Capítulo 19 - IMUNE (Lara)

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    Depois daquela conversa complicada, tensa, tudo o que eu mais queria era finalmente conseguir dormir uma noite do início ao fim, sem nada mais atrapalhar. Mas claro, que isso não poderia acontecer...

     Assim que encostei a cabeça no travesseiro, as luzes apagadas, as memórias me vieram à mente, sem que eu conseguísse impedi-las. Quis do fundo do coração poder apagar tudo aquilo e ir direto para a parte do sono, mas nem tudo é o que queremos.


     Estava estabelecido que eu não era importante.

     Durante alguns dias, gastei longos momentos imaginando se seria importante para alguma das causas deles. Porque não me matar logo, assim que pudessem? Depois de tudo, esse seria a opção mais fácil e plausível ao meu ver...

      Mas não faziam isso, não me matavam de vez, e isso, durante algumas horas faziam com que eu matutasse se era importante, se tinha algo que eles precisavam. Mas hoje, já tinha entendido que isso era a pior ideia que já pude cogitar...

     — Vai, entra!— Ele me empurrou, fazendo com que eu batesse o rosto no chão de pedra, uma nova dor se juntando as inúmeras outras.

     Não precisavam mais de mim. Talvez nunca precisaram, me mantinham por motivos desconhecidos, e agora, esses motivos tinham se acabado... E eu não sabia realmente se queria continuar lutando pra ficar. Isso, era o que mais me assustava.

     Acuada, me arrastei até o canto, os braços cruzados sobre os joelhos, em posição fetal. Acho que tinha desistido naquele momento, desistido de continuar... Viva.

     — Não serve nem para os nossos propósitos, criatura imunda...— E abriu novamente o sorriso psicótico, que sempre cobra sua cara quando estava subjugando a mim.— Não acho que mereça apenas a morte, merece mais, querida...

     Ele agarrou meu cabelo, puxando até que não conseguísse mais ouvir meus próprios pensamentos, e com os instrumentos que carregava junto ao corpo sempre, cortou o pouco do cabelo que já tinha, com a faca mais curta que já o vi usar.

     Tremi, o medo inundando mais e mais minhas veias.

     Não seria só aquilo, eu sabia que não seria. Ter o cabelo cortado não chegava nem 0,00001% de ser a pior coisa além da morte... E isso, me fez tremer ainda mais, com o medo da expectativa...

     — Levanta.— Ordenou, puxando meu braço até que ficasse em pé, contra a parede de pedra. Agarrou a gola da minha blusa, colocando de costas. A pedra tinha um cheiro absurdo de mofo.— Acho que para lembrarmos sempre o que você é, seus privilégios querida...— Se aproximou do meu ouvido, apertando minha cabeça contra a parede. Uma lagrima escorreu por minha bochecha suja, escapando por meu pescoço das mãos dele.— Eu sempre adorei colocar quem somos na pele. A.FERRO.E.FOGO.— Disse, pausadamente, a voz sussurrada da maneira mais psicótica imaginável.

     O terror deixava meu corpo sem reação, sem percepção. A porta tinha se fechado, mas eu não tinha nem ao menos escutado o som, e meu coração batia tão pouco com o medo, que não o ouvia mais faz tempo.

     Mesmo sem conseguir ver o que ele fazia, soube que puxou outra faca do seu cinto, que sabia ser uma das mais afiadas que possuía. Ele escorregou a lamina pelas minhas costas, sentindo cada uma das protuberâncias existentes.

     E sem me preparar, sem uma preparação para a dor, ele cravou a faca, que era bem menor do que pensei, no canto mais para dentro do meu ombro. O ganido de dor que escapou da minha garganta foi completamente inevitável.

Emily contra o apocalipse ZumbiOnde histórias criam vida. Descubra agora