7 · Ele

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— Mas e os gastos? Aquele vestido custa quase R$2 mil. – diz Dandara.
— Tudo bem, vou reembolsar.

Em casa minha mãe já estava sabendo do roubo que ocorreu na loja. O noticiário caçoavam a decisão que tomei de reembolsar o roubo, os vizinhos diziam que isso ia incentivar a violência no bairro tranquilo que é Moema.
— É bom você prestar queixa logo.
— É uma garota mãe, ela estava assustada.
— R$4 mil foi o que você perdeu.  Acha que dinheiro da em árvores?
Fala com ele Mauro.
— Tive que pagar para tirar a notícia do jornal, mas a vizinhança ainda comenta sobre você ter deixado a garota livre.
— Você é um filho exemplar. O que tá fazendo com sua vida? Ela é uma ladra, nem todos nascem como você filho.
— Deixamos você decidir o que fazer da sua vida há 7 anos atrás. Mas sua mãe está certa, você tem que trabalhar comigo na empresa, qualquer empregado pode cuidar da loja.
— Eu não vou!
— O que você quer provar com esse trabalho ridículo? Tem noção de quanto gasto pagando para não publicarem fotos de você sendo assediado? As pessoas dizem que você é um galinha e que a loja é um pretexto.
— É nisso que vocês acreditam? Não confiam em mim. Prestígio e riqueza é tudo nessa casa.
— Se isso voltar acontecer e você não resolver, tenha certeza que irá trabalhar comigo na empresa sem desculpas.
— Minha opinião não vale nada mesmo, não é? Parem de me tratar como uma criança.
— Filho! – minha mãe grita ao me ver dando as costas pra eles.

Fico irritado por não conseguir falar tudo o que sinto. Como eles não percebem que eu senti muito a falta deles ficando minha adolescência toda estudando longe? Dinheiro não é tudo para mim, e queria que eles soubessem disso.

* Plim!
— Evento hoje a noite posso contar com sua companhia? – recebo uma mensagem da Isabella.
— Acho que não quero sair hoje.
— Você disse que iria com calma, passeios a dois fazem parte do “ir com calma”.
— Tudo bem, passo aí para te pegar.

Chegando no evento os jornalistas estavam eufóricos para falar comigo, sem dúvida eles não esqueceram o roubo.
— Acho que você está chamando mais atenção que eu com meu vestido super caro. – diz Isabella
— Eles só devem querer saber sobre o roubo.
— Fale com um deles para confirmar minha teoria.
— Acho que não.
— Ah é? Então eu falo.

Quando Isabella se aproximou dos repórteres ela me puxou fazendo com que eu esteja incluído na conversa.
— Está linda como sempre, uma fatal mulher de negócios. Qual a expectativa para essa noite? – pergunta o repórter
— Muito obrigada pelos elogios. Será uma noite incrível, espero conseguir arrecadar o máximo possível para essas crianças, elas merecem essa ajuda.
— Sem dúvida irá ter muito sucesso no evento. Não podemos deixar de notar que você veio acompanhada do digníssimo Nuno Moraes. Será que essa amizade está além do que pensamos, Nuno?
— Vocês não perdem uma boa oportunidade, mas somos apenas grandes amigos.
— Sem dúvida não só eu como milhares de brasileiras está muito feliz ao escutar que o galã mais tímido do Brasil ainda continua solteiro. Obrigado por falar conosco e tenham um bom evento.
— Viu só? O foco não era o roubo. As mulheres são loucas por você. – diz Isabella
— Por um mero vendedor?
— Não se engane Nuno, sua família tem prestígio, e você é o pacote completo de prestígio e beleza.

Quando o evento começou não pude deixar de perceber uma garota muito conhecida, lembro dela de algum lugar. Percebo que Dandara aceitou o convite que fiz, ela veio em minha direção e sentou ao meu lado com uma expressão preocupada.
— O que houve Dandara?
— Você já percebeu que a Patrícia está tremendamente desapontada?
— A Patrícia está aqui? Nem percebi. O problema somos nós? – aponto para Isabella.
— Ela já te superou Nuno, sabe que Patrícia não quer um cara que não tem ambições. O problema dela é o vestido, parece que uma garota que veio com tênis está com o mesmo look que o dela.
— Besteira.
— Também achava, até descobrir que essa grife só fez dois vestidos e um foi entregue a sua loja.
— Essas coisas acontecem.
— Dá só uma olhada para garota de tênis a sua esquerda.
— A ladra! – me surpreendo
— Isso vai dar um trabalhão.
— O que ela está fazendo aqui?
— Não sei, mas é melhor você ir falar com ela.
— Tudo bem.

Assim que as pessoas levantam para aplaudir o evento fui até a mesa da garota e a puxei para um canto reservado.
— Que isso cara? Me solta. – ela fala baixo sem chamar atenção.
— Não está me reconhecendo?
— Claro que não.
— Olha bem a minha cara, ou melhor a sua roupa.
— O cara da loja!
— Pensei que não ia te ver mais, não imagina como estou surpreso de te ver aqui usando essa roupa.
— Eu disse que estava precisando.
— Não quero causar confusão, então você irá na loja amanhã entregar o vestido.
— Não vai pedir para que eu pague pela roupa?
— Está claro que você não tem o dinheiro, na verdade não sei nem como foi que você entrou aqui. Teve que pular em cima dos seguranças também? Sua ladra.
— Como é? – ela responde sem reação.

Me sinto um idiota por ter falado dessa forma, eu não sou assim. Apenas estou chateado com medo que meus pais tirem a loja de mim, não posso descontar em alguém. Antes que eu tente corrigir minhas palavras Patrícia surgiu nem um pouco satisfeita.
— Ei sua caipira. Só pode estar de brincadeira, como não desconfiei que você estava por trás disso Nuno? Tire esse vestido agora seu lixo. – Patrícia grita chamando atenção das pessoas.
— Para com isso Patrícia as pessoas vão escutar, não precisa chegar a esse nível. Não é o que você está pensando. Só faz o que te pedi. – falo olhando pra menina que limpava a lágrima.
— Nem pensar! Primeiro me acusa de invadir esse lugar e me ofende. Como ousa me chamar de lixo? Quero que vocês se danem.
— Deixa essa garota ir, ela não vale nosso tempo. Tô feliz em saber que vou ser assunto principal amanhã. Aliás tô bem mais bonita que essa caipira. De tênis? Como vem a um evento de tênis? – diz Patrícia
— Tchau Patrícia. – saio deixando ela sozinha. Não acredito que cheguei ao mesmo nível que a Patrícia. Como pude ofender aquela garota? Ela veio de tênis, sem dúvida é uma pobre coitada. Me sentindo culpado, sair do evento antes que terminasse.

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