Ver meus pais preparando as coisas para o jantar me deu um certo nervoso, imagino que a Maísa deve estar também. Minha mãe não estava muito contente com a ideia, mas também não ficou questionando minha decisão. Isso mostra que ela está decidida a ser quem era antes.
— Já que estamos acabando, irei buscar a Maísa.
— Pode ir, filho. – disse meu pai sorridente, enquanto minha mãe ainda estava com a cara fechada.
— Mãe, por favor não esteja com essa cara quando chegarmos. Você prometeu que ia ser gentil.
— Quando ela chegar, irei tratar ela bem. Não precisa temer.
— Confio em você mãe, e não vou te forçar a pedir desculpas pelo ocorrido na loja.
— Vá buscar a garota, Nuno.
— Estou indo. – a beijo antes de sairO caminho estava livre até a casa da Dandara. Imagino que Maísa esteja muito nervosa. Ao chegar a vir dando voltas na varanda dá casa, buzino a deixando mais assustada.
— Boa noite, amor.
— Nuno! Você me assustou. Olha só como minhas mãos estão geladas, isso definitivamente não foi uma boa ideia.
— Estou tão nervoso quanto você.
— Sei.
— Cadê a Dandara?
— Foi para casa dá filha passar uns dias fora. Vamos entrar? – ela aponta para o carro.
— Espera!
— O que foi?
— Você está linda. – a puxo para perto e a beijo.
— Agora sim estou mais nervosa ainda.
— Como a garota destemida e rebelde, pode estar com medo dos meus pais?
— Sua mãe não gosta de mim e não precisa mentir.
— Ela só te conheceu de um jeito ruim. Assim que passar um tempo com você, vai se encantar assim como eu me encantei.
— Você está tão romântico. – ela tenta sair dos meus braços.
— Maísa, eu estou apaixonado por você. Por favor não vacile comigo, tentarei não vacilar com você. – a beijo mais uma vez.
— Como assim não vacile?
— Só não me abandone.
— Porque eu te abandonaria? – ela riu achando aquela conversa muito estranha, essa mulher sabe me deixar confuso.De volta para minha casa, pegamos um engarrafamento. O que deixou a Maísa ainda mais preocupada.
Conseguimos chegar, antes que ficasse muito tarde. Meu pai estava tranquilo e tinha uma boa comunicação com a Maísa. Quanto a minha mãe falava pouco, somente o necessário.
— Como é trabalhar com o Nuno? – perguntou meu pai.
— No início não era muito fácil, eu o achava um idiota.Não consigo segurar o riso ao perceber que Maísa havia se arrependido de ter falado isso, logo após olhar a reação da minha mãe.
— Mas ele é um cara muito paciente, nunca ninguém demonstrou isso por mim. Nuno não desistiu de mim, se vocês tivessem me conhecido há um tempo atrás, talvez vocês nem acreditariam. Ele meio que foi minha fada madrinha.
— Fada madrinha, amor? – pergunto
— Se eu dissesse príncipe, você iria se achar demais.Escutamos a risada da minha mãe, foi a primeira vez na noite toda em que ela expressou uma reação de conforto.
— De fato, o Nuno amava ser comparado a um príncipe quando criança.
— Mãe!
— É a verdade, filho.A noite foi bem tranquila e divertida no fim das contas. Queria muito que a Maísa ficasse, mas não conseguiria dormir com ela na mesma casa e não quero que ela pense que estou querendo apressar as coisas.
Ao levar Maísa para casa, percebo que ela ainda estava incomodada com o que aconteceu a tarde.
— Sobre hoje a tarde, você tem algo que quer me falar?
— O que eu deveria falar?
— Não que você tenha, quero dizer que você parece estar incomodada.
— Não estou.
— Tudo bem.Acho que foi um pergunta totalmente inapropriada, fiz com que a Maísa ficasse séria. No caminho havia uma movimentação estranha. Um carro preto parou, deixando que uma criança de mais ou menos 13 a 14 anos saísse do carro. Sua roupa era curta e apelava para sexualidade. De dentro do carro, escutamos ela dizer “Você sabe onde me encontrar”. Fico abismado com o mundo em que vivemos. Logo que o carro saiu a visto outra criança indo ao encontro dela, pelas roupas também estava se prostituindo.
