vinte e um

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               01 de Dezembro, 2016.

Volto para o quarto branco, tentanto não sentir falta da área aberta do hospital. Queria poder ficar lá o tempo todo, mas é nesse quarto que eu fico a maior parte do meu dia.

Trancada e jogada na cama.

— Como você está? — a enfermeira loira pergunta enquanto entra no quarto com os medicamentos.

Fico em silêncio. É assim que eu estou há mais ou menos dois meses. Eu não consigo falar com eles.

— Você tem consulta com a psicóloga hoje de tarde, Alyson — ela fala passando o algodão em meu braço e logo em seguida a agulha — Seria bom se você falasse dessa vez.

Assinto e passo a mão na barriga, sentindo o quanto ela cresceu nos últimos dias.

Estou tentando me acostumar com esse ser aqui dentro.

A enfermeira olha para mim e eu afasto a minha mão o mais rápido possível.

— Ele está aqui Alyson — ela fala e sinto o medo invadir o meu corpo — Dylan Lewis está lá fora preenchendo a ficha, daqui a pouco ele vai entrar.

Assinto. Eu estou preparada.

Após alguns segundos ela sai.

Sinto que vou explodir de medo.

A porta se abre e o vejo. Ele está com uma jaqueta de couro e com o cabelo molhado, talvez pela chuva.

Ele fecha a porta e respira fundo. Seu corpo está tenso e eu estou preparada para as coisas que ele irá dizer.

— Eu deveria matá-la — ele murmura e me olha sério. Seus olhos estão vazios — Se você não estivesse com essa criança aí, eu a mataria sem nenhuma piedade, Clark.

Fico em silêncio.

— Você matou o Jimmy, sua filha da puta — algumas lágrimas caem de seus olhos — Eu me perguntava quem seria a maldita pessoa que fez isso com ele durante muito tempo, e a pessoa estava do meu lado. Como eu não percebi.

— Desculpa — sussurro e ele me olha.

— Cala a boca — ele grita e eu me encolho na cama — Quando essa criança nascer Alyson, eu farei o teste de DNA. Se ele for realmente o meu filho, eu farei de tudo para você nunca mais vê-lo.

Ele se vira.

— Dylan... — murmuro.

— Eu espero que você sofra tanto quanto o Jimmy — sua voz está carregada de ódio — E o seu filho nunca saberá da sua existência.

Ele me olha mais uma vez e sussurra.

— Eu amava você — o olho surpresa — Eu amava um monstro.

Ele sai do quarto e eu viro meu rosto, emcontrando a parede branca sem vida.

(...)

                10 de Julho, 2017.

Abro os olhos e sinto as dores novamente. Elas estão me matando. Queria apenas não sentir essa criança sair de dentro de mim.

— Faça força — o médico grita pela milésima vez.

Sinto o olhar de Dylan sobre mim. Ele nunca mais apareceu depois daquele dia, mas agora está ali, me olhando.

Faço mais força e torço para que essa criança saia o mais rápido possível.

— Doutor, ela está perdendo muito sangue — escuto uma voz feminina invadir os meus ouvidos.

Ignoro o comentário dela e faço mais força.

Você consegue.

Não acredito que ele está ali depois de tanto tempo.

Olhe para mim, Alyson.

Tento não fechar os olhos, mas parece cada vez mais difícil.

Você não pode desistir. Só faça mais um pouco de força. Vai ficar tudo bem.

Fiz mais força e logo escutei o choro alto da criança ecoar. Depois de alguns minutos a enfermeira o colocou em meu colo. Dylan se aproximou depois de um tempo.

Tentei permanecer de olhos abertos apenas para olhá-lo. Quando ele abriu os olhos, vi o quanto ele parecia com Dylan.

— Oi bebê — sussurro o tocando na bochecha.

Seus lábios se curvam em um pequeno sorriso, sei que deve ser outra coisa, só que pareceu tanto com um sorriso.

Meus olhos se fecham e as vozes estão distantes demais.

— Alyson — escuto a voz de Dylan distante demais — Alyson, abra os olhos.

As vozes ficam altas, escuto as enfermeiras e o médio falando alguma coisa. Eu não consigo entender.

Alyson, abra os olhos.

— Não consigo, Devil — sussurro com dificuldade — Eu sinto que estou pronta.

O choro do bebê surge novamente e sinto a sua mãozinha tocar meu rosto.

Você está pronta?

Sei o que ele quer dizer. Mas quero olhar para o bebê novamente. Me forço a abrir os olhos e o vejo no colo de Dylan, bem próximo a mim.

— David Lewis — murmuro para Dylan — Quero que ele se chame David Lewis.

Dylan assente e eu vejo a enfermeira mover a maca, me levando para uma outra ala.

— Eu estou pronta, Devil — falo sentindo as dores em meu corpo.

Vem comigo, Clark.

Sua boca cola na minha e não sinto mais nada.

Tudo sumiu. A dor, as vozes, tudo.

DEVIL.1Onde histórias criam vida. Descubra agora