Capítulo quinze

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Vê-lo partir me rasgou ao meio.

Estávamos acabados. Passamos boa parte da minha vida de mãos dadas andando até o precipício. Ele era tão frio quanto a morte, mas às vezes se deixava ser tão quente como a vida.

Você se foi quando soube que ficar ao meu lado é estar no puro caos.

12 de outubro, 2016.

Coloquei o copo sobre a mesa, enquanto ele olhava atentamente para mim. Estávamos em silêncio desde o momento em que deixei a casa de Dylan sem ao menos me despedir.

Sinto a insegurança tomar conta de mim cada vez que tento dizer qualquer coisa para Devil, como se eu fosse cutucar sua ferida exposta.

Faça suas perguntas, Clark.

O encaro surpresa, vendo seu rosto sério. Ele está mordendo levemente o lábio inferior, enquanto mexe os dedos sem parar.

— Por quê? —  pergunto baixo, tentando tocar no assunto delicadamente - Por que só agora, Devil?! Eu não entendo o porquê não me contou antes, eu me sinto...

Inútil?

Sua pergunta veio como um soco no estômago, mas não deixa de ser verdade. Me sinto inútil ao ver como ele estava preso nisso, quando eu estava ali, diante de seu pior pesadelo, vendo-o como um santo.

Não importa o quanto se culpe, Clark. Sua pena por mim não mudaria os fatos, não mudaria nada do que ele me fez.

Eu ainda carregaria a dor, a mágoa e, sobretudo, o ódio por ele.

Mordo meu lábio inferior, pegando o copo sobre a mesa e bebendo a água. Enquanto suas palavras não deixavam de ocupar um lugar em minha mente, me lembrei de como me senti em ter as pernas arreganhas por um homem que deveria ser meu pai. Um homem que deveria me ajudar com a lição de casa, não me obrigar a sentir seu pênis dentro de mim.

Agora eu já não consigo encará-lo, já que me vejo nele. O quão horrível pode ser isso? Nós estamos sentindo a mesma dor há anos, como se essa ferida não fosse fechar nunca. É desgastante.

Eu não consegui me mover, mesmo com você me chamando e implorando pela minha ajuda. Eu não consegui fazer nada porquê eu me vi em você, eu vi minha dor ali, diante dos meus olhos.

Eu queria matá-lo, mas nada foi tão difícil para mim como isso.

Me perdoe, Clark.

Me levanto, parando bem em sua frente. Seus olhos estão fixos nos meus e então eu o abraço. Seu rosto recai sobre meu ombro, enquanto seus braços passam ao redor da minha cintura.

Essa é a nossa dor.

É o nosso jeito de pedir perdão.

Enquanto ele me segura firme e tenta controlar seus sentimentos, lembro-me o que ele me disse quando eu tinha dez anos de idade.

Ele disse que não havia nenhum tipo de sentimento dentro dele, que nada o deteria. E agora eu vejo que ele não era invencível. Ele é tão humano quanto eu.

Somos Devil e Alyson.

Simples.

Então ele se afasta, mas logo faz um contato entre a gente surgir de novo. Suas mãos seguram meu rosto, enquanto o silêncio se estende sobre nós.

Eu te amo, Clark.

O encaro supresa, como se suas palavras tivessem o poder de causar uma guerra dentro de mim. Ele morde o lábio inferior e fecha os olhos.

Mas eu preciso ir.

— Ir? — pergunto após um tempo.

Então ele retirou suas mãos de meu rosto e se virou, caminhando até a porta. Ele para por um momento e respira fundo.

Não sou sua parte ruim, Clark.

Eu sou sua destruição.

(...)

Deitei-me na cama, encarando o teto branco. Eu estava à procura de alguma coisa que me trouxesse um pouco dela. Seu cheiro ou até mesmo uma lembrança.

Mas não havia nada.

Algo em mim morreu quando ele se foi, como se tudo estivesse acabado para mim. E agora não tenho nada.

Fechei meus olhos, enconstando meu rosto em sua cama. Ainda havia um pouco de seu cheiro no lençol.

— Sinto sua falta, mãe — falei acariciando o lençol, enquanto algumas lágrimas caíam.

Então senti sua mão fria repousar sobre meu braço. Seu cheiro era o mesmo, como se nem a morte pudesse levar o melhor dela.

Eu também, querida.

Então eu desabei sobre sua voz, como se a saudade sumisse um pouco. Então me levantei, vendo-a bem perto de mim. Ela estava tão bonita.

— Mãe, me perdoa — falei me agachando até me sentar no chão.

Ela se aproximou e se agachou também, olhando no fundo dos meus olhos. Eu ainda conseguia ver a dor em seus olhos - assim como da última vez - mas agora não parece ser pela falta de Franklin.

Não me peça perdão, Alyson.

Eu fiquei tão destruída quando soube, filha. Foi como se a dor se alastrece pelo meu corpo.

Eu o odeio.

Ele foi um maltido monstro.

— E agora? — pergunto me aproximando mais dela e a abraçando.

Não deixe Devil ir.

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