos fechados e calada.

Ele queria uma reação, algo que parecesse bom aos seus olhos. Mas eu só conseguia me sentir suja. Eu tentei até pensar em coisas boas, algo me levasse para longe dali, mas enquanto suas mãos permaneciam pelo meu corpo, isso seria impossível.

— Olhe para mim, vadia! — falou segurando meu rosto com força, me forçando a abrir os olhos e vê-lo ali.

Ele estava irreconhecível e eu só conseguia sentir medo. Ele se empurrava para dentro de mim, mas a dor física não me abalava tanto quanto a dor emocional.

Eu estava completamente destruída.

Lágrimas começaram a escorrer pelos meus olhos e soluços escapavam dos meus lábios. Eu já não o aguentava mais ali, em cima de mim dizendo coisas sujas.

— Pare, por favor! — falei tentando retirá-lo dali, mas eu não tinha forças. Eu não conseguia mais.

— Ah, eu sei que você está gostando — falou batendo em meu rosto com força.

Então fechei meus olhos novamente, tentando procurar refúgio em mim mesma. Mas enquanto ele me usava chamando aquilo de sexo, descobri que não tinha mais meu corpo.

Sou só restos.

Quando ele finalmente se afastou, pude sentir um alívio me dominar. Apenas colocou suas roupas com um sorriso malicioso em seus lábios.

— Querida, você sabe que se contar isso para sua mãe terei que matá-las né? — falou já vestido e vindo em minha direção até beijar minha testa — Isso será nosso segredinho.

Então ele saiu do quarto, me deixando sobre a cama molhada de sangue. A primeira coisa que fiz foi tampar meu corpo nu, sentindo medo da minha própria sombra.

Minha parte íntima doía, não me deixando andar. Então fiquei a tarde inteira na cama, implorando para que aquilo fosse um pesadelo e que eu conseguisse acordar o mais rápido possível.

Então a ficha caiu quando eu soube que aquilo jamais fora um pesadelo.

(...)

Encarei meu prato sem sentir fome, não conseguiria colocar metade daquela comida na boca. Meu estômago se revirava ao ver Franklin agindo como se nada tivesse acontecido lá em cima.

— Você se comportou hoje, Alyson? — a pergunta da minha mãe veio como um soco no estômago, me fazendo segurar as lágrimas que queriam sair.

Então antes que eu pudesse formular uma resposta que não entregasse aquele que diz ser meu pai, ouvi Franklin responder:

— Claro que sim, você sabe como a Alyson é quieta e obediente — depois que essas palavras vazias saíram da boca dele, só pude ver o sorriso no rosto da minha mãe.

Então ficamos em silêncio. Às vezes minha mãe tentava puxar qualquer assunto, algo que faria aquele silêncio acabar. Mas eu só sentia vontade de correr para nunca mais vê-lo.

Eu continuava a passar o garfo pela comida, sem ao menos comê-la. Suspirei fundo e me levantei, dizendo que não estava com fome.

— Coma só um pouco, filha — minha mãe falou antes que eu pudesse ir para meu quarto.

— Deixe-a ir, Lauren. Ela só não está com fome — nessa mesma hora eu corri até meu quarto, eu não conseguia suportar a voz dele.

Quando finalmente fechei a porta atrás de mim, me sentei no chão frio do meu quarto e chorei. A dor me consumia, como se jamais fosse desaparecer.

— Por que você não o impediu, Devil? — perguntei baixinho, torcendo para que ele aparecesse.

Mas foi em vão, já que minha resposta nunca chegou.

(...)

20 de janeiro, 2005.

Eu queria gritar, pedindo para que ela não fosse. Eu não suportaria estar ao lado dele mais uma vez, não quando ele só exalava perigo.

— Por favor, fique comigo hoje mãe — pedi tentando não parecer desesperada — Queria passar um dia com você.

Então ela se agachou, acariciando meu cabelo. E enquanto ela sorria, apenas sentia minha garganta arder enquanto o choro queria vir.

— Oh querida, eu realmente preciso ir para o trabalho hoje. Nós podemos fazer isso depois, certo? — quando ela se levantou, apenas agarrei o braço dela, mas antes que eu pudesse pedir novamente, ela continuou: — Alyson, por favor! Você já tem sete anos, céus!

Então eu a soltei, deixando-a sair de casa. E depois que a porta foi fechada, pude ouvir passos vindo em minha direção. Eu não queria me virar, eu apenas queria fugir dele.

— Se fizer isso de novo, irei acabar com você duas, entendeu? — sua voz me atingiu em cheio, fazendo meu estômago revirar — Acho melhor controlar essa sua língua.

Apenas assenti, ainda olhando para a porta em que Lauren havia saído. Então senti sua mão fria pegar em meu braço, me fazendo virar.

— Então apenas fique quietinha, certo? — balancei a cabeça concordando, enquanto ele me levava para seu quarto.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me jogou sobre sua cama. Quando senti seu corpo ficar sobre mim, torci para que Lauren voltasse por esquecer alguma coisa. Eu só queria que ela me salvasse.

Mas naquela manhã eu não escapei.

Naquela manhã, tudo piorou.

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