TEMPORAL

5 · Ele

Ao chegar em casa encontro minha mãe reunida com algumas amigas, escuto uma delas comentar que se eu não me casasse logo iria terminar para sempre morando com meus pais. Parece que não são só meus pais que querem mandar em minha vida.
— Está de saída filho?
— Sim mãe.
— Para onde vai?
— Jantar.
— Com quem?
— Pra quê tantas perguntas?
— Não vai doer nada me responder.
— Irei jantar com Isabella.

Imediatamente ela se levantou em minha direção deixando as amigas de lado, dava para notar a felicidade transparente.
— A filha do bancário?
— A própria.
— E como você quer ir com essa roupa? Ponha algo mais sofisticado.
— Para com isso mãe.
— Eu sempre soube que você ia encontrar algo muito melhor que aquela modelo sem graça.
— Tchau mãe.

Quando cheguei na casa da Isabella a encontrei deslumbrante, completamente linda.
— Pontual como sempre.
— Vamos.
— Não vai dizer que estou linda? Ah é, se expressar não é seu forte. Aonde vamos?
— Que tal uma comida Italiana?
— Fasano? Não vou lá tem um tempo.

Isabella é uma mulher encantadora, a conheci por meio do meu pai numa reunião com bancários. Lembro que ela estava totalmente por dentro do assunto, fiquei encantado por saber que ela era jovem. Ver o esforço que ela fazia para me ajudar mostrou que ela vivia naquele mundo de riquinhos mas não fazia isso mudar o caráter dela, então nos tornamos bons amigos. Após meu relacionamento com Patrícia ter acabado, Isabella não esperou muito e declarou os interesses dela comigo. Nunca tive experiência em falar o que sinto, é engraçado ver todas as garotas encantado por mim sendo que nem me esforço pra que isso aconteça.
— Devo criar alguma expectativa após esse jantar? – ela pergunta.
— Isabella, eu acabei de sair de um relacionamento.
— E já não é mais quem eu costumava conhecer.
— O que você quer dizer?
— Eu vi no seu carro um brinco e pelo que percebi é sintético. Tanto sua mãe, como Patrícia só usa jóias raras. Você por acaso está pagando prostitutas?
— Claro que não Isabella, aquele brinco estava no provador. Estamos investigando para saber o que aconteceu, a porta estava trancada e você sabe que ela só tranca por dentro. Quando os seguranças abriram encontraram aquele brinco lá.
— E pelo material ele não se encaixa no padrão das pessoas que frequentam sua loja.
— Isso torna tudo estranho.
— Por outro lado Moema é um bairro seguro, dificilmente alguém roubaria sua loja. Provavelmente alguma grã-fina deve estar usando jóias falsas. Que mal gosto! Ela poderia ter escolhido algo mais trabalhado.
— Mesmo assim irei investigar, não pelas roupas, sei que elas custam caro. Mas os clientes não podem estar exposto a tal risco.
— Nuno não fuja do assunto, nem venha falar sobre trabalho. Devo ou não criar expectativas?
— Vamos com calma, precisamos nos conhecer melhor.
— Então isso é um sim.
— Sim, é um sim.

A noite passou que nem percebemos, estar com ela me faz feliz, não me sinto assustado em viver do jeito que meus pais querem que eu viva.
— Quer subir? – Isabella pergunta apontando para sua casa.
— É melhor não.
— Eu não moro com meus pais esqueceu?
— Por isso mesmo, eu sou tímido mas continuo sendo um homem.
— Por isso mesmo quero que você suba.
— Vamos com calma Isabella.
— Tudo bem seu bobo.

Isabella consegue me deixar mais acanhado do que eu sou. Ao chegar em casa encontro minha mãe em casa um pouco triste.
— Aconteceu algo mãe?
— Seu pai disse que iria chegar cedo  para irmos ao cinema, mas ele ligou e disse que não vai vim pra casa hoje.
— Você sabe que ele trabalha muito mãe, quase não o vejo.
— Minhas amigas falam que o marido delas sempre tem tempo para elas. Será que ele está me traindo?
— Claro que não mãe, ele te ama.
— Eu quero que você pare de brincar naquela loja e vá trabalhar na empresa com seu pai, você precisa descobrir isso pra mim.
— Mãe pare com isso, meu trabalho não é brincadeira e o pai não está te traindo.
— Desculpa filho você tá certo, eu bebi demais e estou pensando besteira. Mudando de assunto porquê você veio para casa hoje? Não deveria estar com a Isabella?
— Estamos indo com calma, não apresse as coisas.
— Tudo bem filho, serei paciente porque ela sim é uma boa escolha.
— Vou para meu quarto.