Capítulo dezessete

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Você sabia que eu estava acabando com minha vida naquele exato momento.

Então por que você deixou?

20 de janeiro, 2015.

O barulho do meu salto ecoava pelo o chão de madeira. A música alta preenchia meus ouvidos e as risadas se espalhavam pelo o bar. Alguns homens me analisavam, como se eu fosse algo que não se encaixava naquele lugar.

Caminhei até o barman, pedindo apenas um suco, já que eu precisava estar sóbria. Aquela seria uma conversa extensa, com alguns porquês e afins.

Você não presta, Clark.

Devil se sentou ao meu lado com um sorriso no rosto. Ele sabia que aquele era um jogo perigoso, caso aquele homem não aceitasse a proposta. Estávamos em meio a uma guerra, a qual eu não poderia perder.

— Eu sei — falei baixinho bebendo o suco que o Barman colocou em minha frente — Mas não quero que as consequências batam na minha porta depois que eu matar o Franklin.

Então ele se aproximou e acariciou levemente minha bochecha e não deixou de me olhar nem por um segundo.

As vezes me pergunto aonde aquela garotinha frágil se perdeu.

— Ela não se perdeu, Devil. Ela apenas está morta — falei acabando com o contato entre a gente — Para sempre.

Ele sorriu e logo se encostou no balcão.

— Espero que não tenha me esperado por muito tempo — levei um susto quando sua mão deslizou pelas minhas costas. Me virei vendo-o se sentar ao meu lado — É muito bom vê-la, Alyson.

Devil o olhava atentamente, como se tivesse uma escrito na testa do homem "perigo, afaste-se".

— Obrigada por vir, Robert — falei acariando sua mão que estava sobre o balcão.

Então ele me olhou como se eu fosse a gazela prestes a ser devorada, mas no fundo ele sabia que eu era a Leoa que estava prestes a atacá-lo.

Robert Cruise consegue ser pior que você, sinto isso.

— Bom, a pergunta do porquê você me ligou hoje de manhã para se encontrar não saiu da minha cabeça — ele falou com um sorriso maldoso nos lábios, enquanto retribuía o gesto.

Peguei o copo e bebi todo o suco de uma vez, esperando a coragem vir para eu poder finalmente dizer que ele seria a cobaia, ou melhor, minha armadura.

— Bom, — umedeci os lábios e coloquei o copo no balcão — primeiramente, meu pai não sabe que estou aqui, principalmente com você.

— Eu sei, ele jamais a deixaria chegar perto de mim — falou pedindo uma cerveja ao barman — Mas pelo o jeito você não obedece as regras, Clark.

O olhei atentamente, calculando cada gesto e cada palavra que sairia da minha boca. Mas Robert estava leve, como se nada realmente importasse.

— Fiquei sabendo que as coisas com ele no trabalho estão se tornando cada vez mais difíceis — o olhei de canto de olho, vendo seu rosto mudar rapidamente; agora seu rosto está sério — Ele pretende ir para Las Vegas nesse final de semana.

Ele se virou e me olhou incrédulo. Pude ver a confusão tomar conta dele, como se o que eu disse foi a pior coisa que ele já escutou.

— Las Vegas? — perguntou pegando em meu queixo me fazendo virar bruscamente — Como assim, porra?

Um pequeno sorriso nasceu em meus lábios. Agora chegamos aonde eu queria. É aqui que a brincadeira começa.

— Ele irá pra poder expandir os negócios. Ele disse alguma coisa do tipo... — parei por um momento e respirei fundo — Ele disse que o Santiago pediu para que ele fosse.

As vezes me pergunto se você não é o demônio dessa relação.

— Você está enganada, garota — ele falou tomando toda sua cerveja rapidamente e bateu o copo com força no balcão — Santiago pediu para que eu fosse.

Me levantei e fiquei atrás dele, passando a mão pela suas costas até seus ombros, logo me aproximei de seu ouvido e sussurrei:

— Ele quer te passar para trás.

Seu corpo ficou tenso imediatamente.

— Por isso quero ajudá-lo.

Ele se virou e me encarou friamente. Ele concordou com a cabeça e eu sorri. Algo em mim sabia que ele aceitaria tudo, já que ele sempre odiou meu pai.

— Eu irei matá-lo.

Um sorriso nasceu em seus lábios, mas eu permaneci séria. Foi naquele momento que ele soube que eu não estava brincando.

Não mesmo.

(...)

10 de setembro, 2016.

Minha mãe arrumou sua gravata pela milésima vez naquela manhã. Um sorriso estava estampado em seu rosto, como se ninguém pudesse acabar com o seu dia. Em menos de dois dias ele estaria em Las Vegas, como planejou durante um ano e pouco.

Continuei sentada no último degrau da escada observando minha mãe sorrir para ele, desejando boa sorte na reunião que ele participaria para tratar sobre a expansão dos negócios em Las Vegas.

— Você vai conseguir, sei disso — Lauren falou beijando sua boca por longos segundos — Apenas relaxe!

Então ele se virou e me olhou com um sorriso na cara. Ele era um ótimo ator, já que Lauren nunca desconfiou de nada. E então ele abriu os braços a espera de um abraço de boa sorte.

Me levantei e arrumei a minha saia. Quando seus braços rodiaram minha cintura, fechei os olhos e decidi não me abalar com aquele contato.

— Boa sorte, pai — falei me afastando — Tenho certeza que vai se sair bem.

Minha mãe trouxe a maleta dele e ele apenas me olhou como se eu fosse apenas um pedaço de carne que ele devoraria pela noite.

— Obrigado, filha.

Quando ele saiu, voltei a respirar. Apenas fui para o banheiro e retirei minha roupa para me limpar.

A água deslizava pelo o meu corpo, mas eu ainda me sentia suja. Me perguntei se Lauren acreditaria que seu marido fazia aquilo comigo. Ela se separaria? Ela me ajudaria?

O celular tocou no bolso da minha saia jogada na pia, então apenas desliguei o chuveiro e o peguei.

— Sou eu, Robert — ouvi sua voz grossa do outro lado — É amanhã. Está pronta?

E então a ansiedade se espalhou por cada canto do meu corpo. Seria amanhã que eu o veria assustado e pedindo por socorro.

11 de setembro eu o veria morto.

DEVIL.1Onde histórias criam vida. Descubra agora