Epílogo

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Tómas correu pelo salão em direção ao tio, Afonso olhou para o menino pensando em como parecia fazer tão pouco tempo desde que o garoto dera seus primeiros passos, agora já ousava correr. Atrás dele entrou a ama pedindo desculpas pela presença do garoto entre o rei e seus conselheiros, ela fez uma reverência e Afonso fez questão de esclarecer que não havia problema algum. Na verdade, depois da manhã que teve, ele estava satisfeito em ver o sobrinho. Sem saber, no momento em que abriu mão do filho, Lucrécia provavelmente salvou a sanidade do rei de Montemor. Afonso não acreditava que teria conseguido seguir em frente nesses quase três anos se não fosse pela existência do sobrinho.

Ele pegou o menino no colo e disse que a mulher podia se retirar. Tomás se entreteve com uma pena que estava sobre a mesa e Afonso fez sinal para que Cássio prosseguisse, ele estava repassando um relatório sobre a situação de Artena. Havia murmúrios sobre uma insatisfação entre os súditos atenienses.

— E existem boatos, majestade. - Cássio afirma.

— Que tipo de boatos.

— Não vai gostar de ouvir isso, mas parte da insatisfação é devido ao.... Cássio se interrompe e Afonso sabe que o que virá a seguir é sobre Catarina. Sua esposa é a única temática que faz o amigo ter papas na língua ou pisar em ovos — ao desaparecimento da rainha, algumas pessoas acreditam que houve um plano contra a rainha, um plano para que Montemor dominasse os dois reinos.

A ideia de encontrar Catarina havia se tornado um sonho, por meses expedições foram realizadas, primeiro dentro de toda a Cália, depois, além dela, mas não havia um só rastro do paradeiro da rainha. Numa das últimas reuniões do conselho da Cália um dos reis até mesmo chegou a dizer que era hora de declarar Catarina como morta, mas Afonso só acreditaria nessa hipótese se um corpo lhe fora apresentado e isso, ao mesmo tempo, era a coisa que ele mais temia. Ele costumava acordar a noite com pesadelos nos quais alguém encontrava Catarina morta ou então com ela chamando seu nome e ele sendo incapaz de encontrar a amada. Acordado, ele costumava passar horas remoendo a decisão de deixá-la sozinha naquele dia, ela estava abalada, tinha passado por todo o trauma de ser prisioneira de Felipe e Otávio, tinha perdido o bebê, ela estava assustada, ele tinha que ter ficado lá, ao lado dela, mas optou voltar e isso lhe custou mais do que podia imaginar. Tudo que achou de Catarina, em todo o tempo de procura, foi uma coroa. Não havia pistas de quem tinha vendido a joia.

— Isso é um absurdo - Saulo diz. Ele agora é o comandante da guarda de Montemor. Afonso acreditava que ninguém poderia ser tão eficaz nesse cargo quanto Selena, mas ela agora era uma rainha, uma aliada, e tinha seu próprio povo, além de um menino que nascera há poucos meses, para cuidar. Saulo era uma opção eficiente e leal, e Afonso era grato por essa lealdade. Saulo tinha passado por dificuldades nos primeiros meses, os soldados achavam que ele estava ali por ser amante do conselheiro real, mas Afonso fez questão de deixar claro que os méritos de Saulo eram pela bravura com a qual se arriscou para salvar Catarina, ele quase perdeu a vida no dia em que Catarina foi resgatada e Afonso nunca vai esquecer disso. — Se quisesse tomar o controle de Artena não teria feito algo drástico como retirar a independência do reino e transformar tudo aquilo em terras de Montemor?

— Comandante, - Cássio diz olhando para o marido. — Por mais que aprecie sua energia na defesa da honra do rei, o que precisamos é de uma forma de mudar essa imagem.

— O rei deveria ir mais vezes a Artena - Saulo afirma.

Desde que Catarina desapareceu Afonso tinha evitado Artena ao máximo, as poucas visitas foram breves. O lugar faz com que ele pense na esposa o tempo todo, ela está presente em cada detalhe daquele castelo, seu antigo quarto cheira como ela, há tanto de Catarina ali que ele não conseguia pensar direito enquanto estava em Artena. Tudo que queria era gritar de dor, de saudade, tudo que queria era que ela voltasse ou que ao menos dessa notícias, ele poderia ficar bem se ao menos soubesse se ela está bem.

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