6 · Ela

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— Tem alguém aqui? – um cliente pergunta.
— O que você quer?
— O quê?
— Modos Maísa. – diz a gerente.
— Desculpe senhora, o que deseja?

Até para trabalhar na sorveteria eu não levava jeito, devo ser mesmo uma desastrada. Minha sorte é que a gerente é paciente comigo e ainda tem a Suzarte que trabalha comigo e tem me ajudado.
— Você tem que se misturar Maísa, tenha amizades com pessoas do bairro elas irão te ajudar. Amanhã terá um evento beneficente e meus pais estão convidados, quero que você venha comigo. – diz a gerente
— Eu acho que não vou saber me comportar, senhora.
— Então só observe, não é preciso falar nada.
— Eu também vou? – pergunta Suzarte.
— Sinto muito Suzarte mas a última vez foi o suficiente. Seus amiguinhos picharam os muros do evento lembra?
— Saquei.

Quando a gerente saiu fiz algumas perguntas a Suzarte.
— E aí?
— Você não pode perder, vai ter comida de graça é o motivo principal para ir. Mas vista algo legal, os cara se vestem bem pra caramba. Pior que você parece que só tem essa roupa né? Cabuloso.
— Não posso gastar dinheiro com roupa, as coisas aqui são cara e ainda tenho o aluguel.
— E vai fazer o que? Roubar?
— Não, claro que não Suzarte.
— Que seja, se tivéssemos a mesma numeração eu te descolava.
— Fica tranquila.
— Mas tenho um evento hoje também, quer ir?
— Vai ter comida de graça também?
— Nossa Maísa, a gente passa lá em casa e come algo antes de ir.
— Fechou então, mas o que vamos fazer? – ela abre a mochila e me mostrou sprays – Ótimo.

Após a noite de pichação, fiquei pensando no evento que a gerente falou. O jeito que o povo do bairro me olhou aquele dia foi constrangedor, não quero passar por isso de novo. No dia seguinte liguei para gerente comunicando que houve algo urgente pra fazer mas que eu iria trabalhar no turno da tarde. Voltei aquela loja, e de longe avistei o cara rodeado de mulheres, não dava pra ver o rosto dele mas o físico era alto, forte de cor clara. Mais uma vez, não vai ser difícil.
     Entrei na loja e fui surpreendida por uma atendente perguntando o que eu desejava, pedir que ela trouxesse várias roupas e enquanto ela demorava para procurar o meu tamanho fiz o mesmo esquema da última vez. A única coisa de diferente é que fui surpreendida ao ver o cara, aquele cara olhando para mim enquanto eu planejava fugir.
— Acho que seu plano não vai dar certo dessa vez. – permaneci calada.
— Olha eu vou deixar você ir numa boa se deixar a peça que pegou e pagar pela que está usando. Acha mesmo que eu não ia reconhecer a roupa?
— Sinto muito cara, mas estou mesmo precisando dessa aqui.

Dessa vez tive que pular não de um provador para o outro, mas na direção dele me fazendo cair por cima dele e o derrubar. Não pude deixar de notar os olhos verdes dele, levantei rapidamente e corrir, escutando ele dizer algo por alto.
— Na próxima você está encrencada, deixa ela ir. – ele disse aos seguranças.

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