Consequências, parte 1

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Vossas Altezas estão sendo convocados para reunião de extrema importância com relação a manutenção da paz e segurança em todo o reino. Esse trecho da carta recebida do conselho da Cália não saia da cabeça de Catarina. Ela estava preocupada com as possíveis reverberações daquilo, principalmente porque não podia deixar de imaginar que talvez ela fosse a razão pela qual tal carta estava sendo enviada. Uma sensação de enjoo passeava por seu estômago, se seus planos tivessem sido descobertos ela estaria em apuros não só com o conselho, mas com Afonso. Depois de tudo que eles passaram nos últimos meses, tudo que ela não precisava era de qualquer outra questão ficando entre eles. Então ela respirou fundo e pediu para que a carruagem fosse parada, tinha que contar a verdade ao marido. Afinal de contas, não havia cometido um crime. O tratado era claro, ela não tinha burlado nenhuma regra explícita, e a rainha de Artena tinha razões boas o suficiente para querer estar preparada.

-Aconteceu alguma coisa? - Catarina ouviu a voz de Afonso questionar quando percebeu a comitiva da rainha parando. Catarina abriu a cortina e pediu para que o marido entrasse, "precisava" falar com ele, foi enfática no verbo. Afonso desmontou o cavalo negro, entregou a espada ao cavalariço e então entrou na carruagem. - Está tudo bem? Eu não gosto da expressão em seu rosto...

-Afonso.. eu preciso contar algo, é importante e talvez seja a razão pela qual estamos sendo convocados no conselho.

-Está me assustando, Catarina. -Afonso disse.

-Talvez devêssemos descer, ir para algum lugar sem tanta gente ao redor. - Ela começou a falar mudando de ideia, talvez contar ali, cercada por soldados, comandantes e conselheiros fosse uma péssima ideia.

-As pessoas aí fora são nossos súditos mais leais. Estamos no meio do nada, não vamos nos afastar para conversar ou me conta aqui, na segurança dessa carruagem, ou me conta quando chegarmos no castelo.

-Tudo bem. - Ela disse apertando as mãos uma na outra. -Quando estávamos brigando, depois da descoberta sobre seu irmão e aquela plebeia, você me questionou sobre as cartas para Montemor. Parte delas são sobre determinadas medidas que eu não acho necessário discutir com você e julgo isso um direito meu, tenho certeza de que não conheço os pormenores de toda decisão que meu marido toma em Montemor. No entanto, há algo que eu tenho feito. Algo que você não vai gostar de saber.

Catarina esperou que o rei de Montemor dissesse algo, mas Afonso continuou calado, encarando-a.

-Quando prometemos ao conselho que não expandiriamos o exército de Montemor, eu passei a investir no exército de Artena.

-Eu sei disso.

-Não. Você sabe que compramos novas armas, que melhoramos o treinamento dos soldados com Selena, mas eu recrutei novos homens em segredo. Dei ordens para que pessoas de confiança fizesse isso. Os 8.000 homens de Artena agora são quase 15.000. E eu sei que isso parece muito, mas não é nada perto da força bélica de Montemor e menos ainda considerando a extensão territorial de Artena.

-Você sabe o que isso pode significar, Catarina? - Afonso perguntou irritado. - Não me responda com o óbvio, me deixe reformular: Você sabe o que nossos inimigos fariam com essa informação? Sabe o quanto podemos nos enfraquecer dentro do conselho da Cália por isso?

-Não quebramos nenhuma regra expressa. Eles cometeram o erro de tratar Artena e Montemor como um só reino, mas não é verdade. Somos reinos coligados, mas com regulações independentes. Montemor não pode passar dos cem mil soldados que possui, mas...

-Você acha que eles vão tomar decisões olhando de forma fria?

-É a lei!

-É ingenuidade, Catarina! A lei funciona na medida que queremos que ela funcione. Meu Deus, e eu sou idealista! Poder ainda é poder. Ele vale mais do que a palavra escrita e é subjetivo em várias formas. No fim das contas, a única coisa que vai importar para os outros reinos é o fato de que eu e você temos poder demais nas mãos, e isso nos torna uma ameaça. Mas que inferno, Catarina! Você deseja uma guerra, é isso?

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