Capítulo 15 - Histórias pra contar - Parte I (Lara)

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     Aquela noite foi uma das mais longas da minha vida, em todos os sentidos. Nos levaram para uma tenda onde disseram que Violet e outras duas meninas dormiam, mas que ficariam em outras essa noite pata que nós pudéssemos descansar. Era uma tenda comum, com algumas camas e alguns objetos que era mais pessoais.

     Brna não quis ir embora logo quando deixou a gente lá, quis ficar um pouco mais. Estava com uma saudade absurda dos gêmeos e, contra todas as minhas expectativas, de mim.

     — Faz tanto tempo, tanto tempo que não vejo você, muito tempo mesmo... Catarina costuma comentar as vezes, sobre você, mas fez quase 15 anos, que não olho no seu rosto.— Bruna me abraçou forte, durante bastante tempo, o rosto enfiado no meu ombro.— Você sempre foi mais alta que eu!— E riu, uma risada baixa e um pouco melancólica.

     — Faz muito tempo também, você mudou bastante, está muito bonita... Madura.— Mordi a língua por dentro, porque nunca imaginei falar algo assim na vida.

     — Quantos anos vocês fez Lara! Está falando igual uma adulta.— Ela riu, de novo uma risada baixa e melancólica.

     — Só.

     — E eu ainda tenho 35, não estamos velhas pra falar como adultas maduras.— E me encarou por uma última vez, antes de olhar para os gêmeos.— E vocês dois, faz mais de anos que não vejo, não ouço nada, sinceramente pensei que vocês não tinham sobrevivido à floresta...

     — Sobrevivemos a bem mais do que só uma floresta.— Daniel resmungou, um pouco amargurado.

     — Parece que vimos quem realmente envelheceu entre nós. Você parece um senhor de 83 anos falando, amargurado.— Bruna colocou a mão sobre o ombro dele, as sobrancelhas arqueadas.

     — Se tivesse passado por tudo o que passamos saberia Tia...

     — Pode acreditar, minha vida não deve ter sido muito menos agitada do que a de vocês.— Olhou para o chão, observando por um momento as botas de Louis, tão interessada que até eu achei estranho.

     — Se surpreenderia se soubesse.— Devon disse.

     Bruna olhou por um longo minuto pra Devon, encarando sem pudor nenhum, e com um olhar que não consegui identificar. Então, de novo encarou o chão com mistério e voltou a falar.

     — Vocês precisam dormir, podem acreditar, amanhã vai ser um longo dia.— E sorriu, Bruna parecia sorrir muitas vezes, bem diferente de como nós levávamos a vida todos esse anos.— Sempre tem massa de torta pronta e chantilly em um saquinho dentro do colchão da Wanessa. Ela só tem cara de durona, mas não se engane, ela mataria por chantilly, apesar de não se importar se vocês comerem. Vocês só vão poder comer de verdade de manhã, isso vai enrolar a fome.

     — Oba!— Devon riu, já levantando os colchões das camas pra procurar os doces.

     — Preciso ir.— Bruna anunciou.— Até amanhã!— E abraçou Nando e Daniel forte, mandando um beijo pra mim.

     Aquilo fez com que m clique aparecesse no meu cérebro, uma afirmação que há muito tempo não ouvia. Pela primeira vez em muito tempo, alguém sabia que nos veria pela manhã, parecia ter certeza disso...

     O que um até logo poderia significar.


     Era a primeira vez em alguns anos, que dormíamos até que alguém nos acordasse, todos de uma vez. O sol deixava a tenda bem iluminada, e se não tivesse amanhecido  frio, a tenda estaria como uma estufa. Bruna fez questão de ir nos acordar pessoalmente, e preciso concordar que foi muito engraçado ver Bruna bater palmas pra nós, como uma mãe faria.

Emily contra o apocalipse ZumbiOnde histórias criam vida. Descubra agora