A PRAIA VERMELHA

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Entrei no carro de Pedro um pouco congelada, desconfortável, querendo logo sair dali. Por que eu aceitei o convite dele? Por que eu estava indo ao nosso lugar especial agora?

— Me conte de você, da sua vida, eu soube que virou uma jornalista de sucesso — Pedro fazia a sua parte para "quebrar o gelo" enquanto dirigia.

— De sucesso talvez seja exagerar um pouco...

— Eu li o seu artigo, na verdade eu meio que imprimi e emoldurei ele, não me perguntei o porquê.

Ah, era lindo o ver corando, me sentia uma garotinha de escola pronta para beijá-lo na praia depois da aula de matemática.

— Obrigada, mas não foi nada demais.

— Como vai ser investigar esses assassinatos agora que está aqui no Brasil? Você vai ficar?

— Eu pretendo ficar por um tempo, mas não sei como agir com uma vítima tão perto de mim, eu só quero que descubram logo quem ele é, quero dar paz de espírito as pessoas que tem tanto medo dele, ou deles...

— Bom, agora vai ser algo extremamente pessoal para você então, se precisar da minha ajuda...

— Obrigada. Como tem sido a sua vida? — Eu estava fazendo bem o jogo da naturalidade, parecíamos dois amigos conversando, apesar de ainda estar paralisada na mesma posição no carro e sem olhar para ele diretamente.

— Eu estou bem, tomar conta da Mariana e trabalhar na produtora do meu pai tem tomado bastante o meu tempo.

— Quem diria que você se formaria em administração e iria trabalhar com seu pai, você sempre disse que não queria.

— Sim e odiava mesmo, mas papai trabalhou duro para que a produtora desse certo e eu acabei tomando gosto pela coisa. Nós estamos pensando em trazer algumas peças britânicas para cá, talvez você goste.

— E como é ser pai?

Por um segundo, Pedro ficou mudo, vermelho, mais ainda do que já era normalmente.

— É bom, bom demais na verdade, foi um desafio no começo, mas a mãe dela e eu temos uma boa relação de amizade, o marido dela também sempre me trata muito bem, isso facilita bastante.

— Ela é tão pequenininha, não deve entender muito o que se passa.

— É, ela não entende..., eu sinto falta todos os dias de algo que eu nunca tive, eu sinto falta de nós três, eu, você e a Lillá.

— Pedro, por favor, não fala disso...

Tarde demais, eu já estava chorando novamente e ele também. Meu coração já era um nó e a dor tomava o meu peito.

— Você pretende ter filhos com ele?

— Com quem? — Perguntei limpando os meus olhos.

— Com o seu namorado, marido, sei lá.

— Eu não estou mais com ele, eu vivia um relacionamento abusivo e não sabia, foi preciso o Hugo ir lá e abrir os meus olhos, como ele sempre faz...

— O que? Abusivo? Ele te maltratava, Cat? Porque se sim, eu vou lá e acabo com ele, eu juro que vou!

Era a primeira vez desde que vira o Pedro que eu sorria, olhando o rosto vermelho agora de raiva do rapaz que tanto amei.

— Não vá, eu já acabei com ele tudo que eu tinha.

— Por que você viveu com ele, Cat? Você não merece ser maltratada.

Dos teus lírios Onde histórias criam vida. Descubra agora