Uma união política

A esperança de um entendimento mútuo

Nas semanas seguintes ao casamento, Afonso começou a notar pequenas coisas sobre sua esposa, conhecer de fato sua personalidade. Mesmo passando pouco tempo juntos, ele aprendeu que Catarina era exigente com os criados e que, muitas vezes, pedia que algo fosse levado de volta durante o jantar; mas que era gentil com o povo nas ruas, tanto que em seu primeiro passeio oficial como rainha de Montemor - embora não coroada - ela distribuiu moedas para os mais miseráveis, pareceu tocada com a pobreza das pessoas, a crise hídrica do reino tinha consequências que se alastraram por diversos setores, espalhando uma pobreza sem igual no reino. Além disso, Catarina era curiosa, ela questionava tudo, queria saber mais sobre o funcionamento do reino, e muitas vezes fazia pontuações comparando Montemor com Artena, o que rendia calorosas discussões, conversas essas que Afonso se surpreendeu ao gostar. Cada novo fragmento de Catarina que ele conhecia ia se tornando um ponto a mais na complexidade da mulher com quem havia casado.

No geral, Afonso acreditava que a união estava indo conforme o esperado. Embora tivessem rotinas e compromissos diferentes, eles costumavam jantar juntos com os principais membros da corte, entre eles os conselheiros de Afonso, bem como Rodolfo e sua futura esposa, Lucrécia, que já estava no reino para a data do casamento que se aproximava. E embora Afonso e Catarina não dormissem na mesma cama - já que os aposentos do Rei e de sua esposa eram integrados, uma porta os unia e ao mesmo tempo os separava - Afonso ia até Catarina quase todas as noites, principalmente porque os membros de seu conselho o lembravam diariamente de como um herdeiro era necessário para selar uma união tão poderosa, mas ele se sentia mal quando os comentários eram feitos, pois, embora entendesse seu papel como rei, era estranho pensar em deitar-se com alguém para satisfazer uma obrigação. Ainda assim, esses pensamentos eram varridos de sua mente quando entrava no quarto no fim do dia e encontrava a porta de acesso ao aposento de sua esposa aberta, um sinal da recepção positiva de Catarina para a intimidade entre os dois, esse sinal ficava ainda mais claro quando o corpo dela reagia ao seu toque, quando ela gemia em seu ouvido. Ainda assim, todas as vezes, ele levantava no meio da madrugada e voltava para sua cama, com o intuito de deixá-la em paz.

Depois de algumas noites fora do castelo, em campanha pelos povoados espalhados por toda a extensão do reino - era a época de coletar impostos, inspecionar a situação dos campos - Afonso percebeu que sentia falta da esposa, e não só porque os súditos perguntavam pela princesa. Ele havia tomado a decisão de deixá-la em Montemor por segurança, sabia que levar Catarina poderia ser benéfico, mas havia insatisfação por toda parte, muitos dos lordes de Montemor estavam revoltados com a decisão de taxar os mais ricos para garantir a sobrevivência dos mais pobres naqueles tempos de crise, e Afonso temia uma revolta, uma luta armada, uma tentativa de golpe. Catarina era valiosa demais para estar no meio de tudo aquilo. É claro que ela não entendeu, parecia ter tomado a decisão de Afonso como uma ofensa pessoal, mas ele não voltou atrás. De qualquer forma, isso não significava que não tinha sentido falta dela. E foi justamente por Catarina que ele perguntou a Cássio quando chegou no castelo depois da viagem.

-A princesa passou a maior parte de tempo nos jardins, mas também foi até a cidade com a devida escolta, e foi muito bem recebida pelo povo. Acho que seus súditos rapidamente aprenderam a amá-la.

-Talvez estejam amando-a demais meu caro irmão. - Rodolfo disse surgindo na sala do trono.

-Ouvindo conversas meu irmão? - Afonso perguntou.

-Não. De forma alguma. Só vim avisar que é provável que precisemos aumentar a produção nas minas, temos novos pedidos. Esse casamento realmente nos salvou. Fiz o que me pediu e lidei com os negociantes que vieram nos últimos dias.

-Isso é bom. - Afonso afirmou. -Tudo bem com as obras?

- Como foi a coleta dos impostos? - Cássio quis saber.