Peguei o resultado da segunda prova do semestre pra ter apenas mais uma das várias decepções do dia. Como na primeira, minha nota tinha sido a menor da sala. Acertei apenas 30%, o que era uma vergonha. Na primeira prova, a ideia de que talvez a matéria fosse muito difícil não saía da minha cabeça, mas após perceber que eu era a única que não tinha acertado nem 50%, vi que o problema era comigo. Mas, como eu sempre faço, surtei e botei a culpa em alguém.
Levantei bufando, peguei minha bolsa e meu casaco e saí pisando duro. Passei pela professora, bati a porta com força e tentei andar rápido. Mas meu estresse e nervosismo acabaram me impedindo. Minhas pernas bambearam, minha cabeça começou a doer e meu estômago ficou enjoado. Encostei na parede ao lado da sala e torci para que aquela sensação passasse o mais rápido possível, antes que um certo alguém viesse atrás de mim. Infelizmente nada acontecia como eu queria.
- O que aconteceu pra você sair desse jeito? - perguntou Louise, com seu sotaque francês.
- Nada - respondi seca. - Agora volta pra aula porque tô precisando ficar sozinha.
- Sua nota foi uma bosta de novo, né?
Nessa hora meu sangue ferveu. Obviamente o que ela disse era a mais pura verdade, mas colocar sal na ferida não é a melhor forma de lidar com isso. E então aconteceu uma coisa que nunca havia acontecido antes, em todos os meus 23 anos de vida: surtei em público e armei um barraco.
- Escuta aqui, Louise - disse com a voz esganiçada - Você se acha tão melhor do que eu, né? Vai se foder, caralho! O problema não é comigo, o problema é essa merda desse sistema educacional que tá sempre pressionando a gente!
- C-calma. Eu só...
- Você só o quê? Queria tentar me humilhar? E tudo isso pra quê? Pra agradar a si mesma ou pra agradar aos outros?
Nesse momento, pessoas de todas as salas estavam no corredor, tentando entender o que estava acontecendo. Algumas delas estavam com celulares nas mãos, provavelmente filmando, e foi aí que percebi meu erro. Eu tinha me prometido que nunca, jamais, em hipótese alguma, surtaria na frente de alguém. Eu não queria alimentar o estereótipo que as pessoas jogavam em cima de mim. Mas eu descumpri minha promessa e, quando percebi, já era tarde demais. O estresse havia tomado conta da minha mente e do meu corpo, e não havia volta.
- Eu quero que você se foda, junto com essa faculdade inteira! - voltei a gritar, dessa vez ciente das consequências - Maldita hora em que eu pensei que faculdade na Coréia era melhor do que no Brasil. Se você quer se alienar achando que toda essa pressão vai te fazer aprender mais rápido, você tá muito enganada.
Saí praticamente correndo em direção ao elevador, o que só fez com que minha imagem de confiante se derretesse diante de todos. Mas aquilo já não importava mais. Eu só queria a minha cama.
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Entrei apressada em meu dormitório, jogando tênis para um lado, bolsa para o outro. Abri o armário e peguei um pacote de salgadinhos de queijo, uma garrafa de água e corri para a cama. Desativei as notificações de todas as redes sociais e passei algum tempo assistindo Netflix, antes de adormecer.
Acordei assustada, com batidas fortes na porta e o barulho da campainha ao mesmo tempo. Demorei alguns segundos pra me localizar e levantei em um pulo. Quando fui checar a imagem da câmera, não tinha ninguém lá fora. Abri a porta e me deparei com uma pequena caixa azul-bebê encostada na parede. Olhei para os dois lados do corredor, mas não havia ninguém ali. Peguei a caixa e entrei. Deixei-a em cima do balcão da cozinha, fazendo uma anotação mental para abri-la depois.
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Ascensão e queda da Ninja
FanfictionEnquanto que no Brasil sua vida era tranquila, na Coreia foi completamente o oposto. Caixas e bilhetes misteriosos, uma organização secreta, invasão e assassinato, ocultação de cadáver... E, mesmo no meio de tudo isso, Ártemis conseguiu arrumar temp...