capítulo quatorze

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11 de outubro, 2016.

O início do fim.

Havia algumas garrafas espalhadas pelo chão de madeira, o qual não se encontrava tão limpo. Podia-se ver como aquele lugar já foi usado para festas delirantes onde só se encontra jovens loucos.

Mas é um lugar triste.

As janelas estão fechadas assim como as cortinas, deixando o ambiente ser iluminado apenas por um lâmpada fraca. Dylan está no sofá, enquanto eu permaneço parada em sua frente.

— As coisas estão fora do controle —  ele falou com a cabeça baixa e com os dedos entrelaçados - Por que você voltou?

Ele levantou a cabeça e me olhou, enquanto esperava por sua resposta.

— Eu sempre estive aqui, Dylan. Eu nunca saí da cidade — falei não entendendo aonde ele queria chegar.

Então ele umideceu os lábios e suspirou fundo.

— Não, Alyson — ele parou por um breve momento — Por que voltou pra minha vida?

A verdade é: nunca imaginei encontrá-lo novamente, mas me pergunto o porquê me deixei levar de novo. Dylan não é o cara que você encontra em livros, aquele que todos o temem e que trata a mocinha da história mal.

Ele é totalmente o contrário.

Você vê como os sentimentos transbordam dele, como se ele não fosse capaz de escondê-los. Você pode encontrar a bondade em suas íris.

—Eu nunca quis voltar para ela, Dylan — falei mordendo meu lábio inferior.

Ele se levantou, colocando-se em minha frente. Seu maxilar estava tenso, assim como o resto do seu corpo. Enquanto ele se aproximava, pude sentir como se estivesse voltando há alguns anos.

Então ele me encurralou na parede, colocando seus braços ao meu redor. Ele me encarava atentamente, mas parou no momento em que seus lábios encontraram meu pescoço. Pude sentir sua língua quente deslizar por ele.

— Você não sentiu minha falta, Clark? — sussurou em meu ouvido, mordendo minha orelha logo depois.

Seus dedos deslizaram pelas minhas costas, até chegarem no zíper do meu vestido preto. Fechei meus olhos ao sentir sua pele contra minha.

É o início do fim.

— Você precisa parar — falei sabendo que me arrependeria depois disso. Não seremos nós dois, nunca.

— Eu sei que você quer — falou apertando minha nuca, enquanto me olhava com desejo — Não me deixe de novo.

Por mais que eu saiba que isso será meu fim, serei dele essa noite.

Então seus dedos e sua boca exploraram cada pedaço do meu corpo. Posso sentir suas mãos firmes me segurarem e seus lábios me dizerem que essa noite nunca acabará.

— Me beija, Clark.

Apertei sua nuca, enquanto nosso beijo era rápido. Estávamos loucos sobre sua cama. Suas mãos apertavam minhas coxas enquanto eu o sentia dentro de mim.

Estávamos ofegantes e loucos. Não paravámos de nos olhar.

-— Você fez falta — falou me beijando novamente.

— Eu sei.

Ele também fez. Mas jamais escutará isso de mim. Nunca.

— Céus... - escutei Dylan dizer enquanto deitava sobre a cama cansado.

Então eu o vi ali, na minha frente.

Ele estava sentado na poltrona fumando um cigarro. Mesmo com o quarto mal iluminado pude ver como uma lágrima descia de seu olho direito. Ele estava quebrado.

Continue, Clark.

Nós dois sabemos que você não quer parar.

(...)

25 de abril, 1975

DAVID HALL.

Eu queria gritar, eu devia gritar. Mas eu não tinha forças. Estou esgotado e exausto demais.

Eu mantive meu olhar preso ao abajur azul-claro, como uma forma de esquecer seu corpo grande sobre o meu. Algumas lágrimas escorriam de meus olhos enquanto seus dedos eram deslizados pelo meu corpo.

A boca que era usada para ajudar o próximo na igreja da cidade, era a mesma que me dizia palavras sujas.

-— Continue, David - falou segurando meu cabelo com força — Nós dois sabemos que você não quer parar.

Com meu rosto ainda sobre o colchão, continuei olhando para o abajur azul-claro. Eu não tinha forças para levantar, eu não conseguia mais.

Estou morto.

Esse pesadelo começou em um domingo a noite. Ele veio até meu quarto dizendo que não conseguia se segurar mais. Eu tinha seis anos. Eu não sabia o que ele estava dizendo, mas entendi no momento em que ele me invadiu com força.

Eu não conseguia me olhar no espelho. Eu me sentia sujo, imundo e horrível.

O que fazer quando o monstro dorme ao quarto ao lado?

— Foi ótimo — falou se retirando de dentro de mim.

Quando escutei a porta ser fechada, fechei meus olhos e a dor me consumiu. Ainda nu e de barriga para baixo, me perguntei como fazer isso parar.

Mas não tinha como parar.

Ele é um padre, as pessoas acreditam nele.

Me levantei com cuidado, abrindo a primeira gaveta do criado-mudo. Tirei de lá uma garrafa de Whisky, essa é a única coisa que pode me salvar agora.

(...)

— Aonde é o banheiro?

Dylan olhou para mim e apontou para a porta no fim do corredor. Caminhei até lá e tranquei a porta quando entrei. Eu vi seu rosto no reflexo do espelho e pude ver o quanto aquilo o tinha machucado.

Quando ele diz que é uma parte de mim, sei que tem razão. Ele vem da minha dor, sinto isso. Minhas feridas e cicatrizes estão nele.

— David Hall — falou colocando o cigarro na boca.

Me virei, encarando-o.

— David Hall matou mais de trinta e seis pessoas, deixando os corpos em um terreno abandonado — ele estava sério — Ele tinha seis anos quando foi estuprado pelo tio, mais conhecido como Sam. Quando Franklin fez isso com você, só consegui sumir. Pois David Hall se encontrou em seus olhos marejados.

Engoli em seco. Senti minhas pernas fraquejarem. Então eu me aproximei.

— David? — perguntei mordendo meu lábio inferior.

Ele fechou os olhos quando minha mão acariciou seu rosto. Um longo suspiro saiu de seus lábios.

— Eu mesmo.

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