Me perguntaram se sinto sua falta.
Neguei.
Mas sua voz me dizendo eu te amo chegava até mim.
20 de outubro, 2016.
Deixei a água quente deslizar pelo meu corpo, enquanto a voz de Roy Orbison cantando I Drove All Night soava baixinho até meus ouvidos.
I think about you when the night is cold and dark.
Fechei meus olhos e, por um breve momento, me perdi em todos esses anos. Desde o momento em que dei meu primeiro passo, soube que as coisas seriam difíceis demais para mim. Pisei sobre os vidros descalça a vida toda.
Palavras em forma de tiros viam a todo momento e o colete a prova de balas estava em falta.
I drove all night to get to you.
Suspirei fundo e desliguei o chuveiro, me enrolando na toalha. Parei no momento em que me vi no espelho, como se meu pior pesadelo estivesse ali.
This fever for you was just burning me up deep inside.
O que eu fiz com você? - pensei ainda me encarando no espelho. E olhando para mim mesma, percebi que aquela não era eu. Nunca foi. É só um acúmulo de ódio, raiva e mágoa.
Se você olhar no fundo dos meus olhos, só encontrará dor.
Suspirei fundo e me virei, indo até o quarto. Apenas me deitei na cama e puxei o máximo de ar para meus pulmões, numa tentativa de não enlouquecer.
Isso será impossível.
Meu coração falhou uma batida ao imaginar que poderia ser Devil, porque é isso que ele quer. Já fazem oito dias. Mas não, não era. Paul jamais seria ele.
— Por que está aqui? — perguntei me sentando na cama, vendo-o fazer o mesmo.
Ele me encarou como se precisasse dizer aquilo mais do que nunca. Ele mordeu o lábio inferior e fechou os olhos. Havia uma batalha acontecendo dentro dele, eu sabia disso.
Vim dizer adeus, Alyson.
O encarei surpresa, enquanto ele olhava para o chão. Então ele estava preparado?
Segurei seu rosto com minhas mãos, tentando decorar cada detalhe dele. Eu não estava pronta pra aceitar isso, mas ele sim. Um pequeno sorriso brotou em seu rosto, como aqueles que sempre apareceriam quando namorávamos.
É a hora de seguir em frente.
Estou pronto para aceitar.
Estou pronto pra ir.
Então ele desfez nosso contato, como se não pudesse aguentar essa aproximação. Mas eu não poderia deixá-lo ir sem ter certeza de que foi real o que tivemos.
— Você me amou?
Ele parou por um momento, me encarando como se a pior besteira tivesse saido da minha boca. É claro que ele me amou.
Muito. Eu era louco por você, como se você fosse minha fonte de energia, cara.
Eu não queria fazer as malas e muito menos de deixar, mas era meu futuro. Só que eu queria continuar com você, porquê eu simplesmente te amava.
Eu confiava em você, e esse foi meu erro.
As últimas palavras estavam carregadas de mágoa. Mas é isso o que acontece com pessoas que você quebra. Elas não conseguem mais te enxergar da mesma forma, nem mesmo estar ao seu lado por muito tempo.
Mas eu entendo.
Eu cometi um erro, apenas para tê-lo ali, apenas como um refúgio para as noites difíceis. Ele nunca mereceu isso, nunca mereceu ser usado apenas nos dias ruins. Ele merecia mais, bem mais.
Eu espero que tudo melhore, Alyson.
Apenas faça o certo.
Eu acenti enquanto as lembranças viam rápido demais, me fazendo fechar os olhos. Lembro de cada toque e cada palavra dita, como se nada tivesse acontecido.
— Me perdoa, Paul — falei me levantando e parando em sua frente. Encontrei mágoa e dor em seus olhos.
Eu perdoou você, Alyson.
Por isso estou dizendo adeus. Eu simplismente quero deixar tudo isso pra lá.
Eu quero esquecer você.
Seus braços deslizaram pela minha cintura e ele me abraçou. Aquele foi o abraço mais sincero que demos depois de anos. Aquele era o meu pedido de desculpas.
— Obrigada por todos aqueles anos, Paul — falei me soltando dele, enquanto um sorriso aparecia em seu rosto.
Foi legal estar ao lado do próprio mau.
Dei um soco de leve em seu braço.
Adeus, Alyson.
— Adeus, Paul.
(...)
21 de outubro, 2016.
— Sente-se senhorita! — o detetive falou pegando um copo de plástico para colocar um pouco de café.
Me sentei na cadeira de frente para a mesa dele, esperando-o dizer o porquê fui chamada. Após um tempo ele se sentou e me olhou seriamente.
— O caso do seu pai ainda não foi selecionado, até porquê a falta de provas está deixando tudo ainda mais difícil — então ele passou a mão entre alguns papéis, retirando um de lá e o colocou em minha frente — Algumas pessoas do trabalho de seu pai disseram que este homem, Robert Cruise, tinha alguns problemas com ele.
Encarei o homem da foto, vendo alguns traços familiares. Ele ele era negro e tinha uma cicatriz no lado direito de seu rosto, especificamente na bochecha. Ele estava sério na foto.
— Pelo o que parece, Robert e seu pai estavam disputando por uma vaga em Atlanta — ele puxou o papel com a foto do homem e a colocou na pasta — As vezes os negócios deixam as pessoas cegas, a ponto de torná-las assassinas.
Olhei para o detetive, concordando. Enquanto ele continuava dizendo que agora o ponto que eles estavam focando é Robert, lembro-me de vê-lo falando com meu pai algumas vezes. Eles realmente não pareciam amigos. Estavam bem longe disso.
— Continuaremos a investigação, até que o culpado apareça — falou se levantando e eu faço o mesmo. Ele estende a mão e aperta a minha — Qualquer coisa nós falaremos com a senhorita.
Concordo e saio de sua sala puxando o máximo de ar que consigo para meus pulmões. Um alívio percorre pelo meu corpo quando finalmente estou fora da delegacia.
Caminho até uma pequena lanchonete. Logo o vejo sentado em uma mesa no fundo do estabelecimento. Ele está de terno e com um chapéu preto.
Me sento em sua frente estendendo o dinheiro em sua direção. Ele mostra um sorriso e puxa as notas e as coloca no bolso rapidamente.
— E aqui estamos nós novamente — sua voz é baixa e rouca. Posso sentir o cheiro do baseado chegar até mim.
Então a garçonete coloca duas xícaras de café na mesa. Ela mostra um sorriso simpático e logo sai.
— Aproveitei sua demora e já pedi para mim e para você — ele fala bebendo o café e eu puxo a xícara para perto.
Seus olhos encontram os meus e apenas sorrio para ele. Apenas dou um gole no café e me levantando, parando em seu lado.
— Obrigada Robert.
Ele me olha rapidamente.
— Estarei sempre aqui, Clark.
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DEVIL.1
RomanceOBRA INICIADA: 02/08/2018. FIM: 12/01/2019 |1° Lugar na primeira edição do concurso Atlantis em Romance| Uma série de assassinatos estão acontecendo na pacata cidade do Texas, McKinney. Agora, Alyson, sabe que todo o cuidado é pouco quando há uma gr...