Eu a observo.
E sei que ela está disposta a ganhar esta guerra.
E está jogando contra uma pessoa morta.
E por mais que ela tenha a certeza que o fim será a vitória que tanto quer, ela também sabe o quando isso está a machucando.
Não quero estar por perto, pois sei que ela não precisa realmente de mim. Ela é forte o suficiente.
E eu não sou.
.DEVIL.
21 de outubro, 2016.
Ela está parada em frente ao túmulo de sua mãe, olhando-o como se tentasse acreditar que o resto dela está ali.
É a primeira vez que ela coloca os pés nesse lugar.
— Estou em uma grande confusão! — ela finalmente fala, chamando minha atenção — Coloquei um homem nesse jogo, mãe. Ele está disposto a se arriscar, mas não sei até aonde ele pode chegar. Não quero ser pega!
Coloco o cigarro entre meus lábios, enquanto vejo Alyson se colocar de joelhos na frente do túmulo. Seus dedos estão trêmulos, como se ela precisasse descontar sua raiva em algo.
Jogo meu cigarro fora e caminho até ela, vendo que seus olhos estão fechados. Então me coloco de joelhos em sua frente, acariciando seu rosto. Ela não se move, mas sei que ela pode me sentir.
Eu não te abandonei. Você consegue sem mim, Alyson.
Respiro fundo e continuo, mesmo sabendo que ela já não pode me escutar. Não quero ela se lembre de como é me ter ao seu lado.
Eu me apaixonei por você. E, ah, você não sabe o quanto isso errado.
Eu não posso mais. E, no fundo, você sabe o que fazer.
Então ela abre os olhos, me fazendo parar por um momento. Sei que ela está vendo o cinza do lugar e as árvores. Já eu a vejo, como nunca consegui ver antes.
Eu vejo uma mulher.
— Espero vê-la de novo! — sua voz soa abafada em meio ao choro que se iniciou agora — Não a quero só em meus sonhos, mãe. Quero poder tocá-la.
Retiro minha mão de sua bochecha e me levanto. Puxo uma quantidade suficiente de ar para os meus pulmões.
— Eu estou tentando, juro — então ela se levanta e toca as letras que compõe o nome de sua mãe no túmulo — Vou tentar não sujar meu caminho com mais sangue, mas não posso prometer. Às vezes parece impossível — ela suspira e limpa as lágrimas que escorrem de sua bochecha — E se no fim não der certo, juro que me encontrarei com você.
Não. Suicídio não.
Tento controlar a vontade que tenho de aparecer e abraçá-la, mas minha mente grita para que eu apareça.
Você não quer fazer isso, não é mesmo? — escuto sua voz e sinto sua mão tocar meu ombro — Não me faça acabar com essa merda, Devil.
Balanço a cabeça em negação. Sei que não posso me arriscar quando ele está no meio.
Tudo bem.
Então ele retira sua mão de meu ombro e sussura em meu ouvido.
Você sabe quem eu sou, não é?
Sei.
Ele suspira e continua:
Quem eu sou?
Fecho os olhos e respondo:
Um anjo caído.
(...)
Sento no gramado da área aberta da faculdade, esperando vê-la sair. E, mesmo que eu não pudesse acreditar, ela saiu daquele cemitério como se fosse outra pessoa. Seu rosto estava sério e ela andou confiante até a sua sala.
Ela voltou a ser aquela pessoa.
Suspiro e me encosto no tronco da árvore esperando ela. Porém, vejo Dylan se aproximar com um cara ao seu lado e ele logo se senta em um banco.
— Você vai? — o cara ao seu lado pergunta enquanto coloca algo em sua mochila.
— Não sei! — Dylan fala passando a mão na testa e solta um suspiro — Não gosto muito dessas reuniões de família, cara. Meu irmão não está lá, então não faz sentido.
Sinto um desconforto percorrer pelo meu corpo.
— Sei como ainda é difícil pra você, mas você não pode anular a existência e a importância que eles têm! — seu amigo suspira e encosta as costas no banco — Eles estão vivos, aproveite.
Dylan parece pensar por um momento e nega com a cabeça.
— Está incompleto. É tão... vazio.
Olho para frente, tentando não prestar atenção em mais nenhuma palavra.
Você não é o culpado, então por que está evitando?
Me viro e vejo Jimmy ao meu lado. Ele parece perdido e vejo apenas mais uma alma presa entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos.
Ele não sente realmente minha falta. É só que brigávamos muito e ele só começou a ser um irmão mesmo quando foi estudar longe.
Olho para frente mais uma vez, evitando-o.
É culpa.
Ele ganha a minha atenção e eu apenas concordo rapidamente.
E quem não tem? — pergunto.
Ele sorri.
Todos nós temos.
Dou um sorriso de canto de boca e me viro para ele.
Sim. E, garoto, já está na hora de tomar sua decisão. Você está há muito tempo tentando resolver aquela questão.
Ele nega com a cabeça.
Não consigo.
Consegue sim. Estamos todos mortos, aceite — falo e me levanto quando vejo ela sair da faculdade
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DEVIL.1
RomanceOBRA INICIADA: 02/08/2018. FIM: 12/01/2019 |1° Lugar na primeira edição do concurso Atlantis em Romance| Uma série de assassinatos estão acontecendo na pacata cidade do Texas, McKinney. Agora, Alyson, sabe que todo o cuidado é pouco quando há uma gr...