Latrilha, parte 3

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Felipe sangrou por horas até que o médico da Latrilha saiu do aposento do príncipe e disse que não havia mais nada que pudesse ser feito. No fundo, Otávio sabia antes que o homem tivesse dado a notícia, mas não havia tempo para luto, estava no meio de uma guerra, já havia perdido muito antes, estava acostumado com a morte, muitas vezes sentiu prazer em causá-la com suas próprias mãos e era assim que pretendia vingar a morte do filho, do único herdeiro que lhe restava vivo, faria questão de matar Afonso na frente de Catarina, faria ela assistir. E depois que o Rei de Montemor estivesse morte, tudo seria dele, Montemor, Artena, Latrilha, o controle de tudo. Teria Catarina ao seu lado de qualquer forma, precisava dela, e seria através dela que teria outro herdeiro, a mulher que matou seu filho tinha a obrigação de dar-lhe outro.

Suas defesas eram boas, trabalhavam a moral de Afonso. Ele nunca passaria por cima dos pobres que estavam praticamente empilhados na frente do castelo, nem mesmo por Catarina ele faria aquilo, Otávio conhecia bem Crisélia, sabia que o neto compartilhava seus valores éticos e morais.

Otávio manteve as vestes sujas do sangue do filho no corpo e foi até Catarina, queria contar o que ela tinha feito. Deixar claro que teria sua vingança. A rainha de Artena e Montemor estava deitada no chão do quarto, o vestido rasgado, sujo de sangue em diversos pontos, a visão era patética. Otávio ordenou que ela fosse banhada e tivesse sua roupa trocada e então voltou para o quarto para encontrar Catarina deitada na cama, em vestes brancas com uma de mortalha virginal. Seus olhos estavam abertos, no entanto, mas não parecia esboçar medo e sim um cansaço.

-Felipe está morto. -Otávio contou - Mas não fique feliz, Catarina, a morte dele será sua sentença e você pagará por toda a vida, se antes eu pretendia ser misericordioso, agora pode esquecer. Eu vou destruir tudo que você ama, você vai sofrer tanto que vai me implorar pela morte, mas ainda assim eu vou te deixar viva e você vai viver até seu último dia sabendo que está viva porque eu quero e pra me servir.

Catarina não respondeu nada, foi uma das servas que estavam responsáveis por acompanhar a rainha que se manifestou, ela se aproximou de Otávio com cautela, ele podia sentir o medo exalando da plebeia e então, com uma reverência, disse que achava que a rainha precisava ver um médico, tomar algo para os nervos ou coisa do tipo, mas Otávio não deu importância, seja lá o que Catarina estivesse sentindo, ele queria que continuasse a sentir. Não lhe daria o privilégio de descansar. Em vez disso, ele demandou que ela foi banhada, vestida e levada até o salão real.

Quando Catarina apareceu, amparada pelas servas, ela parecia quase ela mesma de verdade, o sangue parecia ter voltado a fluir em suas veias.

-O exército do seu marido está avançando em nossa direção, Catarina. Assim que chegarem, você vai aparecer na sacada sorridente enquanto um mensageiro vai levar uma mensagem sua, dizendo que você está aqui por desejo próprio.

-Afonso não vai acreditar.

-Nem precisa... eu só quero que todos saibam que quando ele invadir, contra sua vontade, e matando o povo do meu reino, pessoas humildes que estão procurando proteção atrás dos nossos muros, todos vão achar que ele fez isso por nada. Pela traição de sua esposa.

-Você é doentio.

-Talvez, querida, mas eu não tenho mais nada a perder, tenho?

-Pare com isso agora, me deixe ir, libere minha serva e tudo vai ficar bem, Otávio. Não precisamos entrar em guerra.

-É fácil falar isso agora quando o corpo do meu filho está apodrecendo. O que você perdeu?

-O meu próprio filho. - Catarina respondeu. Otávio a encarou sem entender e então ela prosseguiu - Eu estava grávida quando cheguei aqui e quando Felipe me atacou eu...

-Olho por olho. E embora eu aprecie a poesia disso, não comecei essa guerra pra terminar com um cessar fogo pouco produtivo. Podemos negociar, eu quero as terra de Artena, Catarina, seus ancestrais tomaram aquelas terras dos meus ancestrais, seu pai me negou um direito quando não aceitou meu pedido de casamento, um pedido justo, sem uma boa justificativa.

-Você queria se casar com uma garota de onze anos de idade, Otávio.

-É assim que o nosso mundo funciona.

-Não para o meu pai, e certamente não pra mim. E agora eu estou casada com Afonso, a igreja não permite divórcios, apenas anulações em casos extremos, e mesmo assim eu nunca poderia casar outra vez sem ficar viú....

-Não se preocupe, eu vou providenciar isso. - Otávio respondeu sorrindo.

Horas depois, enquanto assistia o corpo do filho ser enrolado para a cerimônia de passagem. Otávio ouviu os sinos de alerta do castelo serem tocados. De imediato ele acreditou que o exército de Montemor estivesse finalmente chegado e cercado o castelo, mas quando o soldado entrou correndo no quarto ele descobriu que algo estava fora do controle, Catarina estava tentando fugir, vários dos soldados no caminho do quarto da rainha haviam sido mortos ou nocauteados. Otávio empunhou a espada e correu pelo castelo em direção ao ponto de interseção mais próximo do caminho para o quarto da rainha de Artena. Ele notou primeiro Catarina, que estava correndo com um arco na mão, atrás dela estava Afonso, a espada em punho, também correndo pelo corredor. Alguns guardas estavam atrás dos dois, mas o casal conseguiu sair do castelo pegando um caminho que Otávio conhecia bem, um atalho do acesso à cozinha. O rei da Latrilha foi na direção contrária e pegou um arco e flechas de alguns dos soldados que continuavam a correr, ele subiu as escadas e parou na janela e então esperou, aquela era era a visão perfeita para a única saída daquele caminho. Catarina passou primeiro, e em seguida, Afonso entrou no seu campo de visão, foi nesse momento que Otávio disparou. A flecha acertou as costas do rei de Montemor que caiu no chão de imediato. Um segundo disparo se juntou ao primeiro e depois mais outro. Finalmente ele tinha conseguido. Afonso não iria conseguir sobreviver àqueles ferimentos, ele se certificaria disso.



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Eu sei que vocês todxs querem me matar, não estou desistindo da história, nem desestimulada, só estou com um problema terrível de tempo mesmo. Tenho quase tudo escrito, mas preciso organizar, revisar, pensar nas reviravoltas da história, conferir se não estou esquecendo nada que aconteceu antes, e isso demanda tempo.

Volto em breve. Espero que não desistam da história.

bjs! 

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