Capítulo Três

60 12 1
                                    



    O shopping como sempre estava lotado, era bom e reconfortante ouvir o som das escadas rolantes, das sacolas de compras, dos risos das pessoas... Fechei os olhos e inspirei aquele ar, era disso o que eu precisava. Era isso o que eu era. Nunca fui a defensora dos fracos e oprimidos, nem nunca tive vocação para ser. O que aconteceu hoje mais cedo só pode ter sido por causa do fuso horário.

Até agora não acredito nas coisas que fiz hoje no colégio. Depois de tantos anos sendo a garota mais popular, respeitada e temida do NYHS, eu humilhei minha turma para defender nada menos que uma nerd. Tudo bem que Mel foi um pouco além da conta. Mas, eu não deveria ter falado com ela daquele jeito na frente de todos.

Eu sei que Melanie e Sheilah falam mal de mim pelas costas todas as vezes que podem, e sei também que na primeira oportunidade elas me passariam para trás. Mas mesmo assim não deveria ter agido como agi.

E lá vou eu de novo sendo certa e prudente. Sacudi a cabeça e entrei em uma loja de sapatos. Passei o resto da tarde entrando de loja em loja, comprando tudo o que via pela frente. De bolsas a livros. Quase coloquei limite no meu cartão de crédito.

Estava sentada na praça de alimentação tomando um Milkshake quando meu celular tocou. Era minha mãe.

__Oi mãe.

__Onde você está?

Droga! Esqueci completamente que tinha combinado com ela que sairia para fazer compras.

__Nossa mãe estou no shopping. Foi mal, esqueci do nosso encontro.

__Eu não acredito que você foi fazer compras sem mim.

Ela tentou parecer chateada, mas a conhecia muito bem para saber quando ela estava de verdade.

__Vamos lá mãe, eu sei que você não está chateada.

__Você tem razão. Eu não estou, mas somente porque acabei de chegar do Spa indiano que acabou de ser inaugurado. Você precisa ver como é perfeito.

__Qualquer dia desse eu vou.

__Você vem para casa que horas? Seu pai vem para jantar hoje.

Olhei o relógio. Já eram seis da tarde. O tempo tinha passado e nem percebi.

__Já estou a caminho.

Desliguei o celular e levantei. Meus braços estavam cheios de sacolas de compras. Eu ainda não acredito que comprei tanta coisa. Comprei também uns presentes para dar as meninas. Elas com certeza me perdoariam. Qualquer um perdoaria recebendo uma

Louis Vilton como pedido de desculpa.

Saí do shopping e fui para o estacionamento. Estava vazio e silencioso. Apenas o barulho do meu salto agulha ecoava. Eu senti uma sensação estranha, como se tivesse alguém atrás de mim. Olhei para os lados, porém não vi nada. Mas a sensação estranha não me abandonou. Ajeitei as sacolas direito e comecei a andar mais rápido. Milhares de cenas de filmes de terror passavam em minha mente. Sempre alguém morria ou era sequestrado em um estacionamento deserto.

Segurei as chaves do carro com toda a força possível para que ela não caísse quando eu fosse ligá-lo. Acionei o alarme, abri a porta e me abaixei para colocar as compras na parte de trás do carro.

Foi exatamente nesse momento que uma brisa fria passou pelo meu pescoço e um som de algo se quebrando ecoou pelo estacionamento. Dei um gemido e olhei para trás, esperando ver algum louco com uma arma na mão. Mas não vi nada. O estacionamento estava vazio. Olhei novamente e apurei os ouvidos para ver se escutava algo, mas foi inútil. Um arrepio percorreu minha espinha quando olhei para uma das pilastras do estacionamento. Aparentemente não tinha nada ali, mas algo me dizia que tinha e que era muito perigoso.

Mestiça: Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora