Capítulo 23 - Caminhada (Louis)

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      — O que?!— Devon soltou um grito alto, assim que a luz do Sol iluminou a tenda.— Como assim precisávamos estar com as malas prontas assim que amanhecer, e vocês só me avisam QUANDO JÁ AMANHECEU!!!?

     Nós rimos, vendo a cara de raiva que Devon fazia, enquanto jogava coisas dentro da mochila com uma velocidade cômica.

    Realmente vamos fazer a mudança.

     O acampamento foi acordado mais cedo do que costumava ser, antes mesmo do Sol estar completamente no horizonte. Devon tinha entrado na tenda, sei lá que horas, e só agora tinha acordado por tempo suficiente pra ser avisado que iríamos fazer aquela mudança. Juntávamos as cabeceiras em um canto, tirando os colchões e dobrando as camas para ser mais fácil de transportar.

     Encostadas no forro da tenda, estavam 10 mochilas, amontoadas umas nas outras, esperando o momento de serem levadas pra fora, junto conosco. Assim que a tenda estivesse vazia deveríamos desmonta-la, dobrar as lonas e os forros e amontoar junto as outras pilhas, pra depois coloca-las nas carroças.

     Era outro processo demorado, onde os moradores de cada uma delas deve ajudar. E por ser tão demorado, só as 8 horas da manhã terminamos de dobrar a tenda, deixando-as dentro da carroça. Agora, uma multidão de pessoas se aglomerava em um campo vazio, cheio de animais relinchando.

     Catarina, de cima de uma das carroças, anunciou para a multidão, alto, fazendo todos nós nos calarmos.

     — As carroças e materiais vão na frente, seguiremos para o norte, para as montanhas, e encontraremos uma nova clareira, provavelmente um lugar mais quente o que esse, porquê o frio começou e já estamos é atrasados.— Catarina anunciou alto.— Sigam as carroças, elas vão onde nós planejamos, portanto, sigam-nas.

     A multidão murmurou, em aprovação, e então observaram quando as meninas subiam nas carroças pra começar a guia-las. As coisas empilhadas, esmagadas, dobradas e transportadas dentro dos carros, pareciam estranhas se afastando, junto aos animais e as pessoas, enquanto o Sol não tinha nem dado todo o ar da sua graça.

     Assim que todos começaram a caminhar, amarrei os cadarços da bota o mais rápido que consegui e os segui.


     Tinha começado a ventar, e gotas leves de garoa caíam sobre nossa multidão particular, um sorriso desaparecendo de vários rostos, praguejando e tentando se proteger de alguma maneira. Eu não entendi muito bem o porquê, chuva era, depois de longas horas de caminhada, reconfortantes.

     As arvores se afastavam com a nossa passagem, como se aquela multidão se espremesse, fazendo as raízes delas se afastarem. As carroças tinham parado pra que os cavalos descansassem, e nós, reles mortais que caminhávamos atrás dessas carroças agradecemos muito.

     Me senti, no chão mesmo, arfando longamente, como uma senhora da terceira idade. Definitivamente, todo o treinamento que eu tive não estava me valendo de nada, estava estupidamente enferrujada...

     O Sol já tinha nos dado tchau a muito tempo. Não por conta do anoitecer, mas sim, pelas grossas nuvens que cobriam o céu, grossas e aparentemente muito pesadas, não demorariam muito a cair.

     Sentada, passei o olhar por entre as pessoas. Muitas, eu não sabia nem o nome, apesar dos rostos serem conhecidos (é difícil não cruzar o olhar com alguém quando moramos em um lugar tão pequeno), mas muitas eu consegui conhecer as famílias, as crianças, as moças calmas que rodeavam a cozinha, ajudando. Tudo, exatamente tudo no fato de não questionarem como tudo o que tinham chegava até suas mãos, era no mínimo, incômodo. Era um apocalipse, mantimentos e vida quase inexistentes, mas ainda assim... As pessoas estavam tão desesperadas por um mínimo conforto, que não questionavam como o tinham? De onde ele vinha?

Emily contra o apocalipse ZumbiOnde histórias criam vida. Descubra agora