Acusações, parte 1

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Catarina assistiu enquanto os soldados arrastavam Rodolfo pelo salão, seguidos pelo imponente andar de Afonso. Ela queria ter ido junto, mas rapidamente foi cercada por pessoas que pareciam ter algo muito indignado para dizer, mas que, como ela bem sabia, estavam pensando no quanto o príncipe de Montemor poderia ter razão. Embora sua imagem para o povo fosse de uma princesa, agora rainha, jovem e caridosa, a nobreza tinha outra impressão de Catarina, sempre teve, mesmo quando ela ainda era uma criança, o fato de que sua mãe tinha raízes políticas controversas e fortes opiniões era visto com um defeito genético, todos temiam o que Catarina poderia fazer quando estivesse no poder, o próprio pai parecia temer, e o documento deixado passando os direitos do trono a Afonso, davam aquela certeza. Se Afonso fosse mesmo manipulável como Rodolfo acusava, isso significa que os dois mais poderosos reinos da Cália estavam na mão de uma rainha instável e ardilosa. Ela odiava aquilo, odiava todas aquelas pessoas e, acima de tudo, odiava Rodolfo, mas não podia se dar ao luxo de deixar aquele ódio transparecer na festa de sua coroação, então ela teve que ficar ali e sorrir para aqueles aproveitadores.

-Eu sinto muito, meu marido claramente perdeu o controle. - Lucrécia disse ao se aproximar. Catarina olhou para a jovem princesa que estava com a mão no ventre de forma protetiva, embora não existisse nenhuma evidência física da gravidez ainda. Ela sentiu pena de Lucrécia, casada com um idiota que não a respeitava, que não respeitava ninguém.

-Não é culpa sua. - Ela disse forçando mais um sorriso. Havia forçado tantos desde a cena com o cunhado que sua cabeça estava começando a doer. -Não se preocupe. Pense apenas no seu filho.

-O príncipe Rodolfo sempre foi tempestivo, um pouco a mais de vinho e ele tende a passar do ponto. - Uma marquesa disse. Catarina encarou a mulher, não conhecia suficientemente bem a nobreza de Montemor, talvez aquela fosse uma parente de seu marido, ela não tinha certeza. Amália serviu uma taça de vinho para rainha, e ela aceitou, com um pouco mais de vinho, e alguma sorte, aquilo tudo não seria tão insuportável.

-Bem, não vamos deixar que isso atrapalhe a festa. Por favor, comam, dancem, aproveitem. - Catarina sorriu se afastando. Ela tinha que ficar no salão, mas não pretendia ficar mais tempo do que o necessário na companhia de nenhuma daquelas pessoas.

Depois de certo tempo, Catarina observou enquanto Selena cruzava o salão caminhando em sua direção, a expressão dura da comandante dava o sinal de que aquele era um "assunto oficial", a rainha tomou um gole de sua taça de vinho e esperou que ela se aproximasse.

-Majestade. - Selena começou, fazendo a devida reverência. -O Rei deseja vê-la na torre de observação.

-E o que ele espera que eu faça com todos esses convidados? - Catarina questionou.

-Cássio me informou que é de praxe que a realeza se recolha um pouco antes, e isso é mais que justificável depois da cena do príncipe Rodolfo.

-Claro. - Catarina disse aliviada por poder deixar o salão. Lucíola e Amália que estavam logo atrás dela se prepararam para acompanhá-la, mas Selena olhou para a rainha e disse que o príncipe queria falar apenas ela, e a comandante a acompanharia até a sala.

-O que aconteceu com Rodolfo? - Catarina perguntou assim que elas entraram no corredor, deixando o salão. Selena parecia séria.

-Preso. -Ela respondeu. Catarina ficou surpresa ao descobrir aquilo, ela gostava de saber que o cunhado não ficaria sem punição, mas não acho que Afonso o faria sem nenhuma exigência de reparação de sua parte.

-Aconteceu algo mais?

-Não, majestade.

-Selena, eu agradeceria se você largasse esse tom e os modos subservientes por alguns segundos, preciso que haja como minha amiga, uma das poucas que tenho aqui, aconteceu algo?

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