Acusações, parte 2

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Semanas em Artena ajudando a treinar a pequena nova adição de soldados ao exército do reino, dois dias cavalgando para chegar em Montemor, tudo que Selena queria quando finalmente cruzou os portões era poder dormir em sua própria cama, principalmente considerando os terríveis sonhos que estava tendo frequentemente, pesadelos com guerra, destruição, mortes. Ela desmontou do cavalo, deixando o animal com o cavalariço disponível, e depois disso foi até o posto de comando avançado, onde conversou rapidamente com alguns dos homens sobre a estrutura para o evento. A coroação de uma rainha certamente merecia reforço na segurança e mesmo que ela estivesse passado semanas longe, ela ainda era a comandante do exército de Artena, ainda precisa saber qual a situação atual. Afinal de contas, os momentos de festa eram notoriamente considerados como pontos de vulnerabilidade por potenciais inimigos. Ela aproveitou e ordenou para que um dos mensageiros avisasse a rainha de sua chegada e de que ela estava a disposição.

Assim que deixou o posto ela avançou para a cozinha do castelo, depois de seu trabalho, o que mais lhe fazia falta naquele momento era Ulisses. Ela se encostou numa das pilastras da cozinha e observou enquanto ele dava ordens ao redor do local, o rosto levemente sujo de trigo, ou qualquer coisa do tipo, as mãos ocupadas, como sempre. Ela sentia falta daquelas mãos, mãos que pareciam ser mágicas, mas Selena conhecia magia, sabia que poderes sobrenaturais não podiam fazer algo tão bom quanto o talento do namorado. Magia sem vem com um preço e talvez por isso ela nunca tenha se interessado em descobrir mais sobre seus poderes, sabia usá-los, mas não tinha muito interesse no assunto. Tanto que não confiava em ninguém além de Ulisses, ele era o único que sabia o que Selena podia fazer, ele brincava sobre isso quando estavam sozinhos, falava sobre como a namorada poderia pegar algo do outro lado da sala sem mover um músculo, ou de poderes que Selena realmente não sabia se tinha, habilidades como a de ler mentes, ou transformar pessoas em pedra. Ulisses podia, porque embora a comandante fosse bastante cética e tivesse uma tendência natural a desconfiar de tudo e de todos, ele havia conseguido passar por todas as barreiras, ele a havia conhecido e escolhido ficar, diferente do pai que ela nunca conheceu, diferente de qualquer outra pessoa que já havia passado por sua vida a única coisa que ele a apresentou foi amor. E era por isso que ela estava feliz de ter sido chamada de volta antes do tempo, poder ver Ulisses depois de tantas semanas era simplesmente maravilhoso.

Quando finalmente a notou Ulisses deu um pulo, ele retirou o avental e foi até a namorada às pressas.

-Você não me avisou que estava voltando. - Ulisses pontuou abraçando-a. Ela se corrigiu mentalmente, o calor do corpo dele era mais confortável que o desejado encontro com sua cama, aquilo era o que ela realmente queria.

-Eu fiquei sabendo dois dias atrás, um carta chegaria aqui depois de mim, acredite. - Selena se justificou.

-Tenho certeza que sim. - Ulisses afirmou.

-Além disso, com tudo isso acontecendo aqui - ela fez menção ao local - eu não queria que ficasse distraído.

-Como se você não estivesse na minha cabeça a cada segundo do dia de qualquer forma. -Ulisses disse puxando-a para fora da cozinha, ela adorava o quanto ele era profissional, tinham isso em comum, era um dos poucos traços que naturalmente compartilhavam. Ele colocou os braços na cintura de Selena a beijou, era um beijo que parecia tentar compensar por toda a saudade acumulada. -Eu estou tão feliz que você está aqui, estava morrendo de saudade.

-Estava mesmo? - Selena perguntou sorrindo. Ulisses era a leveza que a vida dela precisava, o equilíbrio entre as batalhas, o descobrimento de seus poderes, o lugar de repouso.

-Tanto que eu pensei em largar tudo aqui e me mudar pra Artena. - Ulisses falou beijando-a novamente.

Aqueles beijos pareciam agora há anos de distância, enquanto caminhava pelo salão escoltando Rodolfo Selena só podia pensar em como trocaria aquele tipo de intriga e confusão doméstica entre a realeza pela calmaria do namorado, ou ainda por qualquer campo de batalha sangrento, ela não era boa em fazer sentido daquele tipo de coisa, ela era boa com o arco na mão, com a espada empunhada, com um alvo em mente.

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