— Um colega sem diz: “Depois elas reclamam de serem estrupadas”.
— E você concorda com isso? – Maísa pergunta assustada.
— Infelizmente parece que elas estão interessadas.
— Pare o carro. – Maísa havia tentando esconder uma lágrima, mas eu a percebi. O rosto dela demonstrava raiva e decepção.
— O que foi, amor? Você está bem? – ela saiu do carro sem ao menos me responder e seguiu andando – Maísa, espera! Me diz o que houve.
— Não venha atrás de mim, vá embora. – ela gritou histéricaCorrir para a alcançar e segurar no braço dela, a trazendo para mim.
— O que está acontecendo? – pergunto confusa
— Você acha que eu tive escolha?Ao vê-la naquele estado, liguei a situação as acusações que a Patrícia havia feito mais cedo. Me dei conta de que a Maísa era uma das 17,5 mil que sofreram abuso quando criança.
— Eu tinha 13 anos quando aconteceu. Você acha que eu queria aquilo? Eu nunca soube o que é ser amada de verdade pela família. Foi isso o que a Patrícia te falou?
— Não Maísa, ela não me falou sobre isso. Eu… sinto muito, posso imaginar como deve estar se sentindo. Mas agora você não deve carregar isso sozinha, você tem a nós, tem a mim e eu te amo.
— Odeio ver que me olha com pena. Nuno, me deixa em paz.
— Maísa da para concordar comigo, só dessa vez? Você não está sozinha nessa.
— Agora estou, não quero mais ser sua namorada. Acabou!Ela correu evitando que eu a seguisse. Não consigo entender o porque da Maísa não querer mais nada comigo. Sei que o que ela passou não foi fácil, mas agora ela tem a mim. Por que isso é tão difícil de entender?
Uma enorme confusão invadiu a minha vida. Voltei para casa dirigindo em alta velocidade, pela primeira vez eu não estava me importando com os riscos.
Meus pais estavam na sala quando cheguei, pela maneira que eu andava eles perceberam que algo não estava bem.
— O que houve? – pergunta meu pai
— Acabou.
— Como assim? Você acabou de apresentá-la para nós. – contei o que houve, eles me ouviram e foram pacientes comigo – Mas o que você disse a ela?
— Eu disse que poderia imaginar como ela se sentia e que agora ela tinha a nós, não precisava carregar isso tudo sozinha.
— Você fez bem filho. – disse minha mãe
— Não entendo por que ela terminou comigo. Eu fiz mal em ter falado aquilo das garotas, elas são vítimas, não culpadas.
— É verdade filho, aquelas garotas, aquela situação não é natural. Isso não deveria estar acontecendo. E o ruim é que muitos acabam achando que é normal por causa do número que tem aumentado, e os abusadores têm procurado por essas crianças como se fosse, e elas são tratadas, como mercadorias. – diz meu pai
— Se aquela garota chegou aquela situação ela passou por uma estrada de violações de seus direitos e por ela acabar naquela situação imaginamos que ela está ali porque querem estar ali. – concorda minha mãe
— Me sinto tão mal por isso, Maísa deve achar que eu sou um desses cara machistas.
— Dê um tempo pra ela, você vai vê que ela irá pensar na conversa que vocês tiveram e vai voltar atrás dessa decisão. – pai
— Eu não sei…Não conseguir dormir pensando na Maísa. Aquela noite em frente a loja em que ela estava tendo pesadelos, sem dúvida deve ter sido sobre isso. Me pergunto se ela está bem. Tento ligar para ela, mas foi tentava falha, ela não atendia.

VOCÊ ESTÁ LENDO
TEMPORAL
RomansaQuando algo lhe machuca por muito tempo e você não toma as medidas necessárias isso acaba sendo sua maior fraqueza, se torna um trauma. Em Temporal, você irá conhecer a história que mostra como podemos superar, ser resiliente. Capaz de lidar com os...