-Está na hora de voltar para Montemor. - Cássio disse caminhando ao lado de Afonso. Ele sabia disso, sabia que precisavam voltar, mas era complicado determinar a dinâmica com dois reinos, dois governantes casados. Afinal de contas, a distância não permitia que eles ficassem simplesmente se deslocando com facilidade entre os reinos, e ele não gostava da ideia de deixar Catarina sozinha, não com a ameaça de Otávio ainda pairando sobre eles. Além disso, ele não estava convencido de que o comportamento hostil que mantiveram diante do conselho viria sem custo.
Afonso olhou ao redor e contemplou Artena, rico em recursos naturais, o reino tinha um clima maravilhoso, mas uma área territorial muito menor que a de Montemor, então era mais sábio que a base se estabelecesse no menor reino, mas as coisas iam bem em Artena, e ele e Catarina tinham tomado em conjunto a decisão de reinar de Montemor, pensando principalmente em como o reino precisava mais da atenção deles.
-Vamos aprontar tudo para amanhã. - Ele afirmou. -Me deixe apenas conversar com Catarina.
-Parecem mais próximos. - Cássio pontuou. A observação fez Afonso considerar a veracidade da mesma. Gostava de Catarina, tinha um grande afeto por ela, um sentido de proteção. O modo como agiram no conselho da Cália havia servido para que eles estivessem mais unidos, e Afonso pretendia manter essa unidade, ela era fundamental para os reinos, para toda a Cália.
-Ela é minha esposa. - Afonso disse. Estava contando aquilo mais a si mesmo, como uma desculpa, do que para o amigo e conselheiro. -Além disso, ela precisa de mim nesse momento.
-Vossa majestade não pode se culpar pelo que aconteceu com o Rei Augusto, nem pode deixar que esse sentimento de culpa guie suas ações. - Cássio pontuou.
Cássio era o melhor amigo de Afonso desde criança, esteve com ele nos melhores e piores momentos de sua vida, aprenderam a lutar juntos, treinavam por horas, conversavam sobre como seria quando Afonso fosse o rei, saiam juntos para beber quando chegaram nessa idade, ele estava lá quando os pais de Afonso morreram, estava lá quando a avó do rei faleceu. Cássio estava sempre por perto, o conhecia como ninguém, era capaz de enxergar as motivações por trás de suas ações, e era por isso que sua escolha como braço direito não foi aleatória. E o amigo tinha razão, ele estava mesmo se sentido culpado, culpado pela morte do sogro, culpado por ter deixado a esposa sozinha, com o senso de orgulho ferido por não tê-la defendido, culpado por, vez ou outra, ainda pensar em Amália. Ele sentia que precisava se redimir, mas sabia que não podia deixar que esse processo custasse ao povo, ao reino.
-Não vai mesmo assumir o controle de Artena? - Cássio perguntou. -Era a vontade do Rei Augusto.
-Não. Catarina é a herdeira do trono. Ficarei como consorte. É o papel que me cabe. - Ele afirmou. -Ter me casado com ela não me dá o direito de tomar seu trono.
-Bem, segundo a lei...
-Isso não importa. - Afonso afirmou. -Decidimos que vamos fazer isso juntos, e vou apoiá-la.
-E se Rei Augusto estivesse certo o tempo todo? Não estou dizendo que desejo isso, mas é preciso ponderar tais cenários.
-Eu sei. Você está certo, mas vamos lidar com isso apenas se acontecer. No momento, eu quero cumprir o acordo que fiz com minha esposa. Não posso oferecer fé e descrença ao mesmo tempo, isso é como rezar tanto para Deus quanto para o Diabo.
Cássio deu um sorriso, colocou a mão de leve no ombro do amigo e assentiu positivamente, mas Afonso sabia que havia alguma outra questão pendente, ele também conhecia o amigo, entendia o modo como pensava.
-Um herdeiro seria uma forma de estabelecer mais garantias. - Cássio pontuou. -Não só para as ameaças externas, mas para a relação com a rainha.
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Uma união política
FanfictionNada pode ser construído sem uma boa base e se manter de pé. Esse era um dos ensinamentos de seu pai, Afonso lembrava todos os dias do modo como o Rei se esforçava para ser firme e criar um sucessor justo e que pensasse no povo. Acalentava sua mente...