Mestiça: Livro 01

Capítulo Onze

    Mãos geladas estavam em meu pescoço, mãos que tiravam a minha respiração. Mãos que me faziam suspirar ao mesmo tempo em que tentavam me matar.

Sentei na cama de um pulo. Minha respiração estava ofegante. Olhei para o relógio e marcava três da manhã. Eu havia pegado no sono e sonhado com as mãos que tentaram me matar no hospital.

Sacudi a cabeça, sentia-me estranha. Era como se não estivesse controlando o meu corpo. Senti minha mente nublada e meus olhos pesados.

"Leslie, Leslie, venha até mim."

Levantei e caminhei até a porta, alguém com uma voz doce e tentadora me chamava.

"Leslie, eu estou aqui."

Abri a porta do meu quarto e saí para o corredor. A porta do quarto de Estevan estava fechada. Pensei em chamar, mas a voz em minha cabeça disse que não era para fazer isso.

Eu sabia bem lá no fundo que não deveria estar indo a lugar algum, mas não tinha força alguma para resistir.

Desci as escadas e fui para a cozinha. Não fazia idéia para onde ia, mas parecia que o meu corpo sabia exatamente.

Abri a porta dos fundos e me dirigi para fora. Eu andava sem querer realmente andar, parecia em transe.

Caminhei até a porta da estufa de minha mãe e entrei.

__Olá?

"Aqui Leslie"

O homem mais lindo que eu já tinha visto saiu de trás de uma pilastra. Suas roupas pareciam de outra época e os cabelos negros penteados para trás. A luz da lua entrava pelo vidro do telhado e deixava seu rosto pálido mais lindo ainda. Ele andou lentamente em minha direção, até estar a milímetros de meu rosto.

Tentei ver a cor de seus olhos, mas estava escuro ali dentro, apenas a luz da lua nos iluminava.

"Você veio doce Leslie"

"Bonito vestido"

Seus lábios não se mexeram, mas eu sabia exatamente o que ele pensava.

__Sim. Você me chamou.

"É verdade, eu chamei."

Ele se aproximou mais, meu corpo automaticamente respondeu. Eu me sentia quente. Ele cheirou meu pescoço, meu coração pulou.

Eu queria estar ali, mas ao mesmo tempo uma parte de mim gritava para me afastar. Uma parte de mim dizia que se continuasse ali iria morrer.

"Você tem um cheiro delicioso"

Ele passou a língua pelo meu pescoço, eu gemi.

"Será que o gosto também é bom?"

Suas mãos me prenderam pela cintura e ele olhou em meus olhos.

"É o que irei saber."

Ao dizer aquelas palavras, seu rosto se modificou, seus olhos ficaram completamente brancos e apenas o ponto preto da pupila permaneceu. Ele abriu a boca e eu vi seus dentes caninos crescerem.

Foi aí que me dei conta do que acontecia. Aquele menino não era humano! Ele era algo, monstruoso e animalesco. A parte de mim que gritava para ir embora venceu e comecei a me debater para sair de seus braços.

"Para que a pressa?"

Foi inútil tentar gritar, estávamos muito longe da casa principal, e caso alguém me escutasse também morreria ali. A única coisa que me restou fazer foi desistir de gritar. Mas, não parei de tentar fugir, isso nunca.