Capítulo 12 - Medo do passado (Louis)

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     Coloquei algumas carnes pra cozinhar, enquanto ainda olhava para Nando com uma sobrancelha erguida. O que Daniel tinha dito me deixou com uma pulga atrás da orelha, e ativou meu instinto de investigadora.

     — Para de me encarar com essa cara, estou começando a ficar com medo.— Ele murmurou acomodando as pernas ao meu lado.

     — Vocês dois são gêmeos estranhos.— Respondi, baixinho.

     — Quem disse que eu me preocupo, só to dizendo que vocês são estranhos.— Virei a carne na fogueira, a fumaça se espalhando no ar.

     — Eu te conheço Louis...

     Estremeci tão forte que ele me olhou assustado. Meus músculos enrijeceram, doa pés a cabeça, e uma escuridão se apossou dos meus olhos. Calma, fria e calculadamente, a soldado Louis Tompson se apossou da garota Louis, e sorri, um sorriso frio e sem sentimento.

     — Você não me conhece Nando. Nunca conheceu.

     E tirei a carne do fogo, colocando para Em comer a primeira. Nando não disse mais nada pelo resto do dia.


     Um mês inteiro se passou desde a nossa saída da cidade. Aquele verão começava a diminuir de intensidade, enquanto caminhávamos para noroeste. Julgava que estivéssemos entre Romênia a Ucrânia, o que significava que finalmente estávamos saindo da Europa. Mesmo sem que percebessem, eu gostava de saber para onde estávamos caminhando, para qual parte do planeta estávamos indo... Dava uma sensação de que continuava no controle da minha vida.

     Todo aquele mormaço e Sol escaldante que tinham ficado todo esse tempo tinham ido embora. No lugar, estavam só um Sol que aquecia pouco durante o dia, e no fim de tarde um vento que só ia embora na manhã seguinte. Com essa mudança de tempo, Emily pegou a pior gripe que já vi alguém ter. Provavelmente já era uma pneumonia, mas não podíamos ter certeza. Em tossia de meio em meio minuto, uma tosse carregada de catarro, reclamara de dor o tempo todo (na garganta, no corpo, na cabeça), e já não andava mais, sem disposição para levantar.

     Barb tentava que ela não deixasse de comer, de beber água e ficasse mais fraca e com imunidade mais baixa do que já estava. Mas é difícil, para uma criança de 6 anos se manter, decentemente, em um apocalipse, sem recurso nenhum.

      O vento frio já tinha voltado, quando tomei coragem de verbalizar aquilo que já cogitava a algum tempo. Emily estava enrolada no máximo de cobertores que conseguíamos, ao lado da maior fogueira que Devon já tinha feito. Ela tremia, ardendo em febre e cortando o coração de quem olhava.

     — Eu estive pensando. Poderíamos passar em alguma vila para proteção de sobreviventes e tentar curar a Emily lá.— Disse.

     — Isso está fora de cogitação.— Daniel não esperou um segundo antes de responder.

     — E porque não? Não seria como da ultima vez, seria uma visita rápida, para conseguir remédios e suprimentos.— Continuei falando.

     — Da ultima vez que isso aconteceu, também era uma visita rápida, apenas para nos proteger. Mas olha como tudo acabou... Não preciso contar toda a história de novo.— Continuou falando, sem levar o olhar até mim.

     — Já faz dois anos Daniel. Emily precisa de alguma ajuda, é o jeito mais fácil de nos manter.— Não deixei que a conversa terminasse ali, como Daniel estava tentando fazer. E isso fez com que me encarasse, as costas duras e rígidas.— Eu tenho um mapa de vilas pelo mundo, sei qual fica mais perto e não levaria 24 horas para chegarmos lá. E me pergunto se Emily vai resistir sozinha durante muito mais tempo. Nós não vamos, temos pouca comida agora, e isso seria infinitamente melhor do que uma nova missão em alguma cidade.

Emily contra o apocalipse ZumbiOnde histórias criam vida. Descubra agora