"Elliot" | Beatriz Souza

212 43 219
                                    

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Não tenho ideia de como começar essa história. Talvez com uma apresentação, é assim que as coisas geralmente começam. Olá, meu nome é Elliot, e tenho... quantos anos eu tenho? Preciso perguntar para alguém, quando alguém vier aqui.

Dos muitos livros que li no Wattpad, esta é uma das introduções que mais gostei.

Em "Cavaleira de Dragões", de L. A. Dias, eu falei sobre a importância de se começar uma história com impacto, fosse ele alcançado pela ação ou pela curiosidade. Beatriz opta por gerar curiosidade no leitor e a frase "Preciso perguntar para alguém, quando alguém vier aqui." consegue gerar tantas perguntas no leitor que ele se vê obrigado a continuar o livro.

Beatriz não força um mistério qualquer no primeiro parágrafo apenas para agarrar seus leitores. Ela escolhe com muito cuidado os ganchos que melhor representam seu protagonista. Elliot sofre de uma "doença" que o obriga a ficar trancafiado em seu próprio quarto, e sua dúvida em relação a idade é uma forma maravilhosa de revelar ao leitor sua condição solitária e distante.

Por que contar os anos se eles serão sempre vazios?

Perceba como "quando alguém vier aqui" torna profundo e claro o isolamento de Elliot. Com poucas frases, nós conseguimos traçar um perfil para Elliot e especulamos sobre sua condição, ainda que não saibamos absolutamente nada de concreto sobre o protagonista. Maravilhoso, Beatriz.

Isso tudo realmente me cansa, essa situação, fico com raiva, e quando me canso da janela, principalmente dos livros, eu deito na cama e vou olhar para a parede, à espera de algo acontecer, à espera do nada acontecer, porque aqui nada nunca acontece, e parece que nem vai acontecer.

Eu adoro esse parágrafo. Há uma repetição nas palavras, na estrutura, que ecoa por nossos pensamentos. Um eco que desenha por meio de uma melodia melancólica a vida tediosa de Elliot. Esta é uma bela forma de usar a narrativa para se comunicar com o leitor, para se contar a história.

Ao invés de descrever meu quarto, que não merece ser descrito, vou descrever o que está além dele, o que consigo ver através de minha janela, lá fora, onde as coisas merecem ser descritas.

Como eu já repeti milhões de vezes (juro que um dia eu paro com isso... rs), é normal que os escritores amadores fujam da responsabilidade de descrever os cenários e os personagens. E quando o fazem, não o fazem em todas as suas camadas, lançando descrições duras que só servem para traçar uma imagem superficial na mente do leitor.

Aqui, eu farei um adendo. Muitos escritores dizem preferir descrições sucintas e genéricas para que o leitor tenha liberdade para imaginá-las como preferir. Não se enganem. Eu, como a grande maioria dos escritores, tenho também dificuldade em descrever e usar a descrição além do óbvio. E durante muito tempo usei dessa mesma "desculpa" para não me obrigar a descrever os cenários e os personagens. Descrever vai muito além de simplesmente oferecer ao leitor características de um personagem ou de um lugar. É uma maneira de construir o clima do livro, de mostrar muitas vezes a forma como o protagonista enxerga o mundo que o rodeia. É uma ótima maneira de se contar uma história pelas entrelinhas, de conduzir a imaginação do leitor para zona emocionais mais condizentes com a história. Então, eu aconselho, não fuja dessa ferramenta tão importante para um romance. Se debruce nessa tarefa, leia muitos exemplos bons, e pratique até que a descrição se torne um pilar importante da sua história e não um apêndice pequeno e descartável.

1001 Resenhas [Fechado]Onde histórias criam vida. Descubra agora