Conselho da Cália

1K 90 9
                                    


As decisões que precisam ser tomadas com relação ao modo de reinar Artena e Montemor eram muitas e complexas, principalmente no que dizia respeito ao primeiro reino, já que Afonso tinha conhecimentos limitados sobre o funcionamento de Artena. Rei Augusto era um monarca extremamente centralista, confiava apenas em um número muito restrito de pessoas, ele e Afonso compartilhavam o traço de estarem sempre atuantes em cada decisão, mas o Rei de Montemor preferia delegar determinadas funções. Sendo assim, havia muito sobre Artena que ele e Catarina estavam descobrindo na medida que as coisas se faziam necessárias, como um reino de grande receita e grandes recursos, as finanças envolviam muitos acordos, negócios com praticamente todos os outros reinos da Cália, desde a venda de recursos naturais como água, até mesmo ao fornecimento de alimentação base. Além disso, para surpresa de Afonso, reinos que pareciam muito bem, deviam pequenas fortunas a Artena. Agora Afonso entendia melhor os receios dos outros reinos quanto à união de Artena e Montemor, eles tinham agora um domínio bélico e financeiro sem igual, e nas mãos da pessoa errada esse poder poderia estabelecer um regime de tirania.

-Minha sugestão é um plano de manutenção dos empréstimos com menores taxas de juros, mas um plano que permita que os reinos comecem a saldar a dívida, e não apenas a rolagem dos juros. - Afirmou Afonso. Ele e Catarina estavam dentro da carruagem, viajando para se reunir com o conselho da Cália.

-E por que razão deveríamos ser benevolentes com os que nos devem? Eles concordaram com os termos ao firmarem tais empréstimos. - Ela disse encarando o marido.

-Porque não precisamos, Catarina. - Afonso pontuou. Estavam sentados frente a frente, os joelhos se tocando levemente. Afonso abriu rapidamente a cortina e viu alguns homens da tropa, estavam viajando com mais de cem soldados, toda precaução parecia pouca naquele contexto e ele estava inquieto, não gostava da ideia de viajar com Catarina, ambos os monarcas expostos deixava dois grandes reinos em potencial instabilidade, mas a rainha de Artena havia se negado a ficar, e Afonso não queria agir com Catarina da mesma forma que o Rei Augusto, não se sentia nesse direito.

-Não concordo. Perdoar dívidas não vai nos ajudar em nada. Esse dinheiro poderia ser realocado para Montemor que ainda tem dívidas e precisa de diversos investimentos, ou para os planos que tenho para as defesas de Artena - Catarina pontuou encarando o marido. -Não ganhamos nada com esse perdão.

-Ganhamos paz. É uma estratégia a longo prazo. - Afonso insistiu. - Não vamos decidir isso dessa forma, precisamos do conselho.

-É claro, isso é formidável. A maioria daqueles homens vão apoiar a sua ideia, mesmo que eu esteja certa, eles só nunca vão concordar comigo.

-Catarina... - Afonso respirou fundo antes de continuar. Não achava que ela estava certa, sabia que ela tinha um ponto e que seu posicionamento era muito benevolente em comparação ao da esposa, mas acreditava que a renegociação das dívidas seria uma forma de colocar todos aqueles reinos ao lado deles, isolando Otávio. - Precisamos de bases aliadas, se nos apresentarmos como uma ameaça, é assim que todos esses reinos irão nos ver.

-Você está certo, mas tenho certeza de que existe outra forma de fazer alianças, formas que não envolvam perdoar dívidas. - Ela afirmou abrindo o livro que estava em seu colo, aquele era o jeito de Catarina dizer que não estava mais interessada em conversar e Afonso não pretendia insistir, ele sabia que teriam que acatar a decisão do conselho, nisso ela tinha razão, e eles muito provavelmente não a apoiariam, o que ele tinha que decidir era como ele mesmo iria se posicionar, afinal de contas, não era apenas o rei consorte de Artena, era também o rei de Montemor.

Afonso então pediu para que parassem a carruagem, o que fez com que a esposa tirasse os olhos do livro para encará-lo.

-Alguma coisa errada? - Ela perguntou. Catarina tinha um tom tempestuosa em sua voz, algo como uma tempestade controlada. Afonso gostava daquilo, era a materialização do esforço da esposa em se conter.

Uma união políticaOnde histórias criam vida. Descubra agora