"Reflexos - O Outro Lado Do Espelho" | Bruna Rodrigues

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Um romance ou mesmo um roteiro cinematográfico nada mais é que um recorte, um pequeno pedaço, dentro de uma vida inteira do protagonista

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Um romance ou mesmo um roteiro cinematográfico nada mais é que um recorte, um pequeno pedaço, dentro de uma vida inteira do protagonista. Obviamente, o pedaço escolhido deve ser o mais importante da trajetória desse personagem. O período em que houve a mudança mais determinante.

Partindo desse pressuposto, podemos então afirmar que uma cena é uma fatia da história contida no livro, que, por conseguinte, é um pedaço de um todo maior, que compreende o presente, o passado e até mesmo o futuro do protagonista em questão.

Entretanto, se analisarmos um romance qualquer, perceberemos que esses pedaços menores (as cenas), apesar de constituírem a história quando unidas, não se limitam ao tempo e ao espaço que cercam o protagonista, como acontece em nosso mundo real (caso acompanhássemos alguém em seu dia-a-dia). As cenas podem migrar do passado para o presente, do futuro para o passado. Pulam até mesmo de um espaço para o outro.

Na verdade, se um escritor se limitar a contar a história de seu protagonista respeitando o encadeamento natural do seu dia a dia, seu livro inevitavelmente será gigantesco e enfadonho. Um leitor não busca numa história a pura e ordinária realidade. Ele quer o impacto e dinamismo da ficção.

Então, se uma história é constituída de cenas, o que faz um escritor optar por uma cena e não por outra? E como é possível cenas muitas vezes distantes umas das outras, no espaço e no tempo, conseguirem se conectar e estabelecer uma história coerente para o leitor?

Bem, a resposta não poderia ser outra que não nosso famoso quebra-cabeça.

Primeiro, o escritor deverá escolher a história que quer contar. O tal trecho da vida de seu protagonista que revelará ao leitor seu arco dramático, o período que compreende a mudança radical em sua vida até a resolução, onde nosso personagem amadurece o suficiente para alcançar o que ele deseja. Este é o quebra-cabeça em si, completo.

Segundo, o escritor deve se debruçar nesse período selecionado anteriormente para encontrar os momentos mais importantes dessa trajetória. Os acontecimentos e ações de seu protagonista que melhor representam o estado em que ele estará na história. Esses momentos serão suas cenas. Peças do quebra-cabeça.

Entretanto, por mais que essas cenas escolhidas sejam as mais importantes da história, fragmentos onde acontecerá os fatos mais relevantes, o escritor não poderá jogá-las simplesmente no livro, pois elas ficarão soltas, desconexas, parecendo na verdade uma apresentação de Powerpoint de uma festa de 15 anos ou de casamento, em que as pessoas juntam os registros mais marcantes do passado.

Há a necessidade de se colocar algumas peças menores, que não trazem grandes acontecimentos da história, mas que servirão como uma cola entre as cenas principais. Peças menores que servirão também para desenvolver outros pontos que não a história principal propriamente dita. Ajudarão a revelar mais do contexto em que o protagonista está inserido, mais da mitologia e do cenário que o cerca, etc. São momentos importante por diminuírem também o ritmo da narrativa, dando tempo para o escritor respirar e refletir sobre o que está lendo.

E por que estou explicando tudo isso?

Porque esta, sem dúvida, é a maior dificuldade que vejo nos escritores aqui no Wattpad (que vem atrelada à ansiedade, claro. Rs).

Não só o livro da Bruna, mas muitas histórias que li aqui, possuem capítulos que são constituídos por inúmeras pequenas cenas, onde essas cenas, extremamente objetivas, cerceiam apenas o que importa para a história, dando a impressão de que estamos vendo um trailer do livro com seus principais acontecimentos.

Liz, a protagonista de "Reflexos – O Outro Lado Do Espelho", acorda de um pesadelo perturbador para logo aparecer em sua escola, numa conversa com uma amiga, onde rapidamente será inserido um coadjuvante importante para a história, antes surgido em seu sonho. Todo esse desenrolar durou não mais que meia dúzia de parágrafos curtos.

Contar uma história de forma tão objetiva e seca possuí inúmeros problemas além dos que desenvolvi anteriormente. Vamos a eles.

