Coroação

886 80 24
                                    


Era a segunda coroação de Catarina, a primeira, feita sem a devida pompa, no leito de morte do pai, tinha sido a mais importante, era daquela coroação que a história falaria. Ser coroada rainha consorte não tinha nenhuma importância história, e se não fosse pela decisão de Afonso de não seguir as orientações de Augusto, talvez até mesmo aquela coração não tivesse valor. Ela seria conhecida apenas como a filha de um rei, a esposa de outro e a mãe de um terceiro. Era assim que as rainhas consortes eram conhecidas, ninguém lembrava dos seus feitos. Ninguém lembrava de como a mãe de Catarina havia influenciado o reinado de Augusto, tomado decisões inteligentes que ajudaram Artena a prosperar enquanto os outros reinos decaíram.

Enquanto as criadas a banhavam, Catarina pensou na noite anterior, de como se sentiu quando Afonso lhe presenteou com um colar com o novo emblema para representar a união dos reinos, um emblema que combinava o leão de Montemor com a rosa branca de Artena. Catarina costumava odiar aquela rosa, parecia uma bandeira de paz, mas o pai havia explicado que era a flor predileta de sua mãe, a flor que mais crescia nos jardins de Artena.

-É lindo. -Amália disse encarando o colar com o emblema. -Vai ser uma bela coroação, não que eu tenha visto uma antes...

-Claro que não viu. - Lucíola retrucou, o que fez Catarina sorrir. Sua leal escudeira estava enciumada pela escolha de Amália, mas ela não tinha o que se preocupar, poucos conheciam Catarina tão bem quanto Lucíola.

-É mesmo bonito. -Lucrécia afirmou. Estava sentada de frente para a penteadeira de Catarina, que a queria por perto. -Meu marido, claro, nunca me deu nenhum presente.

-Princesa, se me permite dizer, ele lhe deu essa criança, não há presente melhor. -Amália diz.

-Claro que há. -Lucrécia retrucou. -Uma boa noite de sexo, por exemplo. Meu marido não dura nada, se prazer fosse um requisito para gerar herdeiros eu morreria sem nunca conhecer os possíveis horrores da maternidade.

Ao ouvir aquilo Catarina soltou uma risada. Ela ficou de pé e Lucíola se aproximou com uma toalha, ela então saiu da tina de banho e passaram a vesti-la.

-É claro que meu marido tem três ou quatro amantes, então talvez eu nem devesse reclamar.

-E você sabe delas? - Catarina perguntou intrigada, ela sabia das indiscrições de Rodolfo, mas achava que o cunhado tinha a decência de tentar enganar a esposa.

-Todos devem saber. É comum, não é? Os homens, mesmo os mais pobres, sempre podem fazer o que bem entendem. É claro que sendo um príncipe Rodolfo acredita que tem o direito de deitar-se com quem bem entender, e nem mesmo tenta ser discreto.

-Pode até ser comum, mas você não deveria aceitar. Se Afonso... - ela mal conseguia imaginar.

Antes que Catarina pudesse dizer mais alguma coisa alguém bateu na porta, uma das servas caminhou para atender.

-Majestade, é um recado da comandante Selena, ela pediu para avisar que acaba de chegar no castelo e que está à sua disposição.

-Ótimo. - Catarina respondeu. Estava preocupada, precisava de Selena por perto. -Peça para que ela venha até aqui e participe do meu cortejo até a cerimônia de coração.

Quando o último botão do vestido foi finalmente fechado Catarina sentou-se para que Lucíola lhe penteava os cabelos. Depois de passar a escova por todo o comprimento dos cabelos, ela usou a fina rede de ouro para trançar os cabelos de Catarina. A coroa que usaria era de ouro e rubis, o rubis significam a virtude, um dos principais valores de Montemor. A rainha pensou em como o cunhado não tinha nada de virtuoso, traindo a esposa, tramando contra o irmão, e ainda assim, a semana inteira, ela não tinha conseguido nada que pudesse ajudá-la a desmascarar o príncipe de Montemor.

Uma união políticaOnde histórias criam vida. Descubra agora