"Os Quatro Frios Ventos de Inverno"| Bia R. D Ramos

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Antes de qualquer coisa, peço desculpas à Bia por pegar um pouquinho no pé dela

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Antes de qualquer coisa, peço desculpas à Bia por pegar um pouquinho no pé dela. Provavelmente farei por recalque (rs). Eu, na idade dela, não escrevia nem metade do que ela escreve, então, não soube lidar com minha vaidade de escritor.

Brincadeiras e dores de cotovelo à parte, serei um pouco chato porque acho que faltam apenas detalhes para que a Bia atinja um patamar ainda mais alto como escritora. E tentarei nessa resenha trazer o ponto que acho primordial para isso.

Uma descoberta que foi muito importante para meu crescimento como escritor.

Mas vamos por partes. Antes, os devidos elogios.

A criatividade da Bia transborda pela sua história. Não só na concepção do seu mundo de fantasia, dando a ele uma estrutura clara e muito interessante, mas principalmente pela forma como ela sintetiza ótimas ideias em poucas palavras.

Veja que trecho poderoso.

Por alguns segundos ficou em silêncio, e se não fosse pela respiração pesada de Giordanna, Hadassa poderia fechar os olhos e jurar que estava sozinha. Ou então ela poderia mantê-los abertos, e sentir a mesma coisa.

Em apenas um pequeno parágrafo, a escritora estabeleceu a solidão profunda em que a protagonista se encontra. Sem precisar apelar para explicações repetitivas e "ilustrativas". Suas palavras criam uma imagem intensa para o leitor, que faz com que ele se compadeça da dor de Hadassa.

E que tal esse?

Olhando para sua cidade, ninguém diria que ela era de lá. Os moradores do Lago Congelado eram filhos perfeitos da neve. Hadassa era filha de quem? Neve não tem cor de avelã.

Deixe eu contextualizar para que vocês possam entender. Hadassa aparentemente nasceu num continente sem que possuísse nenhuma das características comuns àquela região. E, no mundo da Bia, a diferença é razão suficiente para uma execução.

Nada muito diferente do que acontece no nosso mundo, não é mesmo? Triste, mas é a verdade.

Então, continuando, Hadassa nasceu com o tom de pele castanho, cor de avelã, numa comunidade onde a brancura imperava. E, com essa simples comparação com uma fruta, conseguimos não só visualizar a tal característica física da personagem, como, principalmente, compreender sua grande frustração.

A avelã virou um símbolo para o sofrimento de Hadassa. Um elemento que pode ser explorado futuramente no livro.

Criar símbolos que representam uma característica emocional de um personagem é uma forma habilidosa de torná-lo mais marcante para o leitor.

Em "A Origem", filme de Christopher Nolan, o pião que o protagonista carrega de um lado para o outro, não só é o "totem" que o faz escapar dos seus sonhos, como também é um símbolo para sua psiquê conturbada, aprisionada num ciclo interminável de culpa e autoflagelação.

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