Primeiro, as cenas tão curtas tornam-se vazias de informação periférica, subjetiva. Tudo é apressado e claro demais, sem paciência para o desenvolvimento do cenário, dos personagens circulares e da própria protagonista.

Liz poderia, por exemplo, encontrar suas amigas na escola, assistir a alguma aula, relembrar do estranho sonho, enfim, "viver" um pouco antes da resolução do capítulo. Esse intervalo não avançaria propriamente a história, mas daria espaço para que o leitor conhecesse melhor a protagonista e o contexto em que está inserida.

Segundo, o leitor pouco se envolve com a trama e a protagonista, pois não tem tempo para isso. Em poucas frases, o leitor é jogado de cena em cena, sem que possa degustar da história dando seus primeiros passos.

Terceiro, o ritmo acelerado e entrecortado não conduz a emoção do leitor, mantendo-o sempre distante, atento apenas à história que está sendo contada para ele.

Por exemplo, Bruna cria uma Pista/Recompensa no primeiro capítulo. Na primeira cena do livro, ela insere um personagem misterioso e importante para a história no pesadelo de Liz (Pista), para colocá-lo na trama no desfecho do capítulo (Recompensa). Mas tudo é tão rápido, que não gera surpresa no leitor. Nós não havíamos esquecido ainda do tal personagem misterioso, do sonho, para ser pego de surpresa com seu aparecimento inusitado.

Lendo Reflexo – O Outro Lado Do Espelho, tive o tempo todo a impressão de estar escutando uma história contada por um pai ou por uma mãe para seu filho na cama, logo antes dele dormir, que está com pressa para voltar para seus afazeres de casa. Um conto de dormir, em que a pessoa reduz a história a algumas poucas situações mais relevantes para logo oferecer ao ouvinte um desfecho satisfatório.

E, o mais interessante, é que não estou criticando a escrita de Bruna. Pelo contrário, ela já tem um texto muito interessante. Gosto, particularmente, de seus diálogos. São fluídos, muito naturais, permeados por pequenas informações que inserem textura à cena.

Mas não me apegarei aos trechos do livro porque Bruna me pediu um feedback sincero do livro pois pretende reescrevê-lo. E acho que esta é a questão basal a ser resolvida. Algo que afeta todos os elementos da história, e é muito comum aqui na plataforma. Como disse, recebi muitos textos dessa forma.

Bruna, aconselho a buscar romances com temas parecidos com o seu, com uma estrutura que você goste, para que veja como eles constroem a narrativa. Um exercício interessante é analisar todas as cenas importantes da história, anotar o que a cena em si quer passar para o leitor, e ver como o escritor as desenvolve, as une em seu quebra cabeça.

Aproveito também para sugerir um exercício a todos. Algo que pretendo colocar mais aqui nesse projeto e que usarei no nosso futuro grupo no WhatsApp.

Quem topa ler os primeiros capítulos do livro "Reflexos – O Outro Lado Do Espelho" e deixar comentários lá, ou aqui mesmo, que ajudem a Bruna? Peço que destaquem todos os pontos positivos e que sugiram os que precisam ser trabalhados.

Bruna, tenho certeza de que você se surpreenderá com a evolução que seu livro terá ao ser reescrito. Seu talento precisa só de um fio condutor. ;)

Então, topam esse desafio? Vamos mantê-lo ao longo das outras resenhas?    

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Espero que tenham gostado da resenha e que ela tenha sido util, principalmente para a Bruna.

Agradeço todas as mensagens de fim de ano. Espero que vocês tenham tido um final e um início de ano maravilhosos. Que tenhamos um 2019 com alguma paz e muitas realizações. E muita escrita e leitura... rs

Amigos, eu irei criar o grupo no Whatssapp sim. Sei que estou enrolando, mas é que logo tirarei férias e não queria deixar o grupo de lado logo em seu início. Fiquei longo do Wattpad esses dias por conta do recesso.

Eu sei, eu sou enrolado. Sou mesmo e meio caótico tb (rs). Quando fico longe do pc não consigo responder as mensagens daqui e isso é terrível. Peço perdão por todos os comentários que ainda não respondi. Farei hoje ainda. Acho que minha idade ajuda a ter dificuldades com o celular. Não gosto muito dele... rs 

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