"Por Trás dos Ponteiros" | Babi E. Gross

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Na resenha de A.M.A.R, de Henggo, eu falei sobre um livro ser um quebra-cabeça, em que o escritor apresenta apenas as peças necessárias para que o leitor complemente o jogo.

Claro, esse quebra-cabeça muda de leitor para leitor, já que o escritor não tem como prever todas as peças que serão usadas por eles. Mas o escritor pode sim conhecer todas as suas próprias peças. E será por conta desse profundo conhecimento que o autor poderá selecionar apenas as melhores peças para seu livro.

E por que eu estou falando tudo isso?

Porque o livro de Babi, "Por Trás dos Ponteiros", foi o melhor exemplo que eu já encontrei sobre essa questão do quebra-cabeça.

Para o bem e para o mal.

Mas antes de falar sobre isso, preciso destacar alguns pontos muito interessantes a respeito da escrita de Babi.

E o principal deles é a capacidade incrível da escritora de se comunicar por meio da simplicidade. E não confundam simplicidade com simplório. A simplicidade aqui vem do talento e não da preguiça.

Babi sabe dosar os detalhes para incrementar suas cenas, seus personagens, com realidade.

Vejam essa linha de diálogo.

– Obrigado – diz ríspido. Pega os papéis com tanta insatisfação que o barulho provocado pelo ato faz com que todas as pessoas ao nosso redor olhem para nós. Observo Marcus se afastar e solto o ar pela boca que eu nem sabia que estava preso.

Não há uma simplicidade poderosa na forma como a escritora usa dos gestos dos personagens, do ambiente, para trazer realidade e força à cena?

Babi tempera todos os diálogos com pequenas ações dos personagens, meros detalhes, que fazem com que eles transbordem de veracidade, de singularidade.

– dobro os lábios ao terminar de falar.

– chacoalho a cabeça e resolvo sair da cama.

– pergunto, sem intenção de obter uma resposta com a voz ofegante.

Como se a escritora tivesse percebido que poderia desenvolver seus personagens, explorá-los, por meio de seus gestos também, não só por diálogos e ações grandiosas. Que esta era uma forma de criar e usar uma nova camada de textura em seu livro.

E, interessante, é que essa força de síntese está por toda a narrativa de Babi.

Certa vez vi a Wlange, do Canal Ficçomos (que aliás é muito bom!), dizer que considera o John Green (autor de "A Culpa é das Estrelas", "Cidades de Papel", etc) um ótimo escritor porque, dentre outras coisas, ele tem um texto altamente compartilhável por suas frases funcionarem isoladamente e por gerarem muita identificação com o leitor. E eu digo o mesmo do texto da Babi. Muitas frases dela podem ser tiradas do contexto que ainda assim funcionarão sozinhas como um provérbio, uma reflexão em si.

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