Você já percebeu a quantidade de protagonistas que são jovens órfãos? Sophia de "Como Ser Uma Borralheira" é. Muitos são e você entende o motivo?
São dois, os principais: empatia e o Arco Dramático.
O que faz um leitor se envolver com o protagonista, antes de mais nada, é a empatia. Empatia é a capacidade que temos de nos projetar em alguém. E para que consigamos nos projetar num personagem, precisamos, antes, nos identificar com ele. É importante que nele existam características comuns a nós para que uma relação seja estabelecida.
Essas características podem ser universais, como um personagem que sofre de câncer. Você não precisa ter sofrido da doença para se compadecer da dor, para entender o sofrimento que é superá-la. Ou podem ser particulares, como um protagonista que sofre por ser tímido. Você pode até imaginar o quão ruim é estar acorrentado à timidez, mas só a entenderá de verdade caso a tenha também.
Perceba que todos os exemplos que eu usei são questões que geram sofrimento de alguma forma. Pois é o sofrimento a forma mais basal de se unir pessoas, de se humanizar algo ou alguém e de gerar empatia.
Daí a escolha por um protagonista órfão. Talvez a dor mais cruel que uma criança possa carregar. Como não ter empatia por um protagonista assim?
Harry Potter que o diga.
O segundo ponto é o Arco Dramático.
Se a construção de um livro nada mais é do que o amadurecimento de um personagem, e esse amadurecimento é um processo interno, difícil e pessoal, por que não dificultá-lo mais um pouco? As coisas nunca são fáceis para os protagonistas.
Caso o protagonista tivesse pais ou qualquer familiar generoso e compreensivo por perto, ele teria alguém para se debruçar, para dividir suas angústias e teria seu processo de crescimento "facilitado". Mas num romance, numa história de ficção, queremos que nosso protagonista seja a mais forte e determinada das pessoas. Alguém que tem a capacidade de superar suas mazelas sozinho.
Além do mais, o protagonista estando sozinho, abre-se a possibilidade de se usar outros personagens para ocupar temporariamente alguns espaços importantes. Daí surge o mentor, que participará desse amadurecimento em seu início, ou mesmo um aliado que dividirá alguns percalços durante a jornada. Mas SEMPRE no final do percurso, no desafio mais perigoso, nosso protagonista estará sozinho, pois o amadurecimento final é dele e apenas dele.
Sophia, a protagonista de "Como Ser Uma Borralheira", é órfã e vive numa casa onde é odiada por quase todos. Como o próprio título do livro sugere, uma gata borralheira moderna.
O interessante é que Sophia não só gera empatia por conta de todos os motivos acima, mas também simpatia, por sua personalidade forte, por seu humor afiado e seu coração genuíno. E empatia aliada à simpatia é sucesso garantido (rs).
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1001 Resenhas [Fechado]
Random"1001 Resenhas" é um projeto em que ofereço resenhas a todos os escritores que queiram uma crítica sincera de seus livros. Servirá também, principalmente depois do crescimento do projeto, para revelar ótimas obras que possuam poucas leituras. As re...