capítulo vinte

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Ei, depois que você finalmente começar algo

Você terá que se preparar para as consequências

E eu estava mais do que preparada

              23 de outubro, 2016

Dia vinte e três, seis horas da tarde.

Posso ver o seu rosto na janela da sala. Ele está vendo aquilo que havíamos prometido que nunca aconteceria.

Ele está vendo a minha queda.

Respiro fundo e sou colocada no banco de trás da viatura. E mesmo assim continuo olhando para Devil.

desculpa.

Mesmo ele estando muito longe da viatura, posso escutar sua voz muito próxima ao meu ouvido.

Olho para frente quando o policial coloca o carro em movimento e quando volto a olhar para a janela, ele já não está mais lá.

Fecho os meus olhos e me encosto no banco do carro. Quero esquecer cada detalhe da minha vida.

Mas, agora, as memórias estão tão vivas na minha mente.

...

Arrasto os blocos coloridos para o meio da sala.

Ele está sentado na poltrona, enquanto fuma um cigarro.

O ignoro e coloco cada bloquinho em cima da mesa de centro. Me esforço para fazer uma casa com eles.

Mas então ele senta de frente para a mesinha. Suas mãos são ágeis e logo a casa está pronta.

— Não gosto quando você brinca comigo, Devil — falo puxando os blocos.

Ele sorri e apaga o cigarro com a ponta do dedo.

— Mas os demônios gostam de brincar com as crianças — ele fala entediado — Eu fico ao seu lado o dia inteiro e você só faz isso, pequena Clark.

Então escutamos o barulho da porta e já sabemos que Franklin está entrando.

— Vá para o porão — ele fala me olhando com urgência.

Eu o obedeço. 

Quando chego lá, fico sentada no banquinho do piano velho.

— Só suba quando sua mãe chegar.

— Ele vai descer, Devil — falo sentindo o desconforto — Ele vai me obrigar a subir.

Ele respira fundo e se aproxima.

— Só suba quando sua mãe chegar — ele fala outra vez.

Concordo.

Logo escuto a voz de Franklin me chamando. Meu corpo se arrepia o medo me invade.

— Eu sempre vou sentir medo, Devil? — pergunto chamando sua atenção.

Ele me olha e sorri.

— Você sente medo quando estou ao seu lado, pequena Clark? — ele pergunta.

— Às vezes.

— Por quê?

— Porque, às vezes, o meu maior medo é você.

...

Abro os olhos e vejo a viatura parar em frente a delegacia.

(...)

                  24 de outubro, 2016.

Meu rosto está estampado nos jornais e imagino o nojo que as pessoas estão sentindo de mim. E sei como é, porque foi exatamente isso que vi nos olhos do delegado.

E depois de todo o processo doloroso do interrogatório, aqui estou eu novamente, olhando para o delegado.

Estou sentada em sua frente e os nomes das pessoas que matei estão em um papel.

— O exame de sangue está pronto — ele fala deixando vários pápeis em cima da mesa — Nenhuma doença sexualmente trasmissível, não tem hepatite, mas tem uma coisa aqui, Alyson Clark.

Continuo o olhando com calma.

— Você está grávida.

Toda minha calma some quando ele solta aquela frase de uma vez.

Não.

— Com quem você teve relações nas últimas semanas, Alyson Clark? — ele pergunta sério.

— Dylan Lewis — deixo seu nome escapar como uma confissão e quando percebo que falei em voz alta, fecho os meus olhos.

O delegado pede para os policiais me levarem novamente para a cela. Sei que não serei trasferida para um presídio feminino e sim para um hospital  psiquiátrico. É isso que eles vão fazer comigo.

Sentada no chão frio, deslizo minha mão pela barriga. Não quero acreditar que isso seja verdade. Eu não posso ter um filho de Dylan Lewis.

Algumas lágrimas caem e eu me vejo sem chão. Não posso ter esse filho. Eu preciso tirá-lo.

Clark.

Escuto sua voz e o vejo sentado no colchão velho.

Me aproximo e me sento ao lado dele.

Sua mão repousa na minha barriga.

É um menino.

— Eu não posso — sussurro — Você precisa me ajudar.

Ele me olha com urgência, mas nega.

Eu não posso nem estar aqui, Clark.

O olho sem entender. Tento convencê-lo, mas ele se nega.

Eu não sou mais o seu demônio, Clark. Eu me apaixonei por você e isso é errado de tantas forma. Eu nem deveria estar aqui.

Ele se levanta e eu o puxo. Seus dedos estão trêmulos e gelados.

— Por favor — sussurro.

Ele me olha e fecha os olhos.

Me perdoe, Clark.

(...)

            27 de outubro, 2016.

Abro os olhos e encontro as mesmas paredes brancas dos últimos dias. Vejo a enfermeira retirando a agulha do meu braço e depois que ela guarda tudo, apenas sai da sala.

Mas depois que ela se retira, vejo Darla entrar e se sentar ao meu lado.

— Olha aonde você está, Alyson — Darla fala colocando sua bolsa em cima do colo — Em um hospital psiquiátrico.

Olho para ela com dificudade.

— Por que não me entregou naquela dia, Darla? — pergunto a olhando — Mesmo depois de eu ter dito tudo.

Ela se levanta e vem até mim.

— Eu sabia que você se entregaria em algum momento — ela murmura — Mas eu queria ter dito aos policiais que foi você, mas eu não tinha provas.

Concordo.

— Eu era pequena — falo a fazendo me olhar com curiosidade — Você me perguntou o motivo, então... — ela assente — Franklin me colocava na cama dele, enquanto minha mãe trabalhava. Ele dizia que era amor e carinho, mas aquilo era estupro Darla.

Ela me olhou com calma.

— Eu sinto muito, Alyson.

Assinto e olho para o teto.

— Eu preciso de sua ajuda — sussurro, esperando estar certa

— O que você precisa?

— Eu preciso que Dylan Lewis esteja aqui.


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