Link do livro nos comentários.
Não deixem de visitar o livro da Marissol, ta? ;)...
No cinema há algumas formas do artista criar uma relação entre duas cenas distintas. Uma delas é usar a chamada "Rima Visual", que é basicamente repetir alguma coisa, um gesto, um objeto, em duas cenas separadas.
Por exemplo, numa cena do início do filme o protagonista ergue, em êxtase, uma pepita de ouro em direção ao Sol, que acabara de encontrar na mina em que passara a juventude trabalhando. Mais perto do fim do filme, este mesmo personagem, com seu arco dramático terminado, ergue em direção ao Sol seu filho recém-nascido.
A relação entre as duas cenas é bastante clara: o protagonista amadureceu e a família se tornou a sua verdadeira riqueza.
Essa simples associação foi feita pela Rima Visual, ou seja, a repetição de um gesto em cenas diferentes.
Mas o que isso tem a ver com o livro da Marissol, "Similares"?
Tudo! Seus primeiros capítulos estão repletos de ótimas Rimas.
Os dois primeiros capítulos começam com ambos os protagonistas em quartos luxuosos. Enquanto o cômodo de Mexys é uma propriedade dele, o de Alícia não pertence a ela. Pelo contrário, ela está ali para roubá-lo! (Yeah! \m/)
A Rima no cenário nos faz acreditar que poderia ter sido o quarto de Mexys roubado por Alícia!
Enquanto Mexys brinca e se delicia com uvas frescas, Alícia é frustrada por não conseguir roubar ao menos um único chocolatinho.
A Rima entre os diferentes "doces" marca o contraste entre os hábitos dos dois personagens.
Mais adiante, o pai de Mexys disserta sobre a importância do evento beneficente para seu ano eleitoral. Já na casa de Alicia, ela vê pela televisão o anúncio da mesma festa beneficente, e revela ao leitor toda a mágoa que guarda de políticos como o pai de Mexys.
A Rima temática reforça que aquelas são duas realidades opostas, mas que se complementam. Mexys está no topo da cadeia e Alícia na base dela.
Mas por que essas Rimas foram uma bela sacada da autora?
Porque elas servem para conectar os personagens antes mesmos deles se conhecerem na história. É uma ótima maneira de construir a relação entre eles, mesmo eles vivendo ainda suas vidas separadamente.
Desta forma, a escritora pode desenvolvê-los com calma, nos apresentando seus cotidianos, seus sonhos e desafios, a medida que vai construindo a relação entre eles por base das Rimas.
Não à toa, enquanto lemos o capítulo de Alícia ficamos a imaginá-la invadindo o mundo de Mexys. Ganhamos intimidade com os dois personagens individualmente, ainda que fiquemos tentando prever como será o futuro relacionamento deles.
Como eles se apaixonarão? Como eles irão se aturar? Como um mudará o outro?
E é exatamente essa expectativa que fará com que sintamos vontade de ler os outros capítulos, ansiosos pela concretização do improvável relacionamento.
Eu gostei tanto das Rimas usadas pela Marissol que ouso dizer que ela poderia colocar ainda mais delas. Já que estamos falando aqui de uma Ficção Científica, usá-las no cenário, por exemplo, seria uma boa forma de construir melhor o mundo da história.
Não me entendam mal. A mitologia da escritora se mostra interessante e coerente desde o princípio do livro.
Por exemplo, o machismo, o egoísmo e a arrogância de Mexys são facilmente compreendidos quando descobrimos que ele vem de um planeta possivelmente patriarcal. Além, claro, do fato dele ter tido uma vida com muitas regalias.
Descobrimos que o planeta de Mexys é patriarcal por conta de um magnífico e sutil detalhe presente na mitologia da Marissol. Nela, os nomes dos filhos seguem obrigatoriamente os nomes dos pais. Percebe-se aí, de forma discreta e natural, que as mulheres não devem ter muito espaço naquela sociedade.
"Onde está a mãe de Mexys?", eu me pergunto.
Mas, ainda assim, eu acho que a escritora poderia explorar um pouco mais o cenário dela, criando mais utensílios tecnológicos, móveis ou coisas do tipo, pela casa de Mexys. Algo que ele pudesse usar na mesa de refeições, ou para escovar os dentes, ou antes de tomar um banho. Elementos que serviriam para desenvolver a casa, a família, e o próprio protagonista, mas, principalmente, que ampliariam nosso entendimento sobre o mundo que os rodeia.
O que esses alienígenas fazem ou possuem que se difere de nós? Quais são as particularidades da família Mexys em relação a uma outra família rica, mas humana?
Peculiaridades que devem, obviamente, respeitar não só o mundo futurístico onde se passa a história, como também a cultura desses extraterrestres.
E as Rimas poderiam ser usadas para reforçar a diferença entre as raças.
Mesmo que fosse sutil, já que a família de Mexys está incorporada à Terra (?), alguns hábitos deles apresentados no primeiro capítulo poderiam ser repetidos quando Alícia está em sua casa, mas de forma oposta.
Os dois são faces de uma mesma moeda, não é mesmo?
Como eu disse, o livro é uma ficção científica, e nós, leitores, temos a curiosidade de explorar mais esse novo ambiente. O que faz a diferença entre um romance que se passa no presente, em nosso contexto "normal", e um romance numa ficção científica, é como o ambiente, principalmente tecnológico, influencia os personagens e, por conseguinte, o relacionamento entre eles.
Bem é isso. Eu gostaria de aprofundar mais sobre a construção de mundos ficcionais ou mesmo sobre a narração desse livro, que é maravilhosa em usar uma terceira pessoa para "comentar" e "julgar" (com bastante acidez ;)) os dois protagonistas, mas eu deixarei para uma futura resenha.
...
Espero que vocês tenham gostado da resenha, especialmente a Marissol! (rs)
Agradeço, do fundo do coração, por todos os votos, comentários e inscrições que eu recebi nessa semana. Foi tudo muito mais do que eu imaginava!
E peço, mais uma vez, para que continuem nesse esforço coletivo para que esse projeto cresça e ajude a muitas pessoas!
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1001 Resenhas [Fechado]
Random"1001 Resenhas" é um projeto em que ofereço resenhas a todos os escritores que queiram uma crítica sincera de seus livros. Servirá também, principalmente depois do crescimento do projeto, para revelar ótimas obras que possuam poucas leituras. As re...