Capítulo doze

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              19 de janeiro, 1981

DAVID HALL.

              Seus lábios estavam entreabertos, enquanto estava ofegante. Ela me encarava com medo, como se eu fosse um maldito monstro.
Mas eu não sou um. Não sou.

Ela se rastejava até a pequena mesa da sala, talvez procurando por algo que lhe passasse segurança ali. Mas ela devia entender que não adianta correr, não mais.

Caminhei lentamente até ela e então vi horror em seus olhos azuis. Lágrimas escorriam pelo seu lindo rosto. Então me agachei, olhando-a.

— Por favor David, não - ela falou afundando as mãos em seu rosto — Não faça isso.

Enquanto eu a olhava, todas as lembranças me vieram a mente. Éramos próximos, até demais. Ela sabia meu segredos, até os mais sombrios. Só que ela não conseguiu ficar de boca calada.

Então eu tenho que parar ela.

Agora.

—  Nós sabemos que você não pode ficar viva, não quando quer me ferrar assim, Dayse - falei segurando sua cabeça, fazendo com que ela se aproximasse lentamente — Vai ser rápido.

Enquanto seu corpo implorava por oxigênio e minhas mãos não o deixava entrar, Dayse morria lentamente em minha frente. Sua boca estava perdendo a cor, assim como todo seu rosto também.

Durante toda minha vida, por mais breve que tenha sido, nunca pensei que um dia eu mataria Dayse Hall, minha irmã. Então, por mais que doa matá-la, sei que essa é a unica opção.

— O que você está fazendo? — ouvi a voz de Sam e ao olhar para o lado, vi ele correndo até mim desesperado — Para, pelo o amor de Deus.

Então ele me empurrou, me afastando de Dayse. Então quando ele a acolheu em seus braços, nós dois já sabíamos que seu corpo não tinha mais vida. O som do choro de Sam ecoou pela sala, enquanto suas lágrimas molhavam o rosto da garota.

Ele me olhou como se pudesse me matar, e sei que ele faria isso se tivesse a oportunidade. Sam jamais me aceitou, sempre soube o problema que eu sou. Mas quando meu pai pediu para que ele deixasse Dayse e eu morar em sua casa, ele não pensou em negar, até porque ele nunca recusaria isso para seu irmão.

Ele só é um maldito padre que passa a imagem de um bom homem para todos em nossa volta, mas quando as cortinas se fecham o show de horrores começa.

Me levantei rapidamente, vendo o olhar de Sam me acompanhar. Não sinto dó, jamais sentiria isso por ele.

— Eles estão vindo, os policiais — falou enquanto pude escutar o som da viatura se aproximar da casa — Isso acaba agora, David.

Então uma risada sarcástica saiu dos meus lábios. Caminhei até a escada, enquanto a voz de um policial surgia de fora da casa pedindo para que todos saíssem. Mas eu não parei, não mesmo.

Quando cheguei ao banheiro, vi meu rosto cansado pelo espelho pequeno. Abri a última gaveta do pequeno armário ali, tirando de lá uma lâmina.

— O jogo só acaba quando eu quero, tio Sam — falei passando a lâmina em meu braço enquanto o sangue quente caía no chão.

A última coisa que vi foi um policial entrando no banheiro.

(...)

               20 de Fevereiro, 1998.

A encarei deitada sobre o colo de sua mãe, enquanto suas mãos pequenas tocavam a pequena manta que a cobria. Naquele momento ela estava descobrindo o mundo.

— Como ela irá se chamar? — a enfermeira perguntou sorrindo para a mulher que segurava o bebê firmemente.

Então a mulher acariciou a bochecha rosada do bebê, enquanto sorria discretamente.

— Alyson — falou voltando olhar para a enfermeira — Alyson Clark.

Então a criança passou a olhar em minha direção, como se pudesse realmente me ver. E por algum motivo, eu sabia que ela conseguia.

Eu não sabia o motivo de estar ali, ou melhor, não sabia o motivo de estar de volta na terra. Nada fazia sentido.

Você deve estar ao lado dela, sempre.

Olhei para o lado vendo um homem. Seu rosto não estava exposto, mas eu sei exatamente quem ele é. Sei perfeitamente que cada palavra que sai de sua boca é meu fim. Ele é o pai de todos os demônios.

Você será a parte ruim dela.

Então eu olhei para o bebê, que agora sorria para mim. Seus olhos eram profundos.

Eu não posso, não mesmo. Eu sou apenas o David.

Enquanto as palavras escapavam de minha boca, pude ouvir uma risada escapar de seus lábios.

O jogo só acaba quando eu quero.

E você não é mais o David.

Você é o próprio diabo agora, Devil.

DEVIL.1Onde histórias criam vida. Descubra